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Lausanne inaugura seu novo complexo de museus

Os fundos do museu dão para os trilhos de trem
Os fundos do novo museu dão para os trilhos de trem Matthieu Gafsou

A inauguração de um grande museu de arte este fim de semana na quarta maior cidade da Suíça é o primeiro passo de um vasto projeto repensando o papel da arte em um mundo em rápida evolução. Os organizadores esperam que a sua localização perto de um dos centros ferroviários mais movimentados do país o coloque no caminho de pessoas que talvez nunca tenham pisado em um museu, mas que cá deem um pulinho a caminho de outro lugar.

O Museu Cantonal de Belas ArtesLink externo (MCBA) abre hoje ao público em sua nova localização, quase 30 anos após o lançamento oficial do projeto. O museu estava alojado no apertado Palácio de Rumine, num espaço que partilhava com museus de arqueologia e história, dinheiro, geologia e zoologia. A decisão de 1991 de mudá-lo para um edifício autônomo – uma ideia já proposta em 1924 – foi recebida com feroz oposição e os planos para um projeto espetacular à beira do lago foram descartados por referendo popular em 2008.

O cantão de Vaud não desistiu e projetou 12 potenciais locais na prancheta. Um deles destacou-se imediatamente. Um galpão de locomotivas fora de uso, adjacente à estação de trem de Lausanne, havia ficado disponível, e os 25.000 metros quadrados foram suficientes para acomodar também os museus de fotografia e design, ambos alojados em edifícios históricos, mas impraticáveis.

A histórica parede de vidro
A histórica parede de vidro Matthieu Gafsou

O novo projeto foi revolucionário: em vez de levar as pessoas aos museus, os museus se aproximavam das pessoas. Em vez de uma ilha cultural isolada, toda uma zona ao redor da estação de trem de Lausanne foi remodelada para servir como área de trânsito para o número cada vez maior de passageiros de trem. O conceito de uma “plataforma cultural” (a 10ª plataforma da estação, ou “Plateforme 10”) nasceu com o museu de artes visuais liderando o caminho.

‘Valeu a espera’

Calejadas com os perigos de outra derrota popular nas urnas, as autoridades iniciaram uma campanha para conquistar o público e trabalharam em estreita colaboração com Bernard Fibicher, director do MCBA, para incentivar um maior envolvimento da população local. Assim, organizaram numerosas visitas do público e uma exposição histórica, “Balthus inacabado”Link externo do encenador norte-americano Robert Wilson, que teve lugar no porão também inacabado do edifício, um ano antes da inauguração oficial.

Fibicher acredita que o museu de hoje valeu toda a espera e esforço.

“É um edifício muito elegante, bonito, poderoso e ao mesmo tempo funcional”, diz ele. O diretor acredita que os jovens arquitetos do Estudio Barozzi VeigaLink externo de Barcelona, que tinham apenas 35 anos quando o projeto começou, contribuíram para o espírito de colaboração. Criaram um design notavelmente sóbrio que conserva a memória do galpão da locomotiva.

Este breve vídeo mostra como foi construído o MCBA, preservando a fachada original da sala de locomotivas que se tornou o hall de entrada com 17,5 metros de altura. 



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Além disso, as tensões devidas a atrasos no planejamento público ajudaram a construir a coleção do museu, segundo seu diretor. Fibicher diz que, ao longo dos anos, potenciais doadores anunciaram que, se o museu acontecesse, eles doariam obras importantes.

Os colecionadores mantiveram a palavra e muitas dessas obras estão incluídas na primeira exposição, incluindo uma rara pintura  de Paul Klee.

Paul Klee, Am Nil, 1939, MCB-A
Paul Klee, Am Nil (Sobre o Nilo), 1939, MCBA, doação anônima Peter Schälchle

Talvez a obra doada mais espetacular seja a árvore de 14,5 metros de altura de Giuseppe Penone que adorna o hall de entrada, um presente da galerista Alice Pauli, de Lausanne.

