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Número de relógios suíços roubados cresce em todo mundo

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Um objeto cobiçado pelos ladrões. © Keystone / Christian Beutler

O roubo de relógios suíços está crescendo na maioria das grandes cidades. Mas é em Londres que a situação é mais crítica. Na capital britânica, 100 modelos Rolex e 50 Patek Philippe são roubados todos os meses, muitas vezes em plena luz do dia e com extrema violência.

Foi em um dia ensolarado, pouco antes da pandemia, que Paul Thorpe, dono de uma joalheria e relojoaria nos subúrbios de Londres, viu sua vida mudar.

“Eu tinha acabado de sair da loja e estava caminhando para o meu carro. Vi uma motocicleta passar à minha esquerda. E de repente, dois homens usando máscaras me atacaram por trás. Eles me espancaram e roubaram meu relógio que valia 55 mil francos”, contou à RTS. Thorpe ficou inconsciente e sangrando na calçada. A polícia nunca encontrou os criminosos.

Paul Thorpe teve dentes arrancados, rachados e quebrados. “Infelizmente, onde recebi o impacto inicial, não havia o que fazer. Perdi esses dentes para sempre e uso dentadura. Meu dentista me cobrou 22 mil francos”, explica o londrino, ainda traumatizado pela dolorosa experiência.

Roubos aumentam em todo o mundo

Este tipo de cena de extrema violência é cada vez mais frequente na capital britânica. Mas não só. Em Paris, a força-tarefa policial responsável pelo combate ao roubo de relógios foi reforçada e conta hoje com cerca de trinta agentes.

Os roubos estão se espalhando em todas as principais cidades do planeta. De acordo com a agência de notícias Bloomberg, relógios de luxo no valor total de US$ 1,3 bilhão foram roubados ou desaparecidos em 2022.

Cerca de 80 mil relógios foram registrados como roubados ou desaparecidos na The Watch Register, uma empresa que ajuda pessoas, casas de leilão e revendedores a identificar relógios roubados. Cerca de 6.815 relógios foram adicionados à lista no ano passado, um aumento de 60% em relação a 2021, informou a empresa na segunda-feira.

A Rolex é a marca mais visada: 44% dos relógios roubados ou perdidos registrados na base de dados do The Watch Register foram produzidos pela empresa de Genebra. Em seguida aparecem outras duas marcas suíças, Omega e Breitling.

Uma patrulha especial nas ruas de Londres

Para combater o problema, a Scotland Yard criou uma nova equipe, denominada “Operação Veneza”, formada por cerca de quarenta policiais que patrulham as ruas de Londres de carro e de moto, para tentar interceptar esses ladrões.

Os milhares de passageiros de metrô que chegam ao coração de Londres pela manhã são presas fáceis para os ladrões, que não hesitam em usar subterfúgios para se misturar à multidão.

“Eles tentam se disfarçar de passageiros. Eles usam capacetes de bicicleta para se misturar com os ciclistas. É muito difícil dizer se vão apenas trabalhar ou se vão cometer um crime”, explica Richard King, policial integrante da Operação Veneza.

Como explicar a explosão dos roubos?

Para esses policiais, o aumento dos furtos é explicado principalmente pela explosão do mercado de relógios usados. Entre 2020 e 2022, o preço médio de um Rolex usado dobrou, tornando a venda de relógios roubados um negócio muito lucrativo.

A isso soma-se o uso das redes sociais pelos amantes de relógios. “Eles publicam a foto de um relógio e dizem em que restaurante estão em Londres, às vezes com relógios que valem 180 mil francos. Não é preciso ser gênio para adivinhar onde essas pessoas estão e quando vão sair”, continua o policial.

Devido ao seu valor, a violência nos roubos de relógios é muitas vezes muito elevada. É comum facas serem usadas e pessoas ficarem feridas. “Também temos casos com armas de fogo”, diz Richard King.

Não há mais acesso ao registro de relógios roubados

Especializada na venda de Rolexes usados e Patek Philippe, a loja Spencer Dryer tem relógios que somados valem vários milhões de francos. Diante do alto risco de roubo, o proprietário transformou sua loja em uma verdadeira fortaleza com câmeras de vigilância, grades nas janelas e portas seladas eletronicamente.

Para Spencer Dryer, as marcas de relógios suíças estão ajudando a agravar o problema: se antes os vendedores tinham acesso gratuito a um registo de relógios roubados, agora já não têm mais acesso ao sistema. Uma decisão tomada, segundo ele, para limitar o mercado de segunda mão e que agora permite que os ladrões comercializem livremente os relógios roubados.

Contatadas, as marcas relojoeiras suíças recusaram conceder entrevista à RTS. A Rolex, no entanto, disse por e-mail que a empresa estava “consciente dos problemas de roubo” e “monitorando a situação cuidadosamente”.

Até detetives particulares são convocados

Desesperadas, algumas vítimas recorrem a profissionais como Chris Marinello, um detetive particular que se especializou exclusivamente em roubo de arte. Hoje, ele passa grande parte do tempo rastreando relógios roubados.

“É uma crise global. Esses roubos acontecem todos os dias em lugares como Miami, Cannes, Mônaco, Londres, Nova York: qualquer lugar onde as pessoas gostam de passar férias, qualquer lugar onde gastam dinheiro.

Por se tratarem de objetos pequenos e muito leves, os ladrões conseguem facilmente trazê-los para outro país, onde intermediários os colocam à venda em plataformas online, explica o detetive. Os relógios roubados vão parar, portanto, nos quatro cantos do planeta.

Para o investigador particular, as marcas de relógios precisam urgentemente tomar medidas para tornar a indústria mais segura. “Se nada for feito, a indústria sofrerá dramaticamente. Haverá queda nas vendas e as pessoas vão evitar comprar os relógios”, alerta.

O detetive particular também pede aos entusiastas de relógios que sejam extremamente vigilantes. Além dos roubos violentos, os batedores de carteira também conseguem muitas vezes roubar relógios discretamente, distraindo a vítima para que ela não perceba nada.

>> Nosso artigo explicativo sobre a indústria relojoeira suíça:

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(Adaptação: Clarissa Levy)

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