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Quando “Iugo” suscitava respeito

Nos anos 90, a guerra dos Bálcãs dividiu a ex-Iogoslávia em várias nações. Keystone

Os imigrantes vindos dos Balcãs constituem um grupo numeroso e heterogêneo ; para muitos deles, a integração realiza-se com dificuldade.

Embora apreciados, no passado, por sua diligência no trabalho, a imagem dos ex-iuguslavos ficou parcialmente arranhada por alguns maus elementos infiltrados entre os imigrantes.

Freqüentemente se fala deles, mas em tom acusador. Estão juntos em um mesmo grupo, mas cada um com raízes e caminhos diversos. Muitos estão na Suíça há bastante tempo, no entanto são ainda considerados hóspedes indesejáveis.

Muitos deles não estão reunidos na Suíça por acaso: nós fomos buscá-los. São imigrantes da ex-iugoslávia, que com 370 mil pessoas, representam hoje a comunidade estrangeira mais importante do país.

Além disso, há cerca de três anos, se constituem nos mais ativos quando se trata de naturalização. A eles foi entregue um terço dos novos passaportes vermelhos de cruz branca.

“Chegam os Iugos”

Sérvio-montenegrinos, kosovares, croatas, bósnios, macedônios e eslovenos. São numerosas nacionalidades que, apesar do esfacelamento da República Iugoslávia, ainda estão reagrupadas sob o termo único de “Iugo”.

Um termo freqüente, mas associado, propositadamente, à imagem de uma pessoa que se refugia na Suíça somente para se beneficiar da prosperidade do país. Entretanto, esse termo nem sempre teve um caráter depreciativo.

O zuriquense de origem sérvia, Dejan Mikic, chegou à Suíça em 1967 e se lembra que, de fato, no início dos anos 80, os jornais com a manchete “Chegam os Iugos” anunciavam, com um temor reverente, a chegada de uma famosa equipe de basquetebol.

Trabalhadores assíduos e solidários

Beneficiando-se de um acordo de 1965, negociado entre Berna e Belgrado, a imigração dos Bálcãs trouxe, inicialmente, para a Suíça, engenheiros, médicos e dentistas de grande competência.

Quase desde o início, este fluxo de especialistas foi acompanhado pela imigração de trabalhadores sazonais. A escolha de alguns suíços para recrutar a mão-de-obra de uma mesma região, deu certo: o trabalho era realizado com eficiência e disciplina, graças à solidariedade e à ajuda recíproca entre conterrâneos.

Se alguém trabalhasse mal, eram os próprios membros do grupo que se encarregavam de mandá-lo de volta à cidade de origem : não queriam denegrir a reputação deles perante o patrão.

Via da guerra

O quadro da situação muda, drasticamente, depois da morte do marechal Tito (1980). O agravamento das condições sócio-econômicas estimula, de fato, numerosas pessoas das classes menos favorecidas a buscarem uma alternativa no exterior.

A mão-de-obra, pouco qualificada e com uma baixa formação escolar, se concentra principalmente no ramo da construção civil – este único setor recrutou, por exemplo, cerca de 40 mil pessoas de Kosovo – no ramo da indústria e da restauração. E, em menor escala, da agricultura.

Mais tarde, em 1991, a explosão da guerra dos Bálcãs piorou a situação, como explica a swissinfo o diretor do Fórum Suíço para os Estudos da Migrações (FSM), Philippe Wanner: “A estrutura socio-demográfica dos migrantes muda : se, inicialmente, os expatriados eram representados apenas por trabalhadores, depois da guerra chegaram na Suíça famílias inteiras e refugiados”.

Arruinando uma imagem

De pouco valeu a decisão do Governo de não classificar a ex-Iugoslávia entre os países ” tradicionalmente de recrutamento de mão-de-obra externa” (dentro da chamada política das três esferas que beneficia os países ricos) – procurando ignorar, de fato, os 25 anos de uma imigração organizada.

O agrupamento familiar prosseguiu mesmo assim, e a população balcânica na Suíça, cresceu, totalizando quase 200 mil novos imigrantes em dez anos. Mas não é mais bem-vinda.

“Entre os refugiados que chegaram à Suíça se infiltraram até mesmo traficantes de droga e pessoas ligadas às máfias locais”, observa Wanner.

Alguns intrusos danificaram sensivelmente a imagem dos imigrantes da ex-Iugoslávia. Eles não são mais vistos como intelectuais ou bravos trabalhadores, mas, como criminosos.

Não faça de cada erva um feixe

Percorrendo os dados estatíticos sobre a criminalidade, os imigrantes dos Bálcãs estão, efetivamente, super-representados. Um estudo nacional, publicado a esse propósito, observa que o percentual de ex-iugoslavos – considerando o total de estrangeiros condenados pelas autoridades – subiu de 20% em 1991 para 28% em 1998. Os números, entretanto, não revelam tudo.

Antes de mais nada, os profissionais do crime, pertencentes à rede dos mafiosos de origem albanesa, representam somente uma restrita minoria, dos 200.000 albanófonos residentes na Suíça.

Em segundo lugar, deve-se levar em conta que na origem de comportamentos deploráveis sempre há uma situação social complicada. “Além da vivência pessoal dos iugoslavos, geralmente difícil de conceber, é importante ter em conta que a sociedade que acolhe desempenha um papel fundamental”, afirma Janine Dahinden.

A colaboradora do FSM recorda, a propósito, que os sentimentos de discriminação e de racismo estão sempre presentes. Segundo ela, deve-se principalmente à sociedade de acolhimento o fato de não se conseguir integrar essas pessoas. E isto apesar do fato de que uma em cada cinco pessoas, de origem balcânica, ter nascido justamente Suíça.

Os ex-iugoslavos de hoje, os italianos de ontem

Uma marcante discriminação dos ex-iuguslavos pode ser observada, principalmente, no mundo do trabalho e no âmbito escolar. De acordo com os resultados de algumas pesquisas, ter um nome albanês seria suficiente basta para restringir fortemente as possibildades de encontrar um emprego, mesmo com qualificações idênticas às de um cidadão suíço.

Os imigrantes da ex-Iugoslávia estão passando, dessa forma, pelas mesmas dificuldades vividas no passado pelos italianos.

O futuro seria, no entanto, róseo. Pelo menos de acordo com o que escreve o professor Ludwig Hasler em seu livro O amor proibido pelos Balcãs (Zurique 2003):

“Dentro de 30 anos diremos: é fantástico que as pessoas dos Balcãs estejam aqui. Eles trouxeram um colorido, uma nota de cores melancólicas à desbotada música helvética”.

swissinfo, Luigi Jorio
Tradução de J.Gabriel Barbosa

– Segundo alguns especialistas, nem todas as populações da ex-Iugoslávia na Suíça se defrontaram com os mesmos problemas.

– Os albanófnos tiveram, de fato, maior dificuldade de integração que os sérvios, croatas e bósnios.

– Particularmente, kosovares e macedônios registraram uma lacuna quanto à formação; a taxa de desemprego é, além do mais, sensivelmente mais elevada para os imigrantes de Kosovo.

370 mil imigrantes da es-Iugoslávia constituem a maior comunidade estrangeira da Suíça
Em 1990, eram 172.777.
60.916 em 1980 e 24.971 em 1970
A maior parte dos ex-iugoslavos provêm de Kosovo (36%), do resto da Sérvia-Montenegro (22%), da Macedônia (16%), de
Bósnia (14%) e da Croácia (12%).

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