Giuseppe Penone, Luce e ombra, 2011 in the MCB-A hall
Giuseppe Penone, Luce e ombra (Luz e sombra), 2011, exposto no hall do MCBA Etienne Malapert

Em cartaz

A exposição inaugural do museu, “Atlas. Uma Cartografia de Doação”Link externo, inclui as obras doadas e será gratuita para os visitantes. Fibicher, que comissariou a exposição, procura tornar acessível até mesmo a arte mais contemporânea. No caso da exposição “Atlas”, ele faz isso contando histórias: 400 obras, muitas delas expostas pela primeira vez, foram tecidas em 11 temas como florestas, ternura, dor, fluxos, música, etc., que provocam a apreciação e o prazer dos visitantes.

Mas não espere exposições “blockbuster” no novo museu de Lausanne, adverte ele: elas são o destino de fundações ricas como Beyeler e Louis Vuitton, que podem pagá-las. As instituições públicas simplesmente não têm fundos para isso. Mas ele acha que o ambicioso programa do museu vai permitir-lhe concorrer a um lugar na grande liga internacional a partir de fevereiro de 2020, com Under the Skin. Viena 1900, de Klimt a Schiele e KokoschkaLink externo. Esta exposição oferecerá uma nova perspectiva sobre o papel dos artistas vienenses na gênese da arte moderna.

Mais por vir

O segundo edifício a integrar o complexo cultural Plateforme 10, que acolherá conjuntamente o museu de fotografia do ElyséeLink externo e o museu de design e artes contemporâneas (mudacLink externo), deverá estar concluído no outono de 2021. Será que os visitantes poderão ficar perdidos com tanta cultura num único local? Tatyana Frank, a diretora do Elysée, não pensa assim, e acredita que o local único oferece outras vantagens.

“A transferência de três museus para um único local diminui o nosso impacto ecológico. Não podemos mais ignorar a importância desta questão. Além disso, esperamos que a maioria dos nossos visitantes venha de trem, o que reduzirá nossa pegada de carbono”.

Ela também aponta oportunidades para exposições temáticas conjuntas. Além disso, um pool comum de obras de arte digitalizadas permitirá que os visitantes componham suas próprias exposições virtuais com obras de cada museu, graças a uma tecnologia 3D pioneira da startup ArtmynLink externo, baseada em Lausanne. 

A Plateforme 10, afirma Frank, é o primeiro centro cultural a unir artes plásticas, fotografia e design, e a planejar suas colaborações desde o início.

Vista aérea do MCB-A
Vista aérea: o MCBA está à esquerda ao lado do guindaste onde estarão o MUDAC e o Elysée Jean-Bernard Sieber


O MCBA em números:

– 3,200 metros quadrados, três vezes a superfície da localização anterior do museu.

– Quatro seções: exposições temporárias, coleção permanente, projetos de arte contemporânea, e projetos de destaque.

– 10.000 obras em acervo, desde a segunda metade do século XVIII até hoje, incluindo a maior coleção do mundo de obras de Felix Vallotton

– Entrada gratuita em todo o museu, exceto nas exposições temporárias

– 30.000 a 40.000 visitantes esperados anualmente, o dobro dos números anteriores.

– 8 a 10 exposições por ano, de arte clássica a arte contemporânea.

– Um custo total de CHF 83,5 milhões, dos quais 40%  cobertos por financiamento privado.

O MCBA será acompanhado dentro de dois anos pelo museu de fotografia Elysée e pelo museu de design e artes contemporâneas (mudac), tornando a PLATEFORM 10 a primeira plataforma cultural ao lado de um grande centro de transportes ainda em funcionamento. Até 2030, a remodelação radical da estação ferroviária de Lausanne irá aumentar o número de passageiros diários para 200.000 dos actuais 120.000.

Adaptação: Eduardo Simantob

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