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Suíços recusam sistema de saúde pública

Os eleitores suíços recusaram no domingo 28 de setembro a criação de um sistema de saúde pública que terminaria com o atual sistema de saúde privado obrigatório. Nos últimos dez anos, essa foi a terceira tentativa de reforma de um sistema baseado em mais de 60 planos de saúde da iniciativa privada.

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A última proposta, lançada por partidos de centro-esquerda, pacientes e grupos de consumidores, pretendia substituir as mais de 60 seguradoras privadas por um sistema único público que administrasse o seguro de saúde básico obrigatório.

Os defensores da iniciativa argumentaram que o sistema atual é muito caro e desvantajoso para os consumidores, pois não há uma concorrência real entre as seguradoras. Além disso, eles acusaram as companhias de seguros de tentar atrair clientes jovens e saudáveis, o que prejudica o princípio da solidariedade com os mais velhos e doentes que rege o sistema.

Os promotores da iniciativa disseram também que seria possível economizar até 350 milhões de francos (372 milhões de dólares) com a administração, além de reduzir a despesa total da saúde em cerca de 10% ao longo dos próximos anos.

No entanto, a maioria dos partidos políticos, do governo e da comunidade empresarial recomendou a rejeição da iniciativa, argumentando que a Suíça tem um dos sistemas de saúde mais bem-sucedidos do mundo.

Os adversários da iniciativa alertaram contra uma organização burocrática ineficiente se os cidadãos não fossem mais livres para decidir sobre a seguradora de saúde de sua escolha.

Aumento dos custos

O pagamento do seguro de saúde básico tornou-se obrigatório para os residentes suíços em 1994.

As mensalidades dos planos de saúde aumentaram constantemente nas últimas décadas. Os gastos com a saúde atingiram um total de 68 bilhões de francos suíços, pouco mais de um terço só com o seguro básico.

Na quinta-feira (25), o ministro do interior Alain Berset, cuja pasta inclui as questões de saúde, anunciou um aumento médio de 4% nas mensalidades dos planos de saúde obrigatórios no próximo ano.

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Segundo Berset, o aumento é o resultado do progresso tecnológico e do envelhecimento da população e é provável que continue no futuro.

Os partidários da instituição de um único plano de saúde por estado da Confederação Suíça para o seguro obrigatório de base disseram que este último aumento mostra as graves falhas no sistema de saúde suíço.

Divisão linguística

Claude Longchamp, especialista do instituto de pesquisas e sondagens de opinião GfS Bern diz que a maioria dos cidadãos (61,9% votaram contra a reforma) prefere o status quo, se preocupando principalmente com o aumento contínuo das mensalidades e uma possível redução nos serviços de saúde.

Como previsto pelo instituto, os eleitores de língua alemã, que formam a maioria da Suíça, recusaram a iniciativa, enquanto que as regiões de língua francesa e italiana aprovaram na sua maioria.

O resultado está em consonância com as votações anteriores sobre questões sociais, quando os grupos linguísticos minoritários do país se mostraram favoráveis em dar ao Estado um papel maior em matéria de saúde.

O assunto em questão provocou debates acalorados entre apoiadores e adversários da iniciativa antes do dia da votação. As companhias de seguros de saúde foram acusadas de usar o dinheiro dos assegurados para financiar uma campanha de propaganda contra a iniciativa.

O comparecimento às urnas no domingo ficou em torno de 45%, apesar de amplo interesse público no assunto.

Gosto amargo

Os suíços também recusaram em peso uma iniciativa que visava uma igualdade de tratamento no imposto pago em refeições consumidas em restaurantes e as de pronta entrega (“take-away”). Atualmente as primeiras pagam uma taxa de IVA de 8%, enquanto que as segundas apenas 2,5%.

Esta diferença remonta à introdução do IVA em 1995. Naquela época, o take-away ainda não era generalizado. O que não é mais o caso hoje, os take-away se multiplicaram e competem cada vez mais com os restaurantes tradicionais. Muitos deles são regularmente obrigados a fechar as portas devido à fraca rentabilidade.

Com a recusa da iniciativa por 71,5% dos eleitores, uma pizza consumida no restaurante continuará pagando mais imposto, e com isso custando mais caro, do que a mesma comprada para levar para casa.

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