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Lula não precisa do FSM para agradar movimentos sociais

Um grupo de jovens a caminho do FSM. Keystone

Uma delegação suíça integrada por 50 representantes do governo e da sociedade civil participa do Fórum Social Mundial em Belém.

Os suíços aproveitam o encontro para estreitar os contatos com ONGs brasileiras, entre elas a Central Única dos Trabalhadores, cuja vice-presidente, Carmen Helena Ferreira, diz que a realização do FSM na Amazônia é um fato histórico para o Brasil.

swissinfo: A participação de Lula e outros quatro presidentes da região – Hugo Chávez, Fernando Lugo, Evo Morales e Rafael Correa – pode ser entendida como um esforço desses mandatários para reconquistar a simpatia dos movimentos sociais?

Carmen Helena Ferreira: Não concordo com essa hipótese. Apesar das nossas críticas sérias ao governo, Lula sempre manteve a comunicação e o diálogo com os movimentos sociais. Ele não precisa aproveitar o Fórum para restabelecer uma relação que mantém aberta e ativa. Penso que a visita de Lula ao FSM é um sinal emblemático a todos os setores políticos e atores sociais que chegam do mundo inteiro.

Isso quer dizer que…

A Amazônia é hoje uma das regiões mais complexas e contraditórias do Brasil, com a devastação ambiental, com a forte presença de empresas nacionais e multinacionais responsáveis por essa devastação e, ao mesmo tempo, com movimentos sociais que buscam alternativas, se organizam, se mobilizam. Esta realidade define um contexto em que a presença e a palavra de Lula podem ser muito importantes. Por outro lado, Lula vem a Belém para mostra seu apoio ao grande projeto mundial que aposta na construção de um outro mundo possível.

Belém reúne representantes da sociedade civil latino-americana e mundial. Como são as relações dos movimentos sociais brasileiros com seus pares do continente?

É essencial dar um passo para fortalecer estas relações, que existem e se fortalecem, mas ainda não de consolidaram em uma prática comum. Nesse momento de transição histórica da América Latina, temos de dar um passo adiante no tema da integração regional.

Um tema central no FSM é a integração continental.

Existem propostas de integração econômica e comercial, mas nos falta clareza no debate sobre a integração social. É essencial não diminuir a pressão sobre os governantes para que busquem respostas mais claras, rápidas e efetivas aos temas essenciais pendentes. Entre eles estão o aumento da fome, a precariedade das relações trabalhistas, a crise financeira e econômica, a questão ambiental etc.

Nesse sentido, qual é a contribuição que pode oferecer o Fórum Mundial Social?

O FSM é um momento grandioso para o encontro entre os movimentos sociais e para avançar mais no processo de resistência dos trabalhadores. Uma oportunidade única de comunicação entre povos e possibilidade de aprofundar as realizações sociais e populares. Trata-se de um espaço privilegiado para nós, mulheres, continuarmos construindo juntas nossas propostas, redes e projetos.

Há anos se fala da crise dos sindicatos brasileiros. Ela é real?

Nas últimas décadas, a estrutura produtiva do país mudou muito. Isso significa também, como em grande parte do mundo e na própria América Latina, a necessidade de recomposição do movimento sindical. No nosso caso, há alguns meses, uma corrente interna abandonou a CUT por divergências organizacionais e políticas. Mas seria injusto falar de crise, especialmente quanto ao objetivo essencial do nosso trabalho: a defesa da dignidade e das condições de vida dos trabalhadores. Isso continua sendo um pilar inegociável de nossa organização.

A era Lula, ex-sindicalista e ex-dirigente da CUT, favoreceu ou prejudicou o trabalho da central nos últimos anos?

Sobretudo nos obrigou a certos reposicionamentos. Quando Lula chegou à presidência, enfrentamos uma etapa difícil. No entanto, resgatou-se um espaço permanente de diálogo com o governo. Isso é muito positivo. Por outro lado, mantivemos nossa independência de posições. Somos muito críticos em relação a algumas questões chaves da gestão de Lula.

Por exemplo?

Particularmente em relação à lentidão da reforma agrária, que é uma reivindicação muito importante para amplos setores sociais do Brasil. E seu avanço durante a gestão de Lula deixa muito a desejar. Sem dúvida, esta crítica clara constitui um ponto de consenso entre todos os movimentos sociais do país.

swissinfo, Sergio Ferrari

A Suíça vai participar com uma delegação de 50 pessoas do Fórum Social Mundial, de 27 de janeiro a 1° de fevereiro de 2009, em Belém.

A comitiva será integrada por dirigentes sindicais, representantes de ONGs de cooperação e promoção dos direitos humanos, lideranças políticas, como o senador do Partido Verde do cantão de Vaud, Luc Recordón, e uma dezena de jornalistas.

Antes do encontro, eles visitaram projetos de cooperação econômica entre a Suíça e o Brasil na região amazônica.

A ONG suíça E-Changer, uma das organizadoras da viagem, comemora seu cinquentenário com a apresentação de um ateliê sobre a cooperação norte-sul no FSM.

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