
Hamas recupera terreno em Gaza, aproveitando a trégua com Israel

O Hamas se empenha, nesta terça-feira (14), para restabelecer seu controle nas regiões de Gaza de onde o Exército israelense se retirou, à espera de novas negociações sobre o plano promovido pelos Estados Unidos, que prevê excluir o grupo islamista palestino do governo do território.
Desde a entrada em vigor do cessar-fogo, na sexta-feira, após dois anos de guerra com Israel, jornalistas da AFP têm observado a presença de membros das forças de segurança do movimento islamista em mercados e rodovias em várias cidades da Faixa de Gaza.
Várias testemunhas relataram, nesta terça-feira, intensos combates no bairro de Shujaiya, na Cidade de Gaza, nos quais, segundo elas, uma unidade afiliada ao Hamas enfrentava clãs e grupos armados, alguns supostamente apoiados por Israel.
Mohammed, um morador de Gaza que não quis revelar seu nome completo, disse à AFP que “durante longas horas esta manhã houve confrontos intensos entre as forças de segurança do Hamas e membros da família Hilles”.
“Ouvimos disparos intensos e explosões, e as forças de segurança detiveram alguns deles. Nós apoiamos isso”, afirmou.
Os combates ocorreram perto da chamada Linha Amarela, atrás da qual as unidades israelenses seguem controlando cerca de metade do território.
Uma fonte da segurança palestina em Gaza declarou à AFP que o corpo de segurança do Hamas, uma unidade criada recentemente, cujo nome se traduz como “Força de Dissuasão”, estava realizando “operações de campo para garantir a segurança e a estabilidade”.
A emissora de TV do movimento islamista, Al Aqsa, postou um vídeo no Telegram que mostra a execução de oito supostos “colaboradores” de Israel em uma rua da Cidade de Gaza, mas a AFP não pôde confirmar de imediato sua autenticidade, data ou local.
– Seis mortos por disparos israelenses –
Por outro lado, a Defesa Civil de Gaza, organização de resgate que opera sob a autoridade do Hamas, anunciou, nesta terça, a morte de seis pessoas por disparos israelenses em dois incidentes.
O exército israelense afirmou que atirou em “suspeitos” que se aproximavam de suas forças após cruzarem a “Linha Amarela”.
No outro caso, também informou ter atirado contra um grupo de civis que considerou uma “ameaça imediata” para as tropas.
O Hamas tem sido a facção palestina dominante em Gaza desde 2007, quando derrotou seu rival, o Fatah, em confrontos armados.
Israel insiste em que o Hamas não pode ter qualquer papel no futuro governo de Gaza e deve se desarmar.
O plano para Gaza do presidente americano, Donald Trump, estabelece que os membros do Hamas que aceitarem “depor suas armas” serão anistiados.
O documento, apoiado pelas potências mundiais em uma cúpula na segunda-feira presidida por Trump no Egito, também estabelece que Gaza será desmilitarizada e que o Hamas não terá nenhum papel de liderança.
– “Nos sentimos protegidos” –
Para muitos palestinos, que nesta terça-feira reconstruíam seus lares e suas vidas em meio aos escombros, a presença dos milicianos do Hamas era tranquilizadora.
Após a mobilização da polícia, “começamos a nos sentir seguros”, afirmou Abu Fadi al Banna, de 34 anos, em Deir al Balah, no centro de Gaza.
“Começaram a organizar o trânsito e a desobstruir os mercados (…) Nos sentimos protegidos dos delinquentes e dos ladrões”, declarou.
Em Israel, as famílias dos reféns aumentaram a pressão para que o Hamas devolva os restos mortais dos 24 falecidos que ainda estão em Gaza, como determina o acordo de cessar-fogo negociado sob os auspícios dos Estados Unidos.
Nesta terça, Trump pediu que o movimento palestino entregue todos os restos mortais “como foi prometido”.
Vinte reféns vivos voltaram após a entrada em vigor do acordo em meio a cenas de alegria e os restos mortais de outros quatro foram devolvidos.
Os mortos foram identificados como os israelenses Guy Iluz, Yossi Sharabi e Daniel Peretz, além do estudante nepalês Bipin Joshi.
Por outro lado, os restos mortais de 45 palestinos entregues por Israel no marco do acordo chegaram a Khan Yunis, anunciou, nesta terça-feira, o hospital Nasser, nesta grande cidade do sul da Faixa de Gaza.
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