
Trump desaconselha mulheres grávidas a tomar paracetamol e associa fármaco ao autismo

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, desaconselhou na segunda-feira (22) que mulheres grávidas tomem paracetamol, medicamento que vinculou a um elevado risco de autismo em crianças, uma declaração que contradiz a experiência médica, antes de também desacreditar as vacinas.
“Não tomem”, “não deem ao seu bebê”, declarou o republicano durante uma coletiva de imprensa na Casa Branca dedicada ao autismo, um dos temas que mais o preocupam.
“Segundo um rumor — e não sei se é verdade — não existe paracetamol em Cuba porque eles não podem se dar ao luxo de tê-lo. Pois bem, quase não há autismo”, afirmou o presidente.
Trump disse que, diante da possível relação do paracetamol com o autismo — uma condição do neurodesenvolvimento que afeta as capacidades de comunicação e de relacionamento do ser humano —, seria melhor “evitar na medida do possível” o consumo desse medicamento.
De venda liberada nos Estados Unidos sob o nome de Tylenol, o paracetamol ou acetaminofeno é recomendado às grávidas para aliviar a dor ou a febre. Outros medicamentos, como aspirina ou ibuprofeno, estão contraindicados, especialmente no final da gestação.
Arthur Caplan, diretor da divisão de ética médica da Universidade de Nova York, considerou as declarações do presidente “perigosas” e repletas de “informação falsa”.
“Me preocupa que as grávidas se sintam culpadas por tomar Tylenol. Elas sentirão que falharam com seus bebês ao tentar reduzir a febre. Isso não é justo, e ninguém deveria se sentir assim”, declarou Caplan à AFP.
– Necessidade de estudos –
Embora alguns estudos tenham apontado uma possível ligação entre o consumo de paracetamol durante a gravidez e os transtornos do neurodesenvolvimento das crianças, outros descartaram qualquer causalidade.
A acusação deriva de uma “análise deficiente” de trabalhos publicados anteriormente, declarou à AFP David Mandell, professor de Psiquiatria da Universidade da Pensilvânia.
Uma das dificuldades enfrentadas pelos cientistas é que é difícil distinguir os efeitos do consumo desse medicamento das razões pelas quais ele é tomado, explica o especialista em autismo.
“Sabemos que a febre (…) pode aumentar o risco de atrasos e transtornos do desenvolvimento neurológico”, aponta.
Este transtorno, complexo e de espectro amplo, tem sido estudado há décadas, mas o governo Trump prometeu no início do ano que revelaria as causas do que chama de uma “epidemia de autismo” em tempo recorde.
Embora os casos de autismo tenham aumentado nas últimas décadas nos Estados Unidos, muitos cientistas rejeitam a existência de uma epidemia e destacam, ao contrário, os avanços no diagnóstico.
A respeito das origens, os cientistas demonstraram que a genética desempenha um papel importante. Também apontaram certos fatores ambientais, como a neuroinflamação, ou o uso de alguns medicamentos, como o antiepilético Depakine, durante a gravidez.
– Vacinas e hepatite B –
Na segunda-feira, o presidente Trump abordou o tema de maneira extensiva, pediu mudanças no calendário de vacinação infantil e afirmou que as pessoas que não se vacinavam nem tomavam medicação não tinham autismo.
“Estamos analisando cuidadosamente o tema das vacinas”, disse o secretário de Saúde, Robert Kennedy Jr., antes de insistir que no passado a pesquisa sobre o tema foi “ativamente” suprimida.
Kennedy Jr., que promove falsas teorias que vinculam o autismo às vacinas há várias décadas, lidera uma profunda revisão da política de vacinação dos Estados Unidos desde que assumiu o cargo e nomeou um pesquisador convencido do vínculo, apesar de desacreditado por muitos de seus pares, para coordenar os estudos sobre o autismo.
Também na segunda-feira, o Departamento de Saúde dos Estados Unidos aprovou o uso de leucovorina no tratamento de certos aspectos do autismo, como o atraso de linguagem.
O ácido fólico é frequentemente administrado às mulheres grávidas em alguns países para garantir o desenvolvimento saudável dos bebês.
Embora promissora, segundo os resultados iniciais, esta abordagem exige mais pesquisas e pode “gerar falsas esperanças quando não há uma resposta simples”, destacaram vários cientistas americanos especializados em autismo em uma carta conjunta na segunda-feira.
Trump também afirmou que não é necessário vacinar recém-nascidos contra a hepatite B, uma doença incurável e altamente contagiosa.
“A hepatite B é transmitida por via sexual. Não há nenhuma razão para vacinar contra a hepatite B um bebê que acaba de nascer. Eu diria que se deveria esperar até que a criança tenha 12 anos”, afirmou.
No entanto, a hepatite B pode ser transmitida da mãe para o filho durante a gravidez ou o parto.
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