Berna dança em ritmo de Brasil
Coreografias tradicionais e modernas da África, Brasil e Suíça são o ponto central do 17° Festival de Dança de Berna, que se iniciou ontem.
Um dos mais conhecidos grupos brasileiros de dança foi escolhido para abrir o evento: Quasar Cia. de Dança, que apresenta o espetáculo “Coreografia para Ouvir”.
Os seis dançarinos, três homens e três mulheres, se movimentam ao som das palavras rápidas de Selma do Coco. Não há música, apenas escuta-se no fundo a voz dessa conhecida compositora e puxadora de coco de roda de Pernambuco.
“Não há paralelismo entre o que se dança e a trilha sonora mas um diálogo entre as duas partes”, explica a ensaiadora Cláudia Daronch ao público suíço, que parecia espantado com a apresentação tão pouco folclórica do grupo goiano Quasar Cia de Dança.
Inspiração na TV
Inspirado no programa “Sons da rua”, exibido há alguns anos nas TVs educativas brasileiras, o coreógrafo e fundador do Quasar Henrique Rodovalho decidiu fazer das entrevistas realizadas com músicos de rua a trilha sonora do espetáculo “Coreografia para ouvir”.
Música não é o ponto forte da dança mas coloca no fundo sons de repentes, violas e pandeiros. Porém o importante são os relatos de pessoas que contam como vive e sobrevive o artista popular no maior país do continente sul-americano.
“No Brasil, poucas Companhias de Dança desenvolvem com a pertinência da Quasar, o trânsito entre a cultura erudita da dança e a da música popular brasileira. Poucos, como ela, se dedicam a construir um corpo que dance com as texturas da urbanidade dos nossos tempos. Por isso, essa companhia conseguiu ser singular numa época onde as modernidades têm produzido muitas pasteurizações. Profundamente comprometido com o Brasil que entende como uma rede de conexões culturalmente distintas a Quasar põe em cena um caldo saboroso onde as estéticas do circo, da mímica, da dança, vídeo se misturam. Estas misturas, sempre em fluxo contínuo, recebem o tempero do bom humor e da sagacidade”, escreve a crítica Helena Katz no jornal brasileiro Estado de São Paulo.
Quasar é considerada a terceira maior companhia de dança do Brasil é já tem uma vasta experiência na participação de festivais internacionais. A primeira viagem ao exterior ocorreu na Alemanha em 1996, através de uma apresentação no Festival de Teatro de Hamburgo. Não é por acaso, que o grupo, criado há quase vinte anos e composto por dançarinos do Rio de Janeiro, Goiânia e São Paulo, foi escolhido para abrir o 17º Festival de Dança de Berna.
Ritmos quentes para o verão
Os organizadores desse tradicional evento na capital suíça decidiram dedicar o festival aos ritmos do sul. “Nosso desejo não é levar a semana de dança para a África ou América do Sul, mas sim trazer o calor do sul para a Suíça”, explica Reto Clavadetscher.
O festival foi aberto na quarta-feira (9 de junho) e vai até o dia 19. Nesse período, dez diferentes grupos internacionais de danças estarão se apresentando na Dampfzentrale, uma antiga usina elétrica transformada em casa de espetáculos. “Serão produções africanas, brasileiras e suíças”, ressalta Clavadetscher.
Outra companhia de dança que participa do festival é o “Floating Outfit Project”. Liderados pelo coreógrafo sul-africano Boyzie Cekwana, seus dançarinos apresentam o espetáculo “Ja, Nee”, que fala sobre a disseminação da AIDS na África do Sul e protestam contra o machismo dominante nessa tradicional sociedade.
Além dessas duas atrações, participam também o Grupo de Rua de Niterói que, através da peça “Telesquat” coordenada pelo coreógrafo Bruno Beltrão, mostra no palco uma mistura de hip-hop, rap e breakdance.
Os grupos que participam do festival em Berna são convidados através de seleção. “Normalmente nós recebemos mais de mil candidaturas da cena internacional de dança, seja através de vídeos, internet ou cartas”, lembra Clavadetscher.
swissinfo, Alexander Thoele
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