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Filme co-produzido na Suíça tem pré-estréia no Brasil

Paulo Alcântara (à direita), Wolfrang Ribeiro (de camisa verde) e parte do elenco de Estranhos, em Recife.

Co-produzido no Brasil e na Suíça, o filme "Estranhos", do cineasta baiano Paulo Alcântara, fez sua pré-estréia no início de maio no Festival de Audiovisual de Pernambuco, mais conhecido como Cine-PE.

Com sede em Genebra, a empresa Nheengatu, co-produtora do filme, agora trabalha para garantir a distribuição de “Estranhos” na Suíça, além de preparar outros projetos que reunirão em breve personagens e profissionais suíços e brasileiros.

O filme se passa em Salvador, fala de amor e conta histórias de diversos personagens que, de uma forma ou de outra, acabam cruzando seus caminhos e vivendo situações em comum na dinâmica capital da Bahia.

No Cine-PE, “Estranhos” recebeu apenas o prêmio de melhor trilha sonora, assinada por André Moraes, mas em termos de boa recepção do público, só ficou atrás do documentário “Alô, Alô, Terezinha”, de Nelson Hoineff, que fala sobre a vida e obra do apresentador de televisão Abelardo Barbosa, o Chacrinha, e acabou sendo o grande vencedor do festival.

A reação do público

Para Paulo Alcântara, as risadas e os aplausos do público durante a exibição do filme no festival são um termômetro melhor do que o reconhecimento do júri para se medir as possibilidades de sucesso de “Estranhos” em grande circuito: “O Cine-Pe foi um primeiro teste para ‘Estranhos’. Fizemos essa pré-estréia, antes mesmo de finalizar totalmente o filme, para sentirmos como ele funciona junto ao público. Fiquei muito contente em ver que o filme comunica com o público. As pessoas interagem com o filme de forma muito espontânea. Os risos e vibrações da platéia foram um grande prêmio para nós, além, é claro, de termos recebido um prêmio de melhor trilha sonora”.

Passado o momento da pré-estréia, a hora agora é de garantir a exibição de “Estranhos” no maior número possível de salas. No Brasil, a procura por um distribuidor forte será coordenada pela Araçá Azul, que também é co-produtora do filme.

Distribuição na Suíça

Na Suíça e restante da Europa, essa tarefa caberá prioritariamente à Nheengatu: “Estamos fazendo os últimos ajustes técnicos, sobretudo a transferência para o formato 35mm, para entrar no circuito dos festivais europeus. Ainda não sabemos exatamente qual, mas com certeza será no segundo semestre de 2009. Nesses festivais iremos sentir o interesse do público europeu pelo filme. Acredito muito que as pessoas se identifiquem, pois ‘Estranhos’ é um filme universal e fala sobre sonhos, desejos e amores”, diz o cineasta.

Sócio de Alcântara na Nheengatu, o jornalista carioca Wolgrand Ribeiro dá mais dicas sobre o futuro de “Estranhos” na Europa. Segundo ele, como o filme é falado em português, a tendência será experimentá-lo inicialmente em um festival em Portugal ou na Espanha: “A idéia é lançar o filme na Europa antes mesmo de lançá-lo comercialmente no Brasil. A primeira etapa será participar de algum festival mais latino, e é possível que isso aconteça no Festival de San Sebastián (Espanha)”.

O circuito suíço de cinema, segundo Ribeiro, também é um objetivo: “Consideramos muito importante que ‘Estranhos’ seja lançado na Suíça. O filme tem ligação com a Suíça, afinal a primeira montagem foi realizada em Genebra. Isso sem falar que nós vivemos em Genebra e vamos continuar trabalhando em projetos no Brasil e na Suíça. Já estamos buscando maneiras de legendar o filme e também procuramos distribuidores na Suíça”, diz.

Novos projetos

Alguns novos projetos da Nheengatu envolvendo a Suíça e o Brasil já estão a caminho. Aproveitando sua ida a Recife para o Cine-PE, Ribeiro passou uma semana no Rio de Janeiro estreitando contatos com potenciais parceiros. Ele teve reuniões com representantes de importantes movimentos populares e artísticos, como os grupos Nós do Morro, AfroReggae e Observatório de Favelas: “A idéia é realizar com esses grupos uma parceria que una Rio e Genebra e tenha cunho social. Estamos planejando um concurso de roteiros”.

Outro projeto que deve dar o que falar ainda é tratado com cuidado pelos donos da Nheengatu. Trata-se de um longa-metragem de ficção para o cinema: “Estamos trabalhando em um roteiro que se passa entre Rio, Salvador e Genebra. Será sobre um conhecido personagem da crônica policial carioca que vive atualmente em Genebra”, diz Ribeiro.

Paulo Alcântara vai mais longe: “É um personagem emblemático da Chacina da Candelária. Esse filme vai fugir do clichê da violência e mostrar uma história otimista sobre uma figura maravilhosa que morreu duas vezes, mas continua com uma alegria contagiante. Esse projeto vai sedimentar a ponte que estamos tentando estabelecer entre o Brasil e a Suíça no âmbito da co-produção”.

Terreno fértil

“Existem muitos outros projetos em gestação, é um terreno fértil”, afirma Alcântara acerca das possíveis parcerias futuras envolvendo o Brasil e a Suíça. Ele garante já estar escrevendo um outro roteiro: “É um projeto que possivelmente também será realizado em co-produção. Chama-se ‘Linhas da Vida’ e também vai tratar de pessoas ligadas ao Brasil e à Suíça”, diz.

No que depender de Wolgrand Ribeiro, que é sócio de uma outra produtora (Vídeocraft) sediada na Suíça, vive há 16 anos em Genebra e é hoje um dos principais articuladores culturais entre a cidade de Calvino e o Rio de Janeiro, não faltarão futuros projetos: “As interfaces entre as duas cidades e os dois países são muitas e muito ricas. Estamos começado a trabalhar, por exemplo, em um projeto que envolve o samba carioca de raiz”, conta. É esperar para ver.

swissinfo, Maurício Thuswohl, Rio de Janeiro

O Festival Cine-PE chegou a sua 13ª edição e é atualmente um dos mais prestigiados do Brasil. Em 2009, Recife recebeu como convidado de honra o cineasta grego/francês Constantin Costa-Gravas e, mais uma vez, conquistou sucesso de público. No entanto, uma entrevista coletiva concedida ao final do evento pelo diretor do festival, Alfredo Bertini, revelou uma dívida de R$ 1,5 milhão e toda a dificuldade de se trabalhar com cinema no Brasil.

“Em 2008, o festival foi iniciado com 90% de seu orçamento em caixa. Este ano, conseguimos receber somente 10% dos recursos que captamos. Tenho R$ 1,5 milhão em dívidas, algumas para pagar já nos próximos dias, e até agora não recebi os recursos prometidos pela maioria dos patrocinadores”, queixou-se Bertini.

Segundo analistas do mercado cultural, a realidade vivida pelo Cine-PE este ano deve ser repetida em outros festivais de cinema e eventos culturais. A causa seria a crise financeira global, que colocou a grande maioria das empresas patrocinadoras em posição defensiva e as fez abandonarem ou atrasarem seus incentivos culturais.

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