
Tony Blair integra plano de Trump para Gaza, apesar da reputação controversa no Oriente Médio

O ex-primeiro ministro britânico Tony Blair, incluído no plano de paz para Gaza por Donald Trump, já foi mediador no Oriente Médio, mas sua reputação foi manchada por sua participação na guerra do Iraque, ao apoiar os Estados Unidos em 2003.
Ao apresentar seu plano para acabar com a guerra em Gaza, na segunda-feira (29), o presidente americano anunciou que Tony Blair, de 72 anos, faria parte do “comitê da paz”, presidido pelo próprio Trump e encarregado de supervisionar um eventual governo de transição do território palestino previsto por Washington.
Agora, Blair teve um papel importante na elaboração do plano de Trump para Gaza, afirmou Sanam Vakil, diretora do programa para o Oriente Médio no grupo de reflexão Chatham House.
Em agosto, o ex-líder trabalhista foi à Casa Branca junto com o genro do presidente americano, Jared Kushner, para apresentar um projeto destinado a encerrar o conflito em Gaza, explicou Vakil à AFP.
Blair, que foi primeiro-ministro britânico entre 1997 e 2007, trabalhou para “obter apoios no mundo árabe. Conta com a confiança dos líderes dos países do Golfo”, assegura Vakil.
O governo provisório criado após um eventual acordo de paz, solicitaria um mandato da ONU para ser reconhecido como “a autoridade política e jurídica suprema” durante cinco anos, antes de passar o controle aos palestinos.
O plano foi apoiado por vários países árabes e muçulmanos, incluindo Arábia Saudita, Egito, Catar, Turquia, Paquistão e Indonésia.
Israel também parece receber positivamente o possível papel de Blair, que segundo se diz, mantém relações cordiais com o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu.
Porém, a ideia enfrentou a oposição de alguns líderes e analistas palestinos, que destacam que o plano os marginaliza e reduz sua capacidade de autogoverno.
Um deles, Mustafa Barghouti, que foi candidato à Presidência da Autoridade Nacional Palestina em 2005, se mostrou contrário à ideia em declarações à rádio BBC 4.
“É absolutamente inaceitável que Blair assuma a chefia de uma autoridade de transição em Gaza, não precisamos de um dirigente vindo de uma ex-potência colonial”, afirmou.
Blair desempenhou um papel-chave no fim de três décadas de conflito na Irlanda do Norte, impulsionando o processo de negociação que, em 1998, culminou com a assinatura do Acordo da Sexta-feira Santa, após quase dois anos de diálogos intensos.
Durante seu mandato, em outubro de 1998, o ex-ditador chileno Augusto Pinochet foi detido em Londres por agentes da Scotland Yard, em virtude de uma ordem emitida pelo juiz espanhol Baltasar Garzón, que pedia sua extradição para que fosse julgado por crimes contra a humanidade.
O ditador chileno acabaria sendo liberado e voltou ao seu país em março de 2000.
– Invasão do Iraque –
O papel de Tony Blair na invasão do Iraque (2003) foi significativo e amplamente controverso.
Blair foi um dos principais aliados do então presidente americano George W. Bush, naquela invasão, e seus detratores consideram que ele deveria ser julgado por crimes de guerra por isso.
O ex-líder trabalhista, após deixar a política ativa, se concentrou em assessorar empresas dos setores energético e financeiro, além de se envolver em trabalhos de caridade.
O ex-primeiro ministro britânico foi enviado especial entre 2007 e 2015 do Quarteto da Paz para o Oriente Médio (organismo informal que reúne, na questão israelense-palestina, União Europeia, Rússia, Estados Unidos e a ONU), desempenhando um papel de mediador no processo de paz na região.
Devido a isto, conhece bem o assunto, apesar de não terem sido registrados grandes avanços, em um contexto de congelamento do processo de paz.
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