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Os judeus são contra a guerra (II)

Professor Alfred Donath, presidente da Federação Suíça de Comunidades Israelitas fala com swissinfo. Keystone

Os 18 mil judeus que vivem na Suíça estão bem integrados ao país. Porém antisemitismo ainda é um sentimento presente.

swissinfo entrevista o professor Alfred Donath, presidente da Federação Suíça de Comunidades Israelitas.

Sr. Donath, a primeira pergunta é básica: – o senhor é suíço ou judeu?

Eu sou os dois (risos). Nasci na Suíça, mas meu pai veio da Hungria antes da Primeira Guerra Mundial. Sou então um suíço de segunda geração, de confissão judaica.

Qual o tamanho da comunidade judaica na Suíça?

Somos apenas 18 mil judeus na Suíça. Trata-se de um número reduzido em relação ao número da população, de mais de sete milhões de habitantes.

Porém ainda existe uma grande quantidade de suíços vivendo em Israel, ou não?

Entre os jovens judeus, existe uma forte atração por Israel. Por isso mais de 10 mil judeus suíços vivem nesse país.

Mas com a crise e o terrorismo muitos têm retornado à Europa?

Sim, existem casos de judeus que têm abandonado Israel devido a crise econômica ou insegurança. Porém não são muitos. Os judeus suíços estão em Israel por uma questão de idealismo. Muitos também vivem lá, pois eles sentem um crescente anti-semitismo na França e até mesmo na Suíça.

Você considera a Suíça anti-semita?

Após a Segunda Guerra Mundial, acreditávamos que não existiria mais anti-semitismo na Suíça. Porém tudo recomeçou em 1996, a partir da polêmica mundial das contas abandonadas em bancos suíços pelas vítimas do Holocausto. Essas instituições nunca haviam sido cooperativas com os sobreviventes judeus e suas famílias. Mesmo que um deles mostrasse seus documentos, provando que dinheiro havia sido depositado num banco suíço, muitas dessas instituições se recusavam a devolver o dinheiro e pediam documentos impossíveis de obter como, por exemplo, certidões de óbito de pessoas que morreram em campos de concentração. Eles também exigiam provas dos parentes dos donos das contas abandonadas, para ter certeza que eles eram os únicos herdeiros, etc.

Por isso houve o processo contra os bancos suíços em 1998, onde eles pagaram US$ 1,25 bilhão?

Cinqüenta anos depois, quando os arquivos dos bancos e do governo na Suíça e nos EUA foram abertos para pesquisar esse tema, a situação mudou. O Congresso Mundial Judaico passou a fazer uma grande pressão em cima desses bancos e do governo suíço.
Depois um acordo foi feito e as instituições suíças tiveram de pagar US$ 1,25 bilhão, dinheiro que hoje ainda está sendo dividido entre as vítimas do Holocausto e suas famílias. Esse foi o ponto de partida para a difícil situação dos judeus na Suíça, que estavam divididos entre o fato de serem cidadãos suíços e, ao mesmo tempo, judeus. Além disso, houve também a Comissão Berger, que apresentou em 22 de março de 2002 um relatório, depois de cinco anos de pesquisa. Nele ficou provado o papel “passivo” da Suíça durante a Segunda Guerra Mundial.

Mas a Suíça era, afinal, um país neutro?

Quando eu era criança, aprendi na escola que Hitler não invadiu a Suíça por causa do exército suíço, que protegia as fronteiras do país. Escutávamos histórias como, por exemplo, de que todos os túneis que iam da Itália para a Alemanha estavam minados. Para analisar o papel do país durante a Guerra, o governo instaurou em 1996 uma comissão formada por historiadores e chefiada pelo professor Jean-François Bergier. Ela forneceu um relatório que corrigiu a imagem que tínhamos sobre a Suíça. Assim descobrimos que se o país não foi invadido, não se deveu à neutralidade, mas sim por ter colaborado com a Alemanha do ponto de vista financeiro e industrial. A comissão também mostrou o número de refugiados judeus, que foram expulsos da Suíça e reenviados para a Alemanha. Outra história importante foi descobrir que partiu da Suíça a sugestão de colocar um “J” nos passaportes dos judeus alemães. Assim os guardas suíços da fronteira podiam diferenciar os refugiados.

A historia da Suíça não foi tão gloriosa como a gente imaginava. E tudo isso acabou criando um sentimento negativo contra os judeus. Muitos suíços pensavam: – “nosso país tem de pagar esse dinheiro por causa dos judeus; nosso país teve sua imagem manchada por causa dos judeus, etc, etc”.

Como se manifesta o anti-semitismo na Suíça? Nunca li nada sobre atentados ou violência.

Em comparação com a França e a Alemanha, não ocorrem realmente atentados na Suíça. Porém aqui você vê mais pichações, artigos na imprensa e também cartas e e-mails. Eu, por exemplo, já recebi várias cartas anônimas ou assinadas, com injúrias verbais ou ameaças. Sobretudo quando um judeu é reconhecido na rua, quando ele é ortodoxo e utiliza as vestimentas tradicionais, é mais fácil de identificá-lo e agredí-lo. Porém na Suíça as agressões contra judeus ocorrem mais de forma verbal. Nós fomos obrigados, assim como todos as grupos judaicos da Europa, a organizar a nossa defesa. Temos na Suíça uma boa colaboração com a polícia e ela nos ajuda a vigiar sinagogas escolas e centros judaicos. Normalmente nós somos também advertidos pelo governo federal, quando existe o risco de atentados.

Como é a integração dos judeus na Suíça?

Os judeus da Suíça são totalmente integrados ao país. Eles são muito ativos na Suíça, no seu mundo financeiro, cultura e vida social. Eles nenhum judeu sofre limitações devido a sua religião. Porém, a aceitação dos judeus não era a mesma no passado da Suíça.

swissinfo, Alexander Thoele, Genebra

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