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Kanchha Sherpa, último sobrevivente dos pioneiros do Everest, morre aos 92 anos

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O nepalês Kanchha Sherpa, o último sobrevivente da expedição que levou pela primeira vez o ser humano ao topo do Everest em 1953, morreu nesta quinta-feira (16) aos 92 anos.

Sua jornada rumo à fama começou na adolescência, quando fugiu para as montanhas de Darjeeling de seu vilarejo de Namche Bazar, hoje transformado no maior centro turístico na rota para o acampamento base do Everest. 

O jovem de 19 anos conheceu na cidade indiana, que na época era o ponto de partida das expedições para o Himalaia, seu compatriota Tenzing Norgay Sherpa, que o contratou como um homem multitarefas.

Poucos meses depois, em troca de algumas rúpias, ele se uniu a Tenzing Norgay no Nepal, contratado para a expedição liderada pelo neozelandês Edmund Hillary.

Reunidos em Katmandu, os alpinistas alcançaram o acampamento base após vários dias de caminhada, já que naquela época ainda não havia uma rota adaptada ou a possibilidade de chegar por via aérea. Hoje, os alpinistas seguem um itinerário traçado por guias nepaleses.

Sem qualquer treinamento em alpinismo, Kanchha Sherpa subiu os mais de 8.000 metros do Everest. 

Há dois anos, durante uma entrevista à AFP, ele afirmou que foi o homem “mais feliz quando Tenzing e Hillary alcançaram o topo”, segundo as declarações transmitidas por seu neto Tenzing Chogyal Sherpa.

Com roupas grandes demais para eles e as costas carregadas com as barracas, materiais e mantimentos, ele recordou como os sherpas nepaleses escalavam as íngremes encostas da montanha cantando.

Sete décadas depois, centenas de pessoas alcançam todos os anos o cume do Everest (8.849 m) e outras milhares viajam ao Nepal para admirar as paisagens do Himalaia.

A indústria do montanhismo, que movimenta milhões de dólares, depende da experiência dos “sherpas”, que a cada ano pagam um preço elevado para acompanhar centenas de alpinistas até o topo do mundo: um terço dos mortos no Everest são alpinistas nepaleses.

“Tenzing e Hillary abriram nossos olhos e possibilitaram o desenvolvimento aqui”, declarou Kanchha Sherpa ao canal local YOHO TV em 2019.

“A vida era muito difícil antes. Não havia nenhum meio de ganhar a vida”, recordou.

Testemunha direta da transformação da região do Everest, Kanchha Sherpa continuou escalando por duas décadas, até que sua esposa pediu que encerrasse as expedições perigosas.

A educação das crianças sherpas é o benefício mais importante do desenvolvimento da região, destacou o herói nepalês.

“Agora elas têm a possibilidade de estudar e podem se tornar o que quiserem: médicos, engenheiros ou cientistas, como meu neto”, acrescentou. “No meu tempo, jamais teria imaginado que algo assim fosse possível”, completou.

Depois de abandonar o alpinismo, Kanchha Sherpa criou uma fundação com seu nome, dedicada a ajudar famílias que não tinham recursos para enviar seus filhos à escola.

Durante seus últimos dias, ele disse temer que os “jovens fossem influenciados pela cultura ocidental e esquecessem lentamente a cultura e a língua sherpa”.

pm/pa/alv/dam/avl/fp/aa

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