
O castelo destruído de Max Huber

Em 19 de julho de 1944, um bombardeiro americano abatido caiu sobre o castelo de Wyden, em Ossingen, propriedade de Max Huber, professor de direito internacional em Zurique e então presidente do CICV.
Este artigoLink externo foi publicado no blog do Museu Nacional Suíço em 17 de julho de 2025.
O dia 19 de julho de 1944 era um dia quente de verão. No Castelo Wyden, próximo a Ossingen, perto de Andelfingen (Cantão de Zurique), o pequeno Ueli Huber, de cinco anos, brincava, enquanto seu irmão de um ano, Ruedi, engatinhava pela grama alta. A cena idílica terminou abruptamente pouco antes do meio-dia: um bombardeiro americano caiu sobre a torre e a residência do castelo, que imediatamente pegou fogo. O edifício pertencia ao renomado professor de direito internacional Max Huber.
O proprietário do castelo encontrava-se, naqueles dias, descansando no Mont Pèlerin, às margens do Lago de Genebra, mas alguns membros da família estavam no castelo. Ueli, neto de Max Huber, ainda se lembra bem desse momento de terror:
Justamente na árvore sob a qual ele brincava ficou pendurada uma asa arrancada do avião, com seus tanques de combustível ainda em chamas. “Percebi o barulho terrível e os bombeiros e soldados agitados correndo de um lado para outro. Pelo visto, fiquei com medo e fugi. No meio do caminho para a vila de Ossingen, fui interceptado por pessoas estranhas e levado para a casa delas.”
Sorte no azar: no acidente de avião em Ossingen ninguém foi morto. Uma empregada doméstica sofreu ferimentos leves no incêndio. Fora isso, ninguém se machucou. Ainda assim, Ueli Huber carregou um trauma do ocorrido. As imagens do avião em chamas o assombraram por anos.
Dominik Landwehr é estudioso de cultura e mídia e mora em Zurique.
Um semanário relatou o acidente com detalhes consideráveis: —Em 19 de julho, pouco antes do meio-dia, um bombardeiro americano Liberator, aparentemente sem controle, sobrevoava o vale do Stammheim, de cujo motor saíam chamas intensas. De repente, a poderosa máquina capotou e caiu quase verticalmente sobre o Castelo Wyden. No impacto com a torre, o aparelho em chamas se despedaçou; a fuselagem ficou presa ao telhado da capela do castelo, uma das asas atingiu as árvores extensas, e a cabine, juntamente com a outra asa e parte do trem de pouso, foi lançada com grande força contra a fachada oposta do castelo. Todo o castelo, sobre o qual se espalharam óleo e gasolina, foi imediatamente engolido por chamas intensas.

O avião que caiu sobre o castelo era um bombardeiro americano do tipo B-24 Liberator. Ele tinha o apelido de “Jackpine Joe” e normalmente transportava dez pessoas a bordo. As aeronaves B-24 não apenas carregavam bombas, mas também possuíam várias metralhadoras instaladas para se defender de ataques aéreos inimigos. Isso explica o elevado número de tripulantes.
A história do roubo do bombardeiro B-24 “Jackpine Joe” e o destino dos membros da sua tripulação pode ser lida AQUI (em inglês)Link externo.
O “Jackpine Joe” havia sofrido uma pane no motor durante o bombardeio de Munique e, em seguida, foi atacado quando sobrevoava Friedrichshafen. O piloto decidiu conduzir o bombardeiro em direção à Suíça. O navegador deixou o avião antes de alcançar a fronteira e acabou capturado pelos alemães. O copiloto foi morto porque seu paraquedas não se abriu. Os demais membros da tripulação conseguiram se salvar e foram internados na Suíça até o fim da guerra.
O governo americano indenizou a família após a guerra pelos danos causados. No entanto, no castelo não se perderam apenas a biblioteca particular do professor, mas também documentos pessoais. O corpo de bombeiros que acorreu ao local conseguiu salvar apenas algumas obras de arte valiosas.
A aeronave de Ossingen não foi o único avião a sofrer tal destino: cerca de 250 aviões caíram ou tiveram de fazer pousos de emergência na Suíça durante a guerra. Tratava-se tanto de aparelhos aliados quanto de máquinas das Potências do Eixo, sendo estas últimas em menor número. As tripulações eram internadas de acordo com o direito internacional, e as aeronaves confiscadas. Uma grande parte delas era então levada para o aeroporto de Dübendorf (Cantão de Zurique), onde se formou um enorme depósito.
Max Huber (1874-1960) esteve entre as personalidades mais respeitadas de sua época, sendo presidente do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICVLink externo) de 1928 a 1944, função na qual recebeu o Prêmio Nobel da Paz, concedido ao CICV em 1944. Além disso, foi membro e presidente do Tribunal Permanente de Arbitragem em Haia e assessor no Departamento Político Federal, o Ministério das Relações Exteriores da Suíça.
Huber recebeu, pelo seu engajamento, onze doutorados honoris causa de universidades na Suíça e no exterior. O idealista dedicou toda a sua vida às vítimas de conflitos.
Não surpreende, portanto, que Max Huber tenha reagido com serenidade à notícia de Ossingen e se alegrado pelo fato de nenhuma vida humana ter sido perdida no acidente. A notícia chegou até ele na Suíça romanda. Aos 69 anos, durante a Segunda Guerra Mundial, Huber residia principalmente em Genebra, também porque, como presidente do CICV, frequentemente tinha compromissos na cidade. Além disso, era um hóspede regular do sanatório Mont Pèlerin, acima de Vevey, devido a sua saúde fragilizada.

Max Huber aceitou a perda de toda a sua biblioteca e dos seus manuscritos. O maior sofrimento, disse ele posteriormente, não foi o incêndio em Wyden, mas a destruição da abadia de Monte Cassino, entre Roma e Nápoles, em fevereiro de 1944, pela Força Aérea dos EUA.
Ali, Bento de Núrsia, fundador da Ordem Beneditina, havia formulado em 529 a Regra de São Bento com a frase «Ora et labora». A união entre espiritualidade e trabalho foi, ao longo de toda a vida, uma preocupação central também para Max Huber.

swissinfo.ch publica regularmente artigos provenientes do blogLink externo do Museu Nacional da Suíça, dedicados a assuntos históricos. Esses artigos estão sempre disponíveis em alemão e, geralmente, também em francês e inglês.
Adaptação: Karleno Bocarro

Certificação JTI para a SWI swissinfo.ch
Mostrar mais: Certificação JTI para a SWI swissinfo.ch
Veja aqui uma visão geral dos debates em curso com os nossos jornalistas. Junte-se a nós!
Se quiser iniciar uma conversa sobre um tema abordado neste artigo ou se quiser comunicar erros factuais, envie-nos um e-mail para portuguese@swissinfo.ch.