O longo adeus ao grande “Tião”

Homenagens a Sebastião Salgado ocuparam toda a mídia suíça. Nova pesquisa comprova que o Brasil é o maior caldeirão genético do mundo, enquanto que os emigrantes portugueses votam maciçamente num partido anti-migração. E o Pompidou vai pra Iguaçú.
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De 24 a 30 de maio de 2025, vasculhamos a imprensa suíça para dar uma visão geral das notícias mais importantes relacionadas ao Brasil, Portugal ou África lusófona.

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Sebastião Salgado, in memoriam
Praticamente todas as mídias suíças destacaram a morte do fotógrafo e humanista brasileiro Sebastião Salgado, ocorrida na última sexta-feira, 23 de maio. “Tião”, como era conhecido pelos amigos e colegas, foi um artista que fez da fotografia um instrumento para amplificar em imagens as vozes das populações mais carentes e “invisíveis” do planeta, assim como a beleza e a devastação dos ecossistemas mundiais.
“Através das lentes de sua câmera, Sebastião lutou incansavelmente por um mundo mais justo, mais humano e mais ecológico”, disse sua família no comunicado sobre seu falecimento.
O fotógrafo deixou um legado único de imagens de suas centenas de viagens pela floresta amazônica e por todo o planeta, de Ruanda à Indonésia, da Guatemala a Bangladesh, usando suas lentes para capturar tragédias humanas como a fome, a guerra e o êxodo em massa.
Grande testemunha da condição humana e do estado do planeta, Sebastião Salgado via a fotografia como “uma linguagem poderosa para tentar estabelecer uma melhor relação entre o homem e a natureza”, como aponta a Académie des Beaux-Arts francesa em sua biografia.
Ele trabalhou quase exclusivamente em preto e branco, o que considerava tanto uma interpretação da realidade quanto uma forma de traduzir a dignidade irredutível da humanidade.
Há exatamente dois anos, em maio de 2023, Salgado concedeu uma longa entrevista à SWI swissinfo.ch, junto com o ativista indígena Beto Marubo.
Disponibilizamos também a entrevista completa com Sebastião Salgado e Beto Marubo no canal de YouTube da swissinfo em português. Assista AQUILink externo.

