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Suíços estão contentes com o “visual”

Dennis Stock/Magnum Photos

“A beleza está nos olhos de quem vê.” Este velho ditado é ilusório, tendo em consideração o crescimento da indústria da beleza. O setor que engloba tudo, do cosmético à cirurgia plástica, beneficia-se de arraigadas noções de boa aparência.

Estima-se que cada dia, a população suíça utilize 64 toneladas de cosméticos e produtos para o cabelo, sempre com o objetivo de melhorar o ‘visual’. Unicamente para produtos faciais, os suíços gastam, por ano, 400 milhões de francos (US$ 428 mio).

Em Berna, dois museus, em parceria, montaram uma exposição intitulada “Bin ich schön? / J’suis beau?” (Sou bonito?). A pergunta formulada na mostra é mais importante do que parece, pois na Suíça, com frequência, os solicitantes de emprego incluem uma foto no currículo.

“Originalmente, a exposição fora denominada “O que é bonito?” decidimos porém, trocar o nome, porque queríamos confrontar o visitante com uma questão pessoal,” disse Kurt Stadelman, curador do Museu da Comunicação, à swissinfo.ch. Este museu apresenta o grosso da exposição, cabendo o remanescente ao Museu de História Natural.

“É uma atitude um pouco provocante solicitar ao visitante que se indague a si mesmo se é bonito. Mas esperamos que os interessados recebam algumas respostas” disse Stadelmann, realçando não haver espelhos à disposição nos locais. Ele confia que as pessoas encontrem a própria beleza interior ao observar animais, bonecas, capas de revistas e outras referências culturais – como uma imagem de Nossa Senhora e um filme de propaganda nazista, retratando o “perfeito” atleta.

Lifting

A exibição respire o ‘Zeitgeist’ (espírito da época). Na Suíça, o número de cirurgiões plásticos – seja de cirurgia reconstrutora, seja estética – tem aumentado constantemente com o correr dos anos. Em 1980, havia 24 cirurgiões plásticos no país. Hoje chegam a 135, aproximadamente.

Mas o que levaria as pessoas a desejarem alterar a própria aparência? É o que swissinfo.ch perguntou ao cirurgião Daniel Knutti, de Biel/Bienne, na profissão desde 1988.

“As pessoas não querem necessariamente uma mudança – querem uma melhor aparência, ficar mais bonitas ou, ainda, realçar as partes mais belas do corpo – em geral para se sentirem melhor.”

Ela tem verificado, nos últimos dez anos, um acentuado aumento do número de cirurgias para ampliar o volume dos seios.

“Realizo também certo número de lifting facial, mas as mulheres de certa idade procuram especialmente livrar-se de rugas ou de um relaxe cutâneo, diz Knutti. Ele observa que os homens representam apenas de 10 a 15% de seus pacientes.

“Eu sempre disse que as mulheres são mais tolerantes que os homens no que diz respeito à aparência. Um homem pode ter cabelos brancos, rugas e, mesmo assim, ser interessante para uma jovem,” diz o cirurgião.

Mas ele realiza mais intervenções em homens que anteriormente, em particular em torno dos olhos. “Isso faz com que eles melhorem o aspecto – fiquem mais jovens, mais despertos, mais dinâmicos – sem mudar demais a aparência,” afirma Knutti, que indica se ter submetido a uma cirurgia nas pálpebras (blefaroplastia). Knutti fez também  transplante de cabelos.

Membro da Sociedade Suíça de Plástica, Cirurgia Reconstrutora e Estética, Daniel Knutti integra igualmente a diretoria da Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética. Graças à sua vasta experiência, ele pôde observar, em vários pontos do mundo, certas diferenças na maneira como as pessoas gostariam de se ver.

“Os asiáticos apreciam feições mais caucásicas, como o cavalete do nariz mais alto, pálpebras superiores do tipo ocidental e seios mais volumosos. Os caucasianos gostam de olhos asiáticos ligeiramente inclinados. Já os árabes não apreciam seus narizes robustos.

