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Dez anos da maior tragédia da aviação suíça

Um ano após o acidente de 1998, parentes das vítimas reuniram-se no farol de Peggy Cove. Keystone

O 03 de setembro de 1998 foi um dia negro na história da aviação suíça. A queda de um MD-11 da Swissair perto de Halifax, com a morte das 229 pessoas, marcou o começo do fim da companhia suíça.

Após a falência da Swissair, grande parte da frota de MD-11 foi incorporada pela Swiss. A tragédia teve conseqüências também para a segurança aérea.

Dez anos após a catástrofe de Halifax, foi realizada na madrugada desta quarta-feira (03/09) uma cerimônia em memória das 229 vítimas, na província da Nova Escócia, na costa canadense. O governador Rodney MacDonald lembrou a tragédia e a ajuda prestada pelos moradores locais, bem como pediu orações pelos parentes das vítimas.

Para elas, a lembrança da perda de entes queridos dói até hoje. Na madrugada de 03 de setembro de 1998, no vôo SR 111, que partira de Nova York com destino a Genebra, ocorreu um incêndio no cockpit de um MD-11 da Swissair.

Não houve tempo para um pouso de emergência. O avião caiu no mar na costa da aldeia de pescadores Peggy Cove, perto de Halifax, no Canadá. Nenhum dos 215 passageiros – entre eles 41 suíços – e 14 tripulantes sobreviveu.

Bom gerenciamento da crise

Até aquele dia, a Swissair tinha a fama de ser uma companhia extremamente segura. Somente um acidente com um DC-8 na aterrissagem em Atenas, em 7 de outubro de 1979, havia sido atribuído a falha humana. O capitão e o primeiro oficial foram condenados a cinco anos de prisão em 1983.

Após o acidente de Halifax, a consternação com que direção da Swissair informou a opinião pública foi vista positivamente no país e no exterior. Nos EUA, o gerenciamento da crise pelos suíços foi considerado exemplar. Ninguém podia imaginar que, cinco anos depois, o grupo Swissair iria à falência.

As investigações do acidente pela autoridade de segurança aérea canadense duraram quatro anos e custaram 39 milhões de dólares. Durante meses, mergulhadores resgataram do fundo do mar os destroços da aeronave. Dos cadáveres apenas foram encontradas pedaços, o que dificultou a identificação.

Lições da tragédia

O friburguês Jean Overney, ex-diretor do Escritório de Investigações de Acidentes Aéreos (BEAA), foi um dos primeiros a chegar a Halifax na manhã de 03 de setembro de 1998. “Foi uma catástrofe aérea excepcional, um caso único”, diz em entrevista à swissinfo por ocasião do décimo aniversário do acidente.

Ele contou que sua primeira tarefa foi montar uma equipe de investigadores. “O grosso do trabalho foi, primeiramente, recuperar os cadáveres. Fui umas vinte vezes ao Canadá. Duas pessoas do BEEA participaram das investigações”, lembra.

A experiência dessa investigação ajudou o engenheiro e piloto a gerenciar outras catástrofes: os acidentes da Crossair em Nassenwil e em Bassersdorf, e a colisão de dois aviões no ar em Ueberlingen. Jean Overney deixou a direção do BEEA em maio passado, mas ainda presta assessoria ao seu sucessor.

Profissionalmente, ele diz ter aprendido no caso Halifax novas técnicas de recuperação de memórias de computador. “Também seguimos uma excelente escola de comunicação com a imprensa. Os canadenses haviam tido uma experiência ruim anos antes e tinham aprendido a lição. É preciso ser muito aberto com a imprensa”, diz Overney.

“Nossa missão como administração suíça é tranqüilizar as pessoas. Nesses casos, somos um pouco como sacerdotes. Consolamos, escutamos. É preciso levar a sério todas as solicitações”, afirma.

Descoberta para mais segurança

O fato de a investigação não ter permitido descobrir a causa definitiva da catástrofe não deixou Overney frustrado. “Descobrimos algo muito importante, que um isolante elétrico havia sido aprovado em testes, mas que não resistia a um curto-circuito como o que ocorreu no vôo SR 111. Isso permitiu modificar as regras de certificação. Certamente teria sido melhor se tivéssemos encontrado a causa do curto-circuito. Em geral, encontramos a causa final das catástrofes. Mas, neste caso, as investigações levaram a descobertas que me permitem dizer que essas 229 pessoas não morreram em vão.”

Em conseqüência da catástrofe de Halifax, foram feitas 14 recomendações de segurança para a aviação civil. Hoje, quando se desenvolve fumaça a bordo, é imediatamente preparado um pouso de emergência no aeroporto mais próximo.

A maior parte da frota de MD-11 continuou ativa até 2004 na Swiss, sucessora da falida Swissair. Segundo o jornal suíço NZZ, algumas aeronaves ainda estariam sendo usadas pela Varig.

Segundo a assessoria de imprensa da Varig, essa informação “não é verdadeira. A empresa deixou de usar essa aeronave há mais de um ano e hoje sua frota é composta por modelos Boeing 737-700 e 737-800 Next Generation”, informou a companhia.

Em Peggy Cove, um monumento lembra o mais grave acidente da história da aviação suíça.

swissinfo, Ariane Gigon (com agências)

Na madrugada de 03 setembro de 1998 (horário suíço), o vôo SR 111 da Swissair parte de Nova York com destino a Genebra, com 215 passageiros e 14 tripulantes a bordo. Cinqüenta e 53 minutos após a decolagem, os pilotos percebem um cheiro estranho no cockpit.

Eles percebem a presença de fumaça, pedem autorização para aterrissar e são desviados para Halifax. Seis minutos depois, as comunicações são interrompidas antes da queda do avião no Atlântico, à altura de Peggy Cove, na Nova Escócia. A tragédia durou 20 minutos.

Entre as vítimas do acidente encontrava-se 136 passageiros estadunidenses, 41 suíços e 30 franceses.

Durou mais de um para recuperar 98% dos destroços da aeronave.

O relatório do Conselho de Segurança dos Transportes do Canadá (TSB) foi publicado em 27 de março de 2003.

Segundo o advogado genebrês Christian Lüscher, a Swissair aceitou pagar 198.000 francos suíços de indenização por vítima.

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