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O Caso Conradi de 1923: um thriller político às margens do Lago Genebra

Há 100 anos, Moritz Conradi matou a tiros em Lausanne um diplomata soviético. O suíço-russo via-se como o novo Guilherme Tell, que pretendia libertar o mundo do bolchevismo – e foi absolvido. O resultado: décadas de silêncio nas relações entre a Suíça e a União Soviética.

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Lausanne, na primavera de 1923. No Chateau d’Ouchy, às margens do Lago Genebra, as potências vitoriosas da I Guerra Mundial discutem o futuro da Turquia. A União Soviética não foi convidada, mas o enviado soviético Watzlaw Worowski é admitido como observador. Na noite de 10 de maio de 1923, Watzlaw Vorowski estava jantando com algumas pessoas. De repente, o suíço-russo Moritz Conradi aproxima-se da mesa, saca uma pistola e mata Worowski com vários tiros à queima-roupa.

Eine Karikatur von zwei Männern
Caricatura do Daily Herald, 17.11.1923. O autor do crime se defende assim: “A destruição de um único bolchevique representa um passo à frente para o bem-estar da humanidade”. WIKICOMMONS

Em uma confissão por escrito, ele já havia declarado antes do crime: “A justiça está do meu lado, porque meu próprio pai morreu cruelmente de fome, perseguido pelos cães vermelhos. […] Ajo com a convicção de que a destruição de até mesmo um bolchevique representa um passo à frente para o bem-estar da humanidade”.

Governo federal não vê responsabilidade

Como a vítima, o diplomata soviético, não havia sido oficialmente convidado para a Conferência de Lausanne, o Conselho Federal não se considerou responsável. Nas atas da sessão realizada no dia seguinte ao ocorrido, constava a seguinte afirmação: “O crime, portanto, enquadra-se nas disposições da lei valdense como um delito comum e deve ser julgado pelos tribunais de Vaud. Deve ser condenado como homicídio comum”.

Watzlaw Worowski
A vítima do assassinato: Watzlaw Worowski (1871-1923), diplomata soviético sênior e amigo de Lênin. WIKICOMMONS

No entanto, não houve condenação. No julgamento perante um tribunal do júri em Lausanne, a defesa habilmente desviou o foco da audiência para os crimes dos bolcheviques durante a revolução e para longe do assassinato perpetrado por Conradi. Na época, amplos setores da sociedade, inclusive partes do Conselho Federal, eram fortemente anticomunistas.

No final, apenas cinco dos nove jurados consideram Conradi culpado. Como uma maioria de dois terços seria necessária para uma condenação, ele é absolvido. A União Soviética reage com indignação e rompe os laços restantes com a Suíça.

Isolamento na política externa

A ausência de relações diplomáticas com a União Soviética colocou a Suíça em uma situação muito difícil na política externa durante a II Guerra Mundial, afirma Sacha Zala, diretor do Centro de Pesquisa de Documentos Diplomáticos da Suíça (DodisLink externo): “A situação para a Suíça no final da II Guerra Mundial é muito, muito ruim. No âmbito da política externa, a Suíça está completamente isolada”.

O então ministro das Relações Exteriores da Suíça, o conselheiro federal Marcel Pilet-Golaz, teve de renunciar devido ao fracasso de sua tentativa de estabelecer relações diplomáticas com a União Soviética em 1944.

Eine Leiche auf dem Boden
O diplomata soviético Vatzlav Vorovsky foi assassinado. ARCHIVES POLICE CANTONALE VAUDOISE

Lições do Caso Conradi

Somente em 1946, a Suíça conseguiu estabelecer relações diplomáticas com a União Soviética. E Berna tenta evitar que a Suíça volte a enfrentar uma situação semelhante à que ocorreu após o Caso Conradi. A Suíça foi um dos primeiros países a reconhecer a jovem República Popular da China, pouco antes da eclosão da Guerra da Coreia, o que teria tornado tal reconhecimento politicamente impossível.

Veja embaixo “O Caso Conradi – documentário no canal de televisão SRF  de 2017” (em alemão)

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