Líderes mundiais pedem em Belém engajamento na luta pelo clima
Líderes mundiais lançaram, nesta quinta-feira (6), um apelo para que não se abandone a luta pelo clima e ainda se mantenham as esperanças de salvar o planeta, com fortes críticas ao negacionismo do presidente americano, Donald Trump, durante uma cúpula prévia à COP30, em Belém.
Cerca de 30 chefes de Estado e de governo responderam ao convite do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para comparecer à capital paraense antes da conferência climática da ONU, que será realizada de 10 a 21 de novembro.
O encontro de dois dias começou pouco depois de a ONU informar que o ano de 2025 se posiciona como um dos mais quentes já registrados, coroando mais de uma década de temperaturas altas e inéditas.
“Falhamos” no objetivo de limitar o aquecimento global a 1,5 °C em relação à era pré-industrial, disse em Belém o secretário-geral da ONU, António Guterres.
Mas “nunca estivemos melhor equipados para reagir”, com instrumentos como as energias renováveis, acrescentou.
Lula chamou os líderes a agirem imediatamente para salvar o planeta. “A janela de oportunidade que temos para agir está se fechando rapidamente”, advertiu em seu discurso de abertura da cúpula.
O presidente também criticou as mentiras de “forças extremistas” que favorecem a “degradação ambiental”.
Seu colega colombiano, Gustavo Petro, foi mais explícito: o presidente “Donald Trump tem uma conduta pessoal de negação da ciência” e leva a humanidade “ao abismo”.
Na mesma linha, o chefe de Estado chileno, Gabriel Boric, afirmou que o republicano sustenta que “a crise climática não existe e isso é mentira”.
Sem citar Trump, o presidente francês, Emmanuel Macron, pediu que se coloque “a ciência à frente da ideologia” na questão climática.
Cento e setenta países participam na COP30, mas o governo dos Estados Unidos, país que é o segundo maior poluidor do mundo depois da China, não enviará uma delegação.
Trump ignorou a conferência. A segunda saída dos EUA do Acordo de Paris ocorreu em um cenário internacional tenso, de guerras comerciais e conflitos.
A maioria dos líderes do G20, incluindo China e Índia, também não participam do evento.
– Ritual amazônico –
“Nada começa na Amazônia sem um ritual”, disse à AFP Walter Kumaruara, indígena de 29 anos da região, durante uma cerimônia de povos amazônicos em frente ao centro de negociações.
“Tantas caras do nosso povo estampadas pela cidade, mas nós não estamos dentro desse evento”, lamentou.
Cerca de 870 mil indígenas vivem na Amazônia Legal e suas tradições são consideradas fundamentais para manter de pé a maior floresta tropical do mundo.
Para a presidência brasileira, o objetivo da COP30 é salvar a cooperação internacional dez anos após o Acordo de Paris.
O Brasil não busca grandes decisões em Belém: quer que a COP30 consagre compromissos concretos e organize um acompanhamento de promessas passadas, por exemplo, sobre o desenvolvimento de energias renováveis.
Lula lançou, nesta quinta, um fundo dedicado à proteção das florestas – o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF, na sigla em inglês).
A Noruega informou que quer investir US$ 3 bilhões (R$ 16 bilhões), enquanto o Brasil anunciou uma contribuição de US$ 1 bilhão (R$ 5,3 bilhões) e a França, de US$ 575 milhões (R$ 3,07 bilhões).
– “Não é caridade” –
Boa parte do mundo em desenvolvimento segue insatisfeita após o acordo alcançado no ano passado em Baku sobre financiamento climático e pretende discutir o tema novamente.
“Não é caridade, e sim necessidade”, declarou à AFP Evans Njewa, diplomata do Malauí que preside o grupo dos países menos desenvolvidos.
“Muitos dos nossos países não poderão se adaptar a um aquecimento que ultrapasse 2° C”, afirmou à AFP Ilana Seid, diplomata do arquipélago de Palau, no Pacífico, e presidente da Aliança de Pequenos Estados Insulares (Aosis). “Alguns dos nossos países insulares deixariam de existir”.
A cúpula antecede a COP30, que representou um grande desafio logístico para Belém, uma cidade com capacidade hoteleira reduzida. Sua escolha como sede encareceu os preços e complicou a participação de pequenas delegações e ONGs.
As autoridades aproveitaram, no entanto, para dar uma nova cara ao município de quase 1,4 milhão de habitantes, dos quais metade vive em favelas.
“Em relação às obras feitas, Belém melhorou muito. Vai ficar um grande legado pra gente, a cidade ficou muito mais bonita”, comentou Rosiane Brito, funcionária administrativa de 40 anos.
Para a COP30, foram mobilizados cerca de 10 mil agentes das forças de segurança, além de 7.500 militares.
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