Homem de Toumai caminhava ereto, mas também escalava árvores há 7 milhões de anos
O homem de Toumai, o mais antigo representante conhecido da humanidade, caminhava nas duas pernas há sete milhões de anos, mas ainda sabia subir em árvores, segundo um estudo publicado nesta quarta-feira (24) na revista Nature, baseado em três ossos de um representante de sua espécie, o Sahelanthropus tchadensis.
A história começou em Toros-Menalla, no norte do Chade, quando, em 2001, uma equipe da missão paleoantropológica franco-chadiana descobriu um crânio.
O Sahelanthropus tchadensis, Toumai para os íntimos, desbanca, então, o Orrorin tugenensis, de seis milhões de anos e descoberto no Quênia, como o mais antigo representante da humanidade.
A posição do orifício occipital no crânio de Toumai, com uma coluna vertebral situada sob o crânio e não atrás, como os quadrúpedes, o coloca como primata bípede. Alguns especialistas questionaram esta conclusão, argumentando o estado incompleto do fóssil.
O estudo dos cientistas do Palevoprim, laboratório sobre evolução da Universidade de Poitiers, do Centro Nacional de Pesquisa Científica da França (CNRS, na sigla em francês) e universitários chadianos, dá uma contribuição decisiva para esta descoberta.
“O crânio nos diz que o Sahelanthropus pertence à linhagem humana”, explicou na terça-feira Franck Guy, paleoantropólogo e um dos autores do estudo, o que demonstra que “o bipedismo era seu modo de locomoção preferido”, acrescentou, durante coletiva de imprensa.
Este bipedismo “habitual, embora não conclusivo, era acompanhado de um pouco de arboricolismo”, ou seja, a capacidade de se deslocar nas árvores. Uma herança do hipotético ancestral comum à linhagem humana e à dos chimpanzés.
A equipe fez a demonstração do estudo detalhado de um fêmur e de dois ossos de antebraço, alguns cúbitos, que nunca se saberá se eram correspondentes ao Homem de Toumai, mas que foram encontrados no mesmo local e pertencentes aos de um hominídeo, de linhagem humana.
Os cientistas da missão franco-chadiana estudaram os ossos durante vários anos, com uma série exaustiva de testes e medições. Identificaram 23 traços morfológicos e funcionais, antes de compará-los aos de outros hominídeos, grandes símios atuais e fósseis.
Sua conclusão é que “o conjunto destes traços de caráter é muito mais próximo ao que se observava em um hominídeo do que em qualquer outro primata”, disse Guillaume Daver, paleoantropólogo da equipe.
Por exemplo, enquanto anda apoiado nas quatro patas, um gorila ou um chimpanzé – o primo mais próximo do homem – caminha se apoiando na parte externa das falanges, isso não foi o que se observou no Sahelanthropus.
– Florestas e savanas úmidas –
O indivíduo cujos ossos foram estudados pesava entre 43 e 50 quilos. A paisagem desértica e nua que atualmente abriga seus restos misturava, em sua época, florestas de palmeiras e savanas úmidas, ou seja, um marco favorável tanto para a marcha, quanto à quadrupedia de “precaução” entre a folhagem.
O estudo fornece, assim, “uma imagem mais completa de Toumai e finalmente dos primeiros humanos”, destacou em declarações à AFP o paleoantropólogo Antoine Balzeau, do Museu Nacional de História Natural, ao elogiar um trabalho “muito consistente”.
Isto dá argumentos suplementares a quem defende uma evolução muito “arborescente” da linhagem humana, com múltiplas ramificações, o que confrontaria uma “imagem simplista de humanos que se sucedem, com capacidades que melhoram ao longo do tempo”, ressalta Balzeau.
O que fazia do Sahelanthropus um humano era sua capacidade de se adaptar a um dado ambiente, segundo os cientistas do Palevoprim, que insistiram na importância de não considerar a bipedia como um “caráter mágico”, que definiria a humanidade de maneira estrita.
Em um artigo que acompanha o estudo, Daniel Lieberman, professor de evolução biológica em Harvard, considera que o estudo não oferece ainda uma “solução definitiva” para o tema da natureza do homem de Toumai.
A equipe espera retomar suas pesquisas no Chade no próximo ano, “se a segurança permitir”, disse Guy.
Como afirmou a paleontóloga chadiana Clarisse Nekoulnang, do Centro Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento, as equipes no local “tentam encontrar sítios mais antigos do que o de Toumai”.