
De “Os Papagaios Amarelos” à “Terra sem Mal”

O vídeo-docuntário Terra sem Mal, baseado no livro Os Papagaios Amarelos teve origem um tanto conturbada.
Mas para a diretora, Emmanuelle de Riedmatten, o que ficou dessa aventura “é a vontade de morar no Maranhão”.
Terra sem Mal – que reconstitui a tentativa de colonização francesa no Nordeste no século XVII – devia ter saído em 2000, quando das comemorações dos 500 anos da descoberta do Brasil. Depois de vãs tentativas de filmar seu livro Os Papagaios Amarelos, o autor, Maurice Pianzola, encontrou uma pessoa disposta a aceitar o desafio: a suíça Emmanuelle de Riedmatten.
(Note-se a propósito que o mesmo Pianzola escreveu Brésil Baroque, obra notável, publicada em 1991 e traduzida em português).
Dores de cabeça
Emmanuelle, 51 anos – estudou etnologia e era enfermeira de profissão – mas já tinha experiência na área de cinema depois de atuar como assistente de direção e de produção; como co-cenarista e mesmo como diretora.
Seu trabalho mais conhecido, Blandine et les siens, que conta o destino de uma adolescente que escapou do genocídio ruandês, foi premiado em 2004 – dez anos depois da tragédia – no festival de documentários (Visions du Réel), que se realiza anualmente em Nyon, pequena e charmosa cidade próxima de Genebra.
Algumas dores de cabeça esperavam por ela quando preparava a filmagem de Terra sem Mal, a começar pela obra em que se baseia, que é “um livro árduo e difícil de ler”.
O financiamento também não caiu do céu. A Televisão Suíça Romanda (TSR), inicialmente interessada, abandonou o projeto. O interesse só viria mais tarde: concluído o trabaho, a TSR comprou e difundiu o documentário.
Terra sem Mal acabou se tornando uma produção suíço-brasileira em que a participação maior foi de Cláudio Kahns, da Tatu Filmes, de São Paulo. “O entusiasmo de Kahns pelo projeto permitiu que o filme se tornasse realidade”, destaca Emmanuelle.
Imprevisto maior
O principal empecilho tinha sido até então Pianzola, tido como elemento de ligação, no linguajar jornalístico e que, seis meses antes da filmagem, ficara enfermo. Foi quando Emmanuelle decidiu “parar tudo”. Só levou o projeto em frente por insistência de Kahns.
Mesmo assim, acabou tendo que bolar uma história meio a contragosto, pois “não se sentia suficientemente sensibilizada pela mesma”. Pesou também o fato de quase não ter encontrado vestígios da presença francesa em São Luís.
Não bastassem esses contratempos, a cineasta com pouca experiência de Brasil – embora já tivesse viajado pelo país durante oito meses aos 20 aos de idade – teve que enfrentar os maus hábitos de certos brasileiros: desrespeito de horários, celulares que tocam fora de hora e uma noção de tempo que alguns europeus têm dificuldade de entender.
A cineasta lamenta um pouco também não ter tido mais tempo para preparar a filmagem. Um exemplo: no documentário, a visita aos índios tupinambás foi feita um pouco de surpresa: “Cheguei meia hora antes, nervosa, e filmei. Para vê-los antes precisava de autorização particular”…
Ficou a saudade
Emmanuelle reconhece, no entanto, ter saído enriquecida da experiência. Conheceu um “Brasil generoso”: o setor local do turismo deu sua contribuição oferecendo hotel e ônibus para o transporte; e “o Estado do Maranhão fez o que a Suíça não faria”, realça, ou seja mostrando-se generoso no respaldo ao projeto.
Diz ainda que, da aventura, “ficou uma vontade muito grande de morar no Maranhão”. São Luís, por exemplo, “cidade de características portuguesas e patrimônio da UNESCO tem um centro magnífico”.
Emmanuelle de Riedmatten apreciou também a natureza, os estupendos Lençóis Maranhenses, o povo “muito bonito”, a gente “formidável” e diferente dos cariocas, por exemplo, porque são muito mais reservados.
Conclui dizendo ter conhecido um outro Brasil, um outro mundo: “A vontade de regressar é muito grande”, arremata.
swissinfo, J.Gabriel Barbosa
No século XVII, uma frota francesa sob o commando de La Ravardière invadiu a Montanha dos Canibais, hoje Maranhão, na tentativa de colonizar um pedaço do Brasil.
Quase 400 anos depois, neste início do século XXI, um video-documentário, assinado pela realizadora suíça Emmanuelle de Riedmatten, resgata esse episódio pouco conhecido “É um capítulo que faltava à História do Brasil”, escrevem os produtores.
O DVD merece maior divulgação, pois até agora entrou apenas na programação da Televisão Suiça Romanda e, no Brasil, da TV Senac (Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial).

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