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Brasil: Esquentando os tamborins da corrida presidencial

A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro reza por seu marido durante culto em igreja evangélica de Brasília (24.07.2025)
A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro reza por seu marido durante culto em igreja evangélica de Brasília (24.07.2025) Keystone/AP-Eraldo Peres

A imprensa suíça destacou a intenção de Lula em disputar um quarto mandato nas eleições presidenciais do ano que vem - assim como a disposição da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro em entrar na corrida. Se seu marido deixar, claro.

Como de praxe, a mídia helvética reproduziu os principais assuntos da imprensa do Brasil e de Portugal, como os efeitos do fisco brasileiro sobre os lucros da Netflix, e a última gafe do chanceler alemão Friedrich Merz.

Mas duas histórias mereceram destaque mais singular: a transformação da região portuguesa de Comporta em um abonadíssimo resort turístico, e o desafio existencial dos Hi-Merima, um dos muitos grupos indígenas do Brasil que não têm contato com o mundo ‘exterior branco’.

Partiu pro quarto mandato! 

O presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva revelou na quinta-feira, na Indonésia, um mistério que já não era bem um mistério: ele será candidato à reeleição para um quarto mandato em 2026.

Nos últimos meses, Lula, que voltou ao poder em 2023 após dois primeiros mandatos de 2003 a 2010, deu a entender várias vezes que pretendia concorrer novamente se estivesse com boa saúde, mas sem se comprometer abertamente.

Essa oficialização ocorre em um momento favorável para o paladino da esquerda no maior país da América Latina.

Lula e o presidente da Indonésia Prabowo Subianto dão entrevista coletiva no palácio presidencial em Jacarta, 23 de outubro de 2025.
Lula e o presidente da Indonésia Prabowo Subianto dão entrevista coletiva no palácio presidencial em Jacarta, 23 de outubro de 2025. Keystone

Por um lado, o campo conservador está desorientado e sem candidato designado após a condenação do ex-presidente de extrema direita Jair Bolsonaro a 27 anos de prisão por tentativa de golpe de Estado. Por outro lado, a guerra comercial lançada pelos Estados Unidos contra o Brasil favoreceu um renascimento da popularidade de Lula.

“Vou concorrer a um quarto mandato no Brasil (…). Meu mandato termina no final de 2026, mas estou me preparando para disputar novas eleições”, declarou ele durante um discurso ao lado de seu homólogo indonésio Prabowo Subianto, em Jacarta.

Na próxima segunda-feira, “vou fazer 80 anos, mas podem ter certeza de que tenho a mesma energia que tinha aos 30”, afirmou.

No final de 2024, sua capacidade de concorrer à reeleição foi questionada quando ele precisou ser operado de emergência para remover um hematoma no crânio causado por uma queda.

Lula também estava em dificuldades nas pesquisas, principalmente devido à forte inflação nos preços dos alimentos no início de 2025.

Fonte: Le MatinLink externo, Le TempsLink externo, WatsonLink externo (em francês), Basler ZeitungLink externo (BaZ, em alemão), 23.10.2025.

O fator Michelle

Alguns dias antes, os jornais suíços haviam atentado à possibilidade da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro concorrer à presidência em 2026 – um tanto tardiamente, diga-se de passagem. O assunto já vinha sendo explorado na imprensa brasileira há vários meses, mas os suíços basicamente rebombaram uma entrevista de Michelle à agência France Presse.

A Tribune de Genève (TdG) indaga se Michelle Bolsonaro “assumirá o lugar de seu marido Jair, ex-presidente brasileiro de extrema direita inelegível e condenado a uma pesada pena de prisão?”

Sem Jair, a extrema-direita brasileira é uma corrida de jóqueis pela bênção do ex-presidente, a quem nenhum dos demais contendores, como o governador de São Paulo Tarcísio de Freitas ou o mineiro Romeu Zema, ousam desacatar, de olho em seu eleitorado cativo.

O portal da RTS, canal público de televisão da Suíça, aposta que Michelle é uma opção para seduzir o eleitorado feminino com uma vasta base entre os evangélicos. Mas não será só Jair quem vai bater o martelo: “Qualquer decisão sobre possíveis candidaturas será objeto de um debate aprofundado com meu marido e será fruto de orações para discernir a missão que Deus eventualmente desejará me confiar”, declarou a ex-primeira-dama de 43 anos.

Fonte: rts.chLink externo, TdGLink externo, Le MatinLink externo, 18.10.2025 (em francês) 

Uma tragédia amazônica

Atxu Mirama, durante entrevista concedida em Paris.
Atxu Mirama, durante entrevista concedida em Paris. AFP

O jornal Blick deu destaque à uma reportagem também da Agência France Presse (AFP) sobre Atxu Marima, um ex-membro do isolado povo Hi-Merima, na Amazônia. Quando menino, sua mãe fugiu com ele e seus irmãos e entrou em contato com o mundo ‘civilizado’. A família ficou repentinamente exposta a vírus e bactérias que não conheciam em sua vida nômade entre os rios Purus e Juruá e contra os quais, portanto, não tinham defesas.

