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Em crise, Bolívia define presidente entre dois candidatos de direita

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A Bolívia compareceu às urnas neste domingo (19) para escolher seu próximo presidente em um segundo turno entre dois candidatos de direita, em meio a uma grave crise econômica após 20 anos de governos socialistas.

Mais de 7,9 milhões de bolivianos escolheram entre o ex-presidente Jorge Quiroga (2001-2002), engenheiro de 65 anos, e o senador Rodrigo Paz, economista de 58 anos. Ambos concorreram para reverter a pior situação econômica do país em quatro décadas. 

As mesas de votação fecharam às 17h de Brasília e foram iniciados os preparativos para a contagem manual de votos. A contagem rápida e as pesquisas de boca de urna estão autorizadas a serem divulgadas nos meios locais a partir das 21h de Brasília.

“Se o povo da Bolívia me der a oportunidade de ser presidente […], meu estilo é buscar o consenso”, disse Paz neste domingo em um centro de votação em Tarija, no sul do país.

Quiroga, por sua vez, falou em “abrir um futuro diferente, haverá uma mudança com esperança”, assegurou o candidato também conhecido por seu apelido, “Tuto”, após votar.

Os eleitores foram votar a pé. O trânsito de veículos está restringido até o fim do dia, inclusive o teleférico urbano de La Paz, símbolo da bonança do gás do passado.

A produção boliviana registrou contração de 2,4% no primeiro semestre de 2025, segundo dados oficiais. O Banco Mundial projeta uma recessão que deve durar pelo menos até 2027. 

As longas filas para abastecimento de combustíveis viraram parte da paisagem do país de 11,3 milhões de habitantes. A inflação atingiu 23% em termos anuais em setembro.

O governo Arce esgotou quase todos os dólares de suas reservas para sustentar uma política de importação de combustíveis, que são vendidos com prejuízo no mercado interno.

“Se o vencedor da eleição não adotar medidas que apoiem o setor mais vulnerável, isso pode resultar em uma explosão social”, disse Daniela Osorio Michel, cientista política do Instituto Alemão de Estudos Globais e Regionais (Giga).

– Duas vias –

Paz terá a maior bancada do Parlamento, depois de conquistar, de maneira surpreendente, a maior votação no primeiro turno. Uma semana antes da eleição, as pesquisas o apontavam entre o terceiro e o quinto lugar. 

A segunda bancada mais numerosa será a de Quiroga. “Contudo, nenhum dos dois terá maioria […] será necessário obter acordos para aplicar suas medidas”, disse à AFP a socióloga María Teresa Zegada. 

Quiroga promete um “plano de resgate” para injetar 12 bilhões de dólares (64 bilhões de reais) na economia com empréstimos internacionais. 

Antes do Natal, o abastecimento interno de combustíveis será regularizado e as divisas retornarão ao sistema financeiro para devolvê-las aos poupadores, garante o candidato. 

Paz, senador de centro-direita e filho do ex-presidente Jaime Paz Zamora (1989-1993), propõe uma forte descentralização e um “capitalismo para todos”: um programa de formalização do trabalho, com redução de impostos e eliminação de barreiras burocráticas.

Ele afirmou que não solicitará créditos até reestruturar as finanças internas.

Os dois concordam que é necessário aplicar cortes consideráveis nos gastos públicos, em particular no subsídio aos combustíveis, o que os especialistas afirmam que aprofundará a crise antes da recuperação do país.

A última pesquisa divulgada antes do segundo turno, uma semana antes da votação pelo instituto Ipsos-Ciesmori, mostrava Quiroga com 44,9% das intenções de voto e Paz com 36,5%.

– Fator Evo –

O ex-presidente Evo Morales, que governou por três mandatos consecutivos entre 2006 e 2019, não conseguiu registrar sua candidatura devido a uma decisão judicial que proibiu mais de uma reeleição. 

Morales está na região cocaleira do Trópico e de Cochabamba, protegido por uma guarda indígena de uma ordem de prisão por um caso de tráfico de menor de idade, acusação que ele rejeita. 

O ex-presidente coordenou uma campanha de protesto contra a direita e que pediu voto nulo, que atingiu o nível recorde de 19,2% no primeiro turno.

E, embora tenha deixado seus seguidores livres para votar no segundo turno, Morales declarou em uma entrevista à AFP em agosto que permaneceria no país para “batalhar nas ruas” se a direita assumisse o poder.

Uma crise social pode ser um motivo para que “a liderança de Evo Morales eventualmente ressurja”, disse Osorio Michel.

sf-gta/vel/nn/fp/rpr

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