
Primeiro-ministro francês sobrevive a duas moções de censura

O primeiro-ministro francês, Sébastien Lecornu, superou nesta quinta-feira (16) duas moções de censura no Parlamento, poucos dias após propor a suspensão de uma reforma crucial do presidente Emmanuel Macron para não agravar ainda mais a crise política.
Lecornu, o terceiro chefe de Governo francês em menos de um ano, defendeu na terça-feira a suspensão da impopular reforma da Previdência de 2023 para que a oposição socialista, que exigia a medida, não apoiasse as moções de censura apresentadas pela esquerda radical e pela extrema direita.
Embora tenha vencido, ele ficou a apenas 18 votos da derrota. A vitória frágil anuncia debates tensos durante o processo orçamentário, especialmente porque Lecornu se recusou a aprová-lo sem votação no Parlamento, como a lei lhe permite e como o partido no poder tem feito desde 2022.
Naquele ano, Macron perdeu sua maioria absoluta e, em 2024, agravou ainda mais a situação ao convocar eleições legislativas antecipadas que deixaram a Assembleia Nacional (câmara baixa) sem maioria e dividida em três blocos: esquerda, centro-direita e extrema direita.
“Se o Parlamento não for respeitado, se o governo não cumprir suas promessas, especialmente no que diz respeito à suspensão da reforma da Previdência, nós o censuraremos rapidamente”, alertou o líder socialista Olivier Faure na quinta-feira.
O alerta não é trivial. Lecornu vinculou a suspensão da reforma até 2028 à aprovação do orçamento para 2026, propondo que fosse incluída como emenda a esse projeto de lei que propõe o congelamento das contribuições e benefícios sociais.
O orçamento proposto prevê um esforço fiscal de 30 bilhões de euros (34,97 bilhões de dólares, 190 bilhões de reais). Em grande parte, inclui uma redução de gastos para conter uma dívida pública que chega a 3,4 trilhões de euros (115,6% do PIB), a terceira mais elevada da UE depois de Grécia e Itália.
– Dilema socialista –
A vinculação apresenta um dilema para os socialistas: aprovar um orçamento com cortes sociais em troca da suspensão da reforma da Previdência ou rejeitá-lo e arriscar-se a perder a “primeira vitória”, como celebraram a esquerda e os sindicatos. Sete de seus 69 deputados votaram a favor da censura.
Sob pressão de seus aliados radicais de esquerda e ambientalistas, que votaram pela censura ao governo, Faure defendeu a luta no Parlamento para introduzir mudanças em um orçamento “muito injusto” em busca de maior justiça fiscal, conforme exigido pela maioria dos franceses.
Mas será que ele conseguirá? A Assembleia dividida torna o resultado dos debates incerto. Além disso, o partido conservador Os Republicanos (LR), que governou com a aliança de Macron até a semana passada e controla o Senado (Câmara Alta), é contra a suspensão da reforma da Previdência.
Este novo episódio da profunda crise política que a França atravessa desde 2024, que já derrubou dois primeiros-ministros, também ocorre em meio à pré-campanha para as eleições municipais de março, nas quais os socialistas disputam para manter seu poder local e grandes cidades como Paris.
Macron já alertou que, se o Parlamento censurar Lecornu, ele convocará novas eleições legislativas. O partido de extrema direita Reagrupamento Nacional (RN), de Marine Le Pen, que lidera nas pesquisas de primeiro turno, pede eleições antecipadas.
burs-tjc/avl/aa/fp