
‘Como renascer’, palestinos reencontram familiares após deixarem prisões israelenses

Os prisioneiros palestinos libertados por Israel nesta segunda-feira, em virtude da trégua em Gaza, sentiram-se tomados pela alegria ao se reencontrarem com suas famílias, em meio a uma multidão que os recebeu tanto na Cisjordânia quanto na Faixa de Gaza.
Alguns prisioneiros fizeram o sinal da vitória e outros tinham dificuldade para caminhar sem ajuda, mas todos foram recebidos por uma multidão tão numerosa que tiveram dificuldade para descer do ônibus que os trouxe das prisões israelenses até a cidade de Ramallah, na Cisjordânia ocupada.
“É um sentimento indescritível, como renascer”, declarou um dos libertados, Mahdi Ramadan, ladeado por seus pais, com quem disse que passaria sua primeira noite fora da prisão.
A poucos passos dali, familiares se abraçavam, jovens choravam e encostavam as testas uns nos outros. Alguns chegaram até a desmaiar de emoção ao rever seus entes queridos depois de anos — e, em alguns casos, décadas — de encarceramento.
A multidão também entoou, em sinal de celebração, “Allahu akbar”, ou “Deus é o maior”, em árabe.
Vários ônibus com detentos também chegaram à cidade de Khan Yunis, no sul da Faixa de Gaza, em meio a gritos de júbilo, informou um jornalista da AFP.
A comitiva avançava lentamente, cercada por uma multidão compacta e eufórica.
Ao descer dos ônibus, alguns dos recém-libertados cambaleavam, outros olhavam radiantes ao redor ou se ajoelhavam para beijar o chão, chorando. Em seguida, a pé, em cadeiras de rodas ou assistidos por membros da Cruz Vermelha, dirigiram-se ao pátio do complexo hospitalar Nasser.
Nesse terreno baldio e arenoso, cercado por galpões, centenas de pessoas esperavam desde a manhã o retorno de seus familiares. Lá, foram recebidos com bandeiras palestinas, mas também com as verdes do Hamas e as negras do braço armado da Jihad Islâmica.
Entre os palestinos libertados em virtude do acordo de trégua negociado pelos Estados Unidos estão 250 detidos por motivos de segurança, incluindo condenados por matar israelenses, assim como cerca de 1.700 palestinos presos pelo exército israelense em Gaza.
Israel concordou em libertá-los em troca da entrega dos reféns ainda vivos na Faixa de Gaza, no âmbito da primeira fase do plano para pôr fim à guerra.
A guerra em Gaza começou após o ataque do Hamas em outubro de 2023 em Israel, que resultou na morte de mais de 1.219 pessoas, segundo um levantamento da AFP com base em números oficiais israelenses.
Em Gaza, o Ministério da Saúde controlado pelo governo do Hamas anunciou nesta segunda-feira um balanço de 67.869 mortos na ofensiva lançada por Israel nesse território palestino em resposta ao ataque de outubro de 2023.
– “Nunca vi meu pai” –
Para Nur Sufan, de 27 anos, a libertação significa ver pela primeira vez seu pai seu pai, Musa, que foi preso meses após seu nascimento.
Sufan chegou a Ramallah com outros familiares saídos da cidade de Nablus, mais ao norte, e passaram a noite em seu carro esperando a liberação dos presos. “Nunca vi meu pai (…) É um momento muito bonito”, disse Sufan.
Assim como ele, muitos vieram de todas as partes da Cisjordânia, apesar das restrições às viagens no território palestino.
Os meios de comunicação palestinos reportaram no domingo que as autoridades israelenses tinham pedido aos familiares dos presos para se absterem de comemorações multitudinárias pela libertação.
“Não são permitidas recepções, nem comemorações, nem reuniões”, disse Alaa Bani Odeh, que veio de Tammun, no norte da Cisjordânia, para buscar seu filho de 20 anos, preso há quatro.
A AFP falou com vários presos que descreveram os mesmos planos para suas primeiras horas fora da prisão: ir para casa e ficar com a família.
“Os prisioneiros vivem da esperança (…) Voltar para casa, para nossa terra, vale todo o ouro do mundo”, disse um dos presos libertados, Samer al Halabiyeh.
“Se Deus quiser, a paz vai prevalecer e a guerra em Gaza vai terminar”, acrescentou. “Agora, só quero viver a minha vida”.
lba/crb/al/feb/sag/an/mvv/aa/mmy/rnr/lm/am