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Sebastião Salgado e Beto Marubo: “a Amazônia dá mais dinheiro com as árvores em pé”
Fonte: RTSLink externo, em 23.05.2025 (em francês, com vídeo).
Brasil, campeão mundial da ‘mestiçagem’
A análise dos genomas de quase 3.000 brasileiros confirma que o país possui uma enorme diversidade genética, resultado de mais de cinco séculos de história. Uma descoberta significativa tanto em termos de história quanto de saúde pública.
A pesquisa é histórica, pois envolve o sequenciamento genético completo e em larga escala da população brasileira. Um fato inédito: até então, o Brasil, como a maioria dos países do Sul, não havia sido objeto de estudos genéticos avançados. A pesquisa comparou quase 3.000 genomas brasileiros com um conjunto de dados genômicos já disponíveis, principalmente de populações de ascendência europeia.
Nas últimas décadas, o desenvolvimento da tecnologia possibilitou o surgimento de sequenciadores, máquinas capazes de decifrar o código de letras que compõem as sequências genéticas. O DNA humano é 99,9% idêntico entre todos os indivíduos”, explica a geneticista Fernanda Oliveira. É no 0,1% restante que encontramos as pequenas variações que nos tornam únicos.
“A amostra de 2.723 indivíduos que estudamos representava praticamente todas as regiões brasileiras, incluindo comunidades urbanas, rurais, ribeirinhas e indígenas”, explica a pesquisadora. Revelamos a notável diversidade genômica dos brasileiros, com a identificação de 8.721.871 novas variantes (ou mutações)”.
O estudo também mostra um quadro da violência sexual da colonização. A maioria das linhagens do cromossomo Y, herdadas dos homens, veio de europeus (71%)”, explica o geneticista. Enquanto a maioria das linhas mitocondriais, herdadas das mulheres, era africana (42%) ou indígena (35%). Esse é o resultado de um cruzamento não natural, um reflexo da violência que os povos indígenas e as mulheres escravizadas sofreram”.
O estudo, do qual o Ministério da Saúde é parceiro, pode levar a avanços médicos. Os mais de 500 anos de cruzamento entre essas populações ancestrais deram origem ao brasileiro de hoje, que é um mosaico de várias frações desse genoma”, enfatiza Lygia da Veiga Pereira. Com base nessa pesquisa, poderemos estudar a saúde de nossa população com maior precisão.
Entre as muitas mutações descobertas, os pesquisadores identificaram mais de 36.000 que parecem ter um efeito sobre o metabolismo e, portanto, poderiam desempenhar um papel em certas doenças. A compreensão das mutações genéticas específicas da população brasileira poderia ajudar a lançar estratégias de saúde pública e desenvolver novos tratamentos adaptados às necessidades do país.
Fonte: Le TempsLink externo, em 27.05.2025 (em francês)
Comunidade portuguesa na Suíça fecha com a extrema direita em casa
O partido populista Chega, de extrema-direita, é agora o segundo partido mais forte nas eleições parlamentares em Portugal. O fator decisivo foram os votos de cidadãos portugueses no exterior que estão frustrados com os partidos estabelecidos, diz a reportagem da TV pública suíça SRF.
A democracia portuguesa existe desde 1974, quando a longa ditadura foi encerrada sem derramamento de sangue. “Durante muito tempo, tivemos uma democracia com fortes valores antiautoritários. Isso finalmente acabou”, diz António Costa Pinto, professor no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa que estuda a democracia portuguesa há mais de 40 anos. “Não estamos mais imunes ao populismo de direita”, diz Pinto.
A reviravolta ficou evidente há um ano, quando o Chega obteve 18% dos votos nas últimas eleições parlamentares. Um motivo importante para a ascensão do partido é a questão da migração, diz Pinto. A imigração, que foi promovida pelos socialistas nos últimos anos, provocou muitos temores.
“A imigração não é rejeitada por motivos racistas. Mas ela é culpada pelos baixos salários em Portugal.”
A partir de 2017, migrantes do Brasil, de ex-colônias africanas como Angola e de outros países afluíram para Portugal. A proporção de estrangeiros aumentou muito, especialmente no sul, diz Pinto. E assim, o sul, onde os comunistas eram historicamente favorecidos, agora está votando majoritariamente em Chega.
Os exilados portugueses fizeram a balança pender para o lado oposto nessas eleições. Dois dos quatro assentos parlamentares reservados a eles foram para o Chega.
O desenvolvimento não é isento de uma certa ironia, diz Pinto. Centenas de milhares de portugueses emigraram em busca de trabalho. No entanto, em seu antigo país de origem, os imigrantes estão sendo observados com preocupação.
Os portugueses na Suíça são particularmente simpáticos ao Chega. 45,72% favoreceram o partido de André Ventura este ano.
“Os imigrantes portugueses no Brasil votam a favor do Chega. E alguns dos imigrantes na Suíça e na França também estão votando no Chega. Nós sabemos disso.”
Fonte: SRFLink externo, em 29.05.2025 (em alemão)
Pompidú (sic) vai para Iguaçú
O museu Centre Pompidou, baseado em Paris, terá uma filial no Brasil. França e Brasil assinaram um acordo na quarta-feira (28.05), prevendo que o Centro Pompidou brasileiro deverá ser inaugurado em novembro de 2027, próximo às Cataratas do Iguaçu. O Brasil faz fronteira com o Paraguai e a Argentina perto do Patrimônio Mundial. Além de exposições, o centro também oferecerá apresentações, séries de filmes, festivais e palestras.
Enquanto isso, o Centre Pompidou em Paris está fechando para uma reforma de cinco anos. O impressionante edifício com os tubos coloridos na fachada precisa ser despoluído de amianto, entre outras coisas. A exposição permanente com 2.000 obras de artistas como Marc Chagall e Frida Kahlo está fechada desde março.
O museu de arte moderna e contemporânea foi inaugurado em 1977. O iniciador e homônimo foi o então presidente Georges Pompidou, que queria criar um centro cultural que atraísse pessoas de todas as camadas sociais.
Os arquitetos Renzo Piano e Richard Rogers criaram um edifício incomum com enormes espaços de exposição, movendo a estrutura de suporte, os canos e até mesmo as escadas rolantes para o exterior. Na época, o edifício foi alvo de críticas ferozes, mas hoje o Centre Pompidou já se tornou um marco parisiense.
Fonte: nau.chLink externo, em 28.05.2025 (em alemão)
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