
Ucrânia pede apoio ‘constante’ após anúncio dos EUA de suspensão do envio de algumas armas

A Ucrânia pediu, nesta quarta-feira (2), apoio “constante” para pôr fim à guerra com a Rússia, depois que os Estados Unidos anunciaram que suspenderiam o envio de algumas armas a Kiev, em plena intensificação dos bombardeios de Moscou.
A administração de Donald Trump, que justificou a decisão por sua inquietação diante da baixa de sua própria reserva de munições, minimizou a importância de esta pausa e assegurou que continuam existindo “opções sólidas” para apoiar a Ucrânia.
“Isso não é uma interrupção” da assistência a Kiev nem da entrega de armas, afirmou a porta-voz do Departamento de Estado, Tammy Bruce.
No Departamento de Defesa, seu porta-voz Sean Parnell afirmou que continuam “proporcionando ao presidente opções sólidas quanto à ajuda militar a Ucrânia, on-line com seu objetivo de pôr fim a esta trágica guerra”.
Washington é o principal apoiador militar (e financeiro) da Ucrânia desde o início da invasão russa em fevereiro de 2022. Suas armas, munições e equipamentos — além de suas informações de inteligência — permitiram às forças ucranianas conter o Exército russo, que, no entanto, continua ocupando quase 20% do território ucraniano.
O anúncio ocorre em um momento crítico, já que a Rússia realiza uma das maiores ofensivas no território ucraniano em mais de três anos de conflito.
No entanto, o alcance da decisão dos Estados Unidos permanece incerto.
O presidente ucraniano Volodimir Zelensky declarou na noite desta quarta-feira que Washington e Kiev estão atualmente trabalhando para “esclarecer todos os detalhes” sobre a ajuda militar que os Estados Unidos continuam fornecendo à Ucrânia, “incluindo componentes de defesa aérea”.
Anteriormente, o Ministério da Defesa ucraniano negou que tivesse recebido uma “notificação oficial” por parte dos Estados Unidos sobre a medida e insistiu em que seu aliado essencial deveria manter um apoio “constante” para acabar com o conflito.
– ‘Comprar ou alugar’ –
Ao mesmo tempo, a Ucrânia convocou um diplomata americano, o encarregado de negócios John Ginkel.
“A parte ucraniana destacou que qualquer atraso no apoio às capacidades de defesa da Ucrânia apenas encorajará o agressor a continuar com a guerra e o terror, em vez de buscar a paz”, indicou a chancelaria ucraniana.
De acordo com o meio de comunicação Politico e outros veículos americanos, a medida diz respeito aos sistemas de defesa aérea Patriot, à artilharia de precisão e aos mísseis Hellfire.
Uma porta-voz adjunta da Casa Branca, Anna Kelly, afirmou que a decisão respondia à sua política de “colocar os interesses dos Estados Unidos em primeiro lugar”.
Nas últimas semanas, Zelensky pediu aos Estados Unidos que vendessem sistemas Patriot para enfrentar os ataques diários de mísseis e drones russos.
O líder ucraniano voltou a levantar essa questão para Donald Trump em seu último encontro à margem da cúpula da Otan, no fim de junho.
Mas o magnata republicano mostrou-se evasivo e afirmou que o seu país “também precisa” desses sistemas.
O ministro das Relações Exteriores ucraniano, Andrii Sybiha, reafirmou no X que a Ucrânia está disposta a “comprar ou alugar” sistemas de defesa antiaérea para combater “o grande número de drones, bombas e mísseis” enviados pela Rússia contra seu país.
– ‘Será difícil para nós’ –
A notícia foi recebida com decepção em Kiev e certa apreensão sobre as capacidades do Exército ucraniano em continuar resistindo à investida russa.
“Atualmente, dependemos muito das entregas de armas americanas, por mais que a Europa faça tudo o que pode. Mas será difícil para nós sem as munições dos Estados Unidos”, reconheceu uma fonte militar em declaração à AFP.
Por outro lado, o Kremlin recebeu o anúncio favoravelmente e assegurou que isso ajudará a terminar mais cedo o conflito em curso.
“Quanto menos armas forem enviadas à Ucrânia, mais próximo estará o fim da operação militar especial”, disse à imprensa o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, usando o termo habitual em Moscou para se referir à ofensiva no país vizinho.
Para Shashank Joshi, especialista do Instituto RUSI de Londres, a decisão americana torna “cada vez mais improvável que a Rússia se dê ao trabalho de negociar seriamente”.
Um relatório publicado em maio pelo centro de reflexão CSIS (Center for Strategic and International Studies) alertou sobre a “capacidade” da Ucrânia de lutar contra a Rússia “no longo prazo” se a ajuda americana acabar, um apoio que os europeus “não podem substituir”.
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