Após a operação, lembra Knutti, não é raro os pacientes dizerem que vida deles mudou com a cirurgia estética.

“Mesmo com uma pequena alteração (física) pode influenciar a vida do paciente. Simplesmente o fato de se sentir seguro, feliz e autoconfiante repercute no dia-a-dia. Tem certamente uma consequência importante para o sucesso e o bem-estar,” observa Knutti.

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Quem é a mais bonita?

Este conteúdo foi publicado em No entanto não são espelhos que podem ser encontrados na exposição “Bin ich schön?/ J’suis beau?” (Sou bonita?) em Berna. O evento está aberto ao público até 7 de julho no Museu de Comunicação e Museu de História Natural.

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Perspectivas de emprego

Isto pode, de fato, repercutir numa perspectiva da busca de trabalho. Na Suíça, frequentemente, as pessoas que solicitam emprego incluem uma foto no currículo por acharem que essa iniciativa seja esperada. Segundo José M. De San José, do departamento de Markeking de ‘Adecco Switzerland’ – empresa de recursos humanos – isso se explica pelo fato de o patrão gostar de ter uma primeira impressão do candidato.

“Evidentemente a profissão é também um fator (em que a aparência tem importância). Se se trata de um trabalho na produção, não é importante ver uma foto. Mas quando se refere a um ramo da área de serviços, o empregador fica contente em dispor de uma fotografia, disse San José à swissinfo.ch.

Ele admite que as pessoas de bom aspecto podem levar vantagem quando se reduz o número de candidatos com qualificação similar.

“Posso, então, imaginar que o patrão favoreça o currículo de alguém cuja foto o impressione mais. Assim, a aparência pode desempenhar papel numa entrevista de um candidato,” explica San José.

Sua empresa dá dicas às pessoas sobre a maneira de apresentar-se, de se comportar. Mesmo assim nada substitui uma personalidade forte.

“Para empregos no setor de vendas, o carisma é mais importante que a aparência. Uma pessoa pode ser esquia, estar bem vestida, bem penteada e não agradar,” diz San José, lembrando que a beleza é muito subjetiva.

“Para carreiras de sucesso, são mais importantes os cuidados corporais, o vestir-se bem, simpatia, motivação e uma mentalidade orientada para o serviço. Nesse caso, a não ser que você seja modelo, você não pode fazer carreira, diz San José.

No entanto, mesmo uma pessoa comum pode parecer um modelo com cuidados corporais, roupas apuradas e uso das técnicas de edição de fotos, como demonstra um vídeo na exposição “Sou Bonito?” – prova de que não faz sentido comparar-se a si mesmo com imagens retocadas de ‘outdoors’ e revistas.

“Fico contente se os visitantes saírem da exposição pensando “não sou realmente bonito, mas sou atraente.” Acho que é esta a melhor maneira de ver a si mesmo, porque você pode ficar simpático até os 100 anos – sem problema,” diz Stadelmann. “Mas ficar bonito centenário é muito mais complicado!”

A exposição “Bin ich schön? / J’suis beau?“ resulta de uma parceria, em Berna, do Museu da Comunicação e do Museu de História Natural. Encerra-se em 7 de julho de 2013.

O número de cirurgiões plásticos aumentou constantemente nos últimos anos.

Número de médicos, de cirurgia reconstrutora e plástica:

1980 – 24

1990 – 44

2000 – 110

2011 – 135

A Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética listou as intervenções cirúrgicas cosméticas mais frequentemente realizadas:

1 Lipoplastia / liposução: 2.174.803

2 Aumento de volume do seio: 1.506.475

3 Blefaroplastia  (pálpebras): 1.085.153

4 Rinoplastia (nariz): 985.325

5 Abdominoplastia (abdômen): 681.344

6 Redução do seio (na mulher): 549.994

7 Lifting de seio: 543.848

8 Lifting de rosto: 421.029

9 Otoplastia (ouvido): 242.271

10 Redução do seio (no homem): 235.947

Adaptação: J.Gabriel Barbosa

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