
Oposição dos Estados Unidos ameaça acordo para reduzir poluição dos navios

A Organização Marítima Internacional (OMI) inicia nesta terça-feira (14) uma reunião de cúpula em Londres para adotar um plano de redução da poluição dos navios, mas a oposição veemente dos Estados Unidos pode frustrar o objetivo do evento.
O projeto busca reduzir progressivamente as emissões de carbono dos navios a partir de 2028 e contempla estabelecer um imposto para os mais poluentes.
A proposta da OMI, aprovada em abril por ampla maioria, deve ser oficialmente ratificada na sexta-feira (17), ao final do encontro de cúpula da agência marítima da ONU, que tem 176 membros.
Um comunicado divulgado na semana passada pelos secretários de Estado, de Energia e de Transporte dos Estados Unidos, Marco Rubio, Chris Wright e Sean Duffy, respectivamente, afirma que o governo de Donald Trump “rejeita de maneira inequívoca” a proposta.
No texto, Washington ameaça adotar sanções e outras ações punitivas contra os países que votarem a favor de incluir um imposto sobre carbono no transporte marítimo.
O “Fundo ‘Net-Zero'” (NZF na sigla em inglês, para alcançar zero emissões líquidas) pretende fazer com que os navios paguem uma espécie de imposto sobre as emissões que ultrapassem um determinado limite.
A taxa seria destinada a financiar um fundo que recompense os navios com baixas emissões e apoie os países vulneráveis às mudanças climáticas.
– Transformação climática histórica –
A proposta permitiria ao setor, muito poluente, passar por uma transformação climática histórica ao obrigar os navios a reduzir progressivamente suas emissões de carbono a partir de 2028.
Em janeiro, o secretário-geral da OMI, o panamenho Arsenio Domínguez, mencionou o objetivo de alcançar um transporte marítimo sem emissões de gases do efeito estufa até 2050.
Mas o governo americano expressou na sexta-feira sua firme oposição.
“O governo dos Estados Unidos não tolerará nenhuma medida que possa aumentar os custos para nossos cidadãos, nossos fornecedores de energia, nossas empresas marítimas e seus clientes, ou nossos turistas”, afirmou a administração Trump.
No comunicado, o governo republicano ameaça os países que votarem a favor do projeto com restrições de vistos para os membros de suas tripulações, “sanções comerciais” ou “taxas portuárias adicionais”.
Em abril, 63 países votaram a favor da proposta, incluindo os membros da União Europeia (UE), Brasil, China, Índia e Japão.
Dezesseis países votaram contra, entre eles grandes produtores de combustíveis como Arábia Saudita, Rússia e Emirados Árabes Unidos.
Os países insulares do Pacífico consideraram a proposta insuficiente e optaram pela abstenção.
Por sua vez, os Estados Unidos não participaram das discussões nem da votação.
– Apoio europeu –
A UE mantém apoio total à proposta, assim como o Reino Unido.
As ameaças da administração Trump poderiam afetar “países sensíveis à influência americana e que seriam prejudicados pelas represálias”, admitiu uma fonte europeia à AFP.
“Continuamos otimistas a respeito do resultado, mas provavelmente será mais apertado do que antes, com um risco maior de abstenção”, acrescentou a fonte.
As Filipinas, responsáveis pelo maior contingente mundial de trabalhadores vinculados ao setor marítimo e que apoiaram o NZF em abril, sofreriam particularmente com as restrições relacionadas a vistos.
As ilhas do Caribe, economicamente dependentes dos cruzeiros americanos, também poderiam ser afetadas por sanções.
Consultado pela AFP, o secretário-geral Arsenio Domínguez não comentou a declaração de Washington, mas expressou confiança a respeito da votação final.
Desde seu retorno ao poder em janeiro, Donald Trump, muito ligado aos combustíveis fósseis, iniciou uma guinada total na questão climática.
O presidente americano rejeitou recentemente as conclusões científicas sobre o tema e descreveu a “mudança climática” como a “maior fraude” da história.
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