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Ex-ditador morre sem ser julgado

Em 1998, a justiça suíça pediu a extradição de Pinochet Keystone

O general Augusto Pinochet, mesmo morto, continua dividindo os chilenos. Chefe de uma das mais sangrentas ditaduras da América Latina, ele morreu no dia internacional dos direitos humanos.

Sob a ditadura Pinochet, 3 mil pessoas foram mortas, milhares foram torturadas e se exilaram, inclusive na Suíça.

A morte do general Augusto Pinochet vira uma página sangrenta da história do Chile. Ele morreu de infarto aos 91 anos, em Santiago, e será sepultado terça-feira. Receberá homenagens militares mas não as honras de um enterro oficial nem de luto nacional.

A presidente Michelle Bachelet, cujo pai morreu sob a tortura durante a ditadura (1973 – 1990) – não comparecerá à cerimônia de sepultamento.

Os adversários do velho general, principalmente jovens, saíram às ruas de Santiago para comemorar após o anúncio da morte de Pinochet. Eram cerca de 5 mil pessoas, segundo as agências de notícias internacionais, que cantavam a “liberação do Chile”. Houve confronto com a polícia, feridos e detidos.

Simpatizantes do general, nas imediações do hospital militar onde ele faceleu, choravam e cantavam o hino nacional.

A Igreja católica chilena lançou um apelo à “serenidade e à sabedoria” entre simpatizantes e adversários de Pinochet.

Nunca condenado

O general tomou o poder em 11 de setembro de 1973, através de um golpe de Estado que derrubou o presidente eleito Salvador Allende. Seguiu-se uma repressão sangrenta que causou a morte de pelo menos 3 mil pessoas, segundo organizações de defesa dos direitos humanos.

No entanto, o ditador jamais foi condenado pela justiça chilena, apesar de vários processos por violação dos direitos humanos e corrupção.

Contas bancárias descobertas nos Estados Unidos conteriam 12 milhões de dólares de origem duvidosa, segundo as autoridades chilenas, que ainda tentam recuperar o dinheiro. Parte dessa soma teria transitado pela Suíça que, no mês passado, atendeu a um pedido de colaboração judiciária do Chile, para o envio de documentos bancários.

A única personalidade política que declarou “estar profundamente triste” com a morte de Pinochet foi a ex-primeira ministra britânica Margareth Thatcher, muito ligada ao general.

Nos Estados Unidos, a Casa Branca divulgou um comunicado afirmando “pensar nas vítimas do reino de Pinochet e às suas famílias”.

Problemas com a justiça suíça

Em 1998, o general estava na Grã-Bretanha para tratamento médico, Pinochet foi supreendido com um mandado de prisão expedido pelo juiz espanhol Baltasar Garzon, pelas morte de cidadãos espanhóis durante a ditadura chilena.

Em outubro de 1998, o então procurador do Cantão de Genebra, Bernard Bertossa, pediu a extradição de Pinochet para a Suíça, por causa da morte do estudante binacional suíço-chileno, Alexei Jaccard, assassinado em 1977, em Buenos Aires, por agentes chilenos, segundo a família de Jaccard.

Finalmente, em março de 2000, a Grã-Bretanha colocou o general num avião para Santiago, decisão baseada em relatório médico que considerava Pinochet inapto a se apresentar diante de um juíz.

Exilados na Suíça

Milhares de chilenos refugiaram-se da ditadura militar na Suíça, graças principalmente à solidariedade da população. Alguns foram enviados de volta ao Chile e ninguém sabe o que ocorreu com eles.

No livro “O Crivo Helvético” (Editions d’En Bas, 1982), sobre os refugiados políticos na Suíça, Marie-Claire Caloz-Tschopp descreve o caso de 32 chilenos que chegaram à Suíça em outubro de 1974. O governo queria que eles deixassem imediatamente o território helvético mas eles foram acolhidos e escondidos por famílias suíças.

Em outubro de 1985, 52 chilenos deveriam ser expulsos mas foram acolhidos por uma paróquia em Zurique, onde fizeram greve de fome até obterem o direito de ficar.

Ainda hoje, o exílio provoca tensões entre a Suíça e o Chile, por causa da admissão provisória de um gerrilheiro de esquerda, membro da Frente Patriótica Manuel Rodrigues, condenado no Chile que fugiu da prisão em 1996 e se refugiou na Suíça.

swissinfo com agências

De 1973 a 1990 (quando Pinochet deixou a presidência), a Suíça recebeu 5.828 pedidos de asilo de cidadãos chilenos. De 1973 a 2005, 2.469 chilenos se naturalizaram suíços. No final de 2005, havia 3.564 residentes chilenos na Suíça.

Dia 24 de novembro de 2006, Suíça e Chile firmaram un acordo de colaboração judiciária e um acordo de readmissão. Berna já tem acordos migratórios com 44 países.

Em maio, foi apresentada uma moção parlamentar pedindo o confisco de eventuais bens de Pinochet na Suíça. As investigações continuam.

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