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Da ‘esperança’ à ‘vingança’: as opiniões divergentes sobre o reconhecimento do Estado palestino

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Vários países ocidentais reconheceram o Estado da Palestina, o que suscitou fortes reações em ambos os lados do conflito palestino-israelense. 

A AFP entrevistou várias pessoas de Israel e dos territórios palestinos que expressaram opiniões muito contrastantes sobre o tema.  

– Habitante de Jerusalém Oriental –

Rania Elias, uma palestina da parte oriental de Jerusalém, anexada por Israel, afirmou que o reconhecimento deveria ter sido feito há muito tempo.   

“Chegou tarde demais e não acrescenta nada à situação dos palestinos. Se tivesse chegado antes do genocídio [na Faixa de Gaza], as coisas poderiam ter avançado na direção correta”, acrescentou, completando que “seu impacto agora é meramente simbólico e superficial”.  

– Morador de Gaza –

Iyad Keshko, um morador da Cidade de Gaza, onde o Exército israelense realiza uma ofensiva terrestre, afirmou que o reconhecimento do Estado palestino representa um desafio à legitimidade de Israel. 

“A legitimidade do Estado de Israel se tornou instável, e as grandes potências estão percebendo que Israel está cometendo um genocídio e um holocausto contra o povo palestino”, afirmou Keshko, de 50 anos, que vive com sua família em uma tenda, no distrito de Al Rimal.  

“O reconhecimento do Estado não obrigará Israel a parar a guerra, mas isolará Israel e os israelenses serão amaldiçoados mundialmente por seus crimes e sua guerra de extermínio”, acrescentou.  

– Residente na Cisjordânia –

Salma Ali, uma doutoranda de 35 anos, residente em Ramallah, minimizou a importância do reconhecimento do Estado palestino e afirmou que a medida mudará muito pouco a situação dos palestinos que vivem sob ocupação israelense. 

“Como a situação das pessoas na Cisjordânia vai melhorar?”, questionou. “Você não pode ir a lugar nenhum. Não pode ir a outras cidades. Não pode ir aos vilarejos. Sua vida [se reduz a passar] longas horas em pontos de controle. Como isso melhora [minha vida]?”, indagou.  

“Não melhora […] Não significa nada. Não melhora a vida na Cisjordânia. Não faz a ocupação desaparecer”, completou. 

– Árabe-israelense –

Sami al Ali, um árabe-israelense que mora em Jerusalém, afirmou que o reconhecimento deveria estar acompanhado de mudanças no terreno.  

“Se esta campanha não vier acompanhada de ações concretas por parte dos países ocidentais e da própria Autoridade Palestina para reconsiderar sua relação com Israel, de pouco servirá”, disse. 

“Poderiam desenvolver mais relações com Israel baseadas em condições como frear sua anexação e seus planos de expansão”, acrescentou, em alusão aos assentamentos judaicos na Cisjordânia.

– Colono judeu –

À medida que vários ministros israelenses de extrema direita pedem a anexação da Cisjordânia em resposta ao reconhecimento do Estado palestino por países ocidentais, os colonos judeus dos territórios ocupados também reivindicam o mesmo. 

Em uma entrevista recente publicada na página web do I24, Yossi Dagan, dirigente do Conselho Regional de Samaria, que supervisiona os assentamentos judaicos no norte da Cisjordânia, pediu abertamente uma ampliação da soberania israelense no território.  

“Somente um passo assim evitará a criação de um Estado terrorista no coração de Israel”, afirmou Dagan, segundo o site. 

– Israelenses em Jerusalém –

Para Galia Pelled, uma profissional de educação física de Jerusalém, reconhecer o Estado palestino representa uma vingança contra Israel. “Sinto que isso é uma vingança terrível, terrível”, declarou a mulher de 65 anos.

“Estão dando uma grande recompensa às mesmas pessoas que fizeram aquilo”, afirmou, em referência ao ataque de 7 de outubro de 2023 do movimento islamista palestino Hamas no sul de Israel, que desencadeou a guerra em Gaza.  

Pelled afirmou que apoia uma “coexistência pacífica” entre israelenses e palestinos, mas teme que este reconhecimento fortaleça os que “escolhem o terrorismo”.  

“Não sei o que o futuro reserva e tenho muito medo pelos meus filhos [e] meus netos”, acrescenta. 

Shelly Zuckerman, uma moradora israelense de Jerusalém, de 36 anos, apontou que ambas as partes são culpadas pela ausência da uma solução duradoura para o conflito. 

“As declarações apenas buscam tranquilizar as pessoas [e mostrar] que algo está acontecendo e que estão defendendo os palestinos e defendendo a situação em Israel”, indicou Zuckerman. 

“Espero que isso leve a algo, mas é muito simbólico”, acrescentou. 

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