“Todos adoeceram e morreram”, diz Marima, lembrando-se de como sua mãe e vários irmãos foram vítimas de uma doença que ele descreve como gripe. Marima e quatro irmãos foram os únicos que sobreviveram e foram acolhidos por famílias estranhas.

Sua família adotiva lhe deu o nome de Romerito e o obrigou a trabalhar em «condições semelhantes à escravidão». Quando adolescente, ele fugiu. Marima acredita que provavelmente nenhum de seus irmãos e irmãs esteja mais vivo.

Hoje, com cerca de 40 anos, ele luta para que as comunidades isoladas do Brasil sejam deixadas em paz. Marima trabalha para a Fundação Nacional do Índio (Funai) e supervisiona a área dos Hi-Merima, que foi reconhecida legalmente pelo governo em 2005. “Estou aqui para contar a história do meu povo”, diz ele.

Fonte: BlickLink externo, 17.10.2025 (em alemão)

Comporta: danos irreversíveis

O portal Bluewin chamou a atenção para o processo de monopolização de um paraíso costeiro em Portugal pelos mais ricos.

Acima dos pinheiros e das dunas que se estendem por quilômetros de praias quase desertas neste canto do sudoeste de Portugal, guindastes se erguem dos canteiros de obras de complexos hoteleiros de luxo, ilustrando a transformação desta região de Comporta em um novo refúgio idílico para celebridades e turistas abastados.

A princesa Eugénia, sobrinha do rei Charles III da Inglaterra, divide seu tempo entre Londres e Comporta, atraída, segundo ela, pela simplicidade do lugar: “Posso ir ao supermercado vestida com roupa de ginástica, com o cabelo despenteado, e ninguém se importa”, confessou ela em 2023 no podcast Table and Manners.
A princesa Eugénia, sobrinha do rei Charles III da Inglaterra, divide seu tempo entre Londres e Comporta, atraída, segundo ela, pela simplicidade do lugar: “Posso ir ao supermercado vestida com roupa de ginástica, com o cabelo despenteado, e ninguém se importa”, confessou ela em 2023 no podcast Table and Manners. Keystone

A uma hora de carro ao sul de Lisboa, este local de férias atrai personalidades famosas, como a atriz Nicole Kidman ou a princesa Caroline de Mônaco, a ponto de agora ser apelidado de “a nova Riviera portuguesa” e comparado aos Hamptons, a costa sofisticada localizada perto de Nova Iorque.

Símbolo do “luxo descontraído”, Comporta atrai “uma clientela abastada em busca de natureza, discrição e bem-estar”, resume a consultoria Knight Frank em um relatório recente.

O destino figura entre os cinco mercados residenciais de luxo mais procurados do mundo, de acordo com um ranking publicado no final de setembro por essa consultoria imobiliária internacional.

Entre as primeiras personalidades internacionais a descobrir seu charme, o estilista francês Christian Louboutin, conhecido por seus sapatos de sola vermelha, chegou a abrir seu próprio hotel.

Mas, para alguns moradores da região e defensores do meio ambiente, o outro lado da moeda é mais preocupante. “Mapeamos oito megaprojetos, cada um cobrindo centenas de hectares”, alerta Rebeca Mateus, bióloga e membro da associação “Dunas Livres” (Dunas Livres), que denuncia, em particular, o elevado consumo de água numa região cronicamente ameaçada pela seca.

A associação também se preocupa com os “danos irreversíveis” nas dunas, um habitat frágil e de regeneração lenta, explica à AFP Catarina Rosa, membro do mesmo coletivo.

A transformação da região remonta ao colapso de uma dinastia de banqueiros portugueses, os Espírito Santo, na sequência da crise da dívida de 2011. Até então, essa família era a única proprietária da “Herdade de Comporta”, uma propriedade agrícola com mais de 12.000 hectares.

Após a falência do Banco Espírito Santo, seus proprietários venderam vastas parcelas da propriedade a incorporadoras imobiliárias, que multiplicaram os projetos de residências privadas, complexos hoteleiros e campos de golfe.

Esses investimentos são realizados por grupos portugueses como o da família Amorim, o grupo Vanguard Properties do francês Claude Berda, ou ainda a empresa americana Discovery Land and Company. Esta última desenvolve o projeto Costa Terra Golf and Ocean Club, com cerca de 300 moradias de luxo.

Fonte: BluewinLink externo, 22.10.2025 (em francês)

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