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2008 foi um annus horribilis das finanças

De um dia para outro, milhares de bancários do Lehman Brothers perderam seus empregos Keystone

O ano de 2008 entrará para a história como o da pior crise financeira mundial desde 1929. Uma crise que começou nos Estados Unidos e levou a economia mundial à recessão.

O termo em latim utilizado pela Rainha Elizabeth II, em 1992, para se referir aos divórcios na família real, aplica-se agora ao que ocorreu no mundo financeiro.

Os primeiros sinais de alarme apareceram em 2006. Alguns observadores, ainda isolados, advertiam sobre os riscos de explosão da bolha imobiliária nos Estados Unidos.

Cabe lembrar que, há alguns anos, o mercado imobiliário estava em plena efervecência. Frente à alta rápida dos preços, várias instituições financeiras lançaram-se na aventura do comércio de créditos, as chamadas subprime. Esses créditos hipotecários de risco são concedidos a pessoas de renda modesta e com problemas de liquidez.

Créditos de risco

Em comparação com os empréstimos hipotecários tradicionais (recusados a essa clientela), os subprime tinham taxas de juros mais altas e freqüentemente variáveis. Em 2006, mais de um quinto das novas hipotecas eram créditos de risco.

Entre 2004 e 2007, a taxa de desconto da Reserva Federal (Banco Central dos Estados Unidos) subiu de 1 a mais de 5%. Para quem tinha um empréstimo subprime com juro variável, a situação ficou insustentável. Centenas de milhares de famílias não podiam mais pagar a dívida. Os preços no mercado imobiliário caíram.

Crise de insolvência

Entretanto, o vírus infectou todo o sistema financeiro mundial. Uma parte dos créditos foi transferida a outros investidores – fundos de hedge e bancos – que, por sua vez, emitiram CDOs (Colaterized Debt Obligations), que revendiam a investidores privados e institucionais. Apresentados como produtos seguros, essas montagens financeiras são, de fato, castelos de areia.

Em julho de 2007, as bolsas de valores caem pela primeira vez. Os bancos centrais reagem injetando liquidez para garantir o financiamento a curto prazo dos bancos.

Contudo, o que passava por uma falta de liquidez aparece então como uma crise de insolvência. Muitas empresas estão endividadas demais e sem reservas suficientes para serem dignas de confiança aos olhos dos investidores. O fantasma da falência ameaça muitos grupos.

Setembro negro

Para apresentar seu balanço, os bancos do mundo inteiro são obrigados a depreciar maciçamente seus ativos. Grande parte dos títulos de suas carteiras não vale praticamente mais nada. Para compensar as perdas, os bancos precisam de novos capitais.

Na Suíça, em fevereiro de 2008, o UBS faz sua primeira recapitalização, financiada por um fundo estatal de Cingapura.

Na Grã-Bretanha, o Estado intervém para salvar o banco Northern Rock da falência. No início de setembro, a situação se precipita. Nos Estados Unidos, o governo federal assume o controle de várias grandes instituições financeiras, envolvidas nas areias movediças dos subprime e de outros créditos de risco.

No entanto, dia 15 de setembro, Washington não intervém para salvar o banco de investimentos Lehman Brothers da falência. Para garantir a manutenção de suas atividades, diversas outras instituições comparáveis – Stearns ou Merrill Lynch – são comprados por somas, consideradas semanas antes como irrisórias.

O plano Paulson

Para tentar socorrer o setor bancário e restabelecer um pouco de confiança no mercado financeiro paralisado, vários governos elaboram estratégias de salvamento, como o plano Paulson nos Estados Unidos.

Trata-se de um pacote de 700 bilhões de dólares destinados à aquisição de ativos podres junto aos bancos e instituições financeiras. A União Européia não fica atrás e as diversas intervenções desde meados de outubro passam de 1,5 trilhão de euros. Na Suíça, o Banco Central (Banco Nacional) abre um crédito de 66 bilhões de francos para o UBS.

Recessão

No entanto, essas medidas acompanhadas de uma baixa das taxas de juros não conseguiram impedir que crise se propagasse à economia real. Frente às suas próprias dificuldades, os bancos tornam-se mais seletivos nos empréstimos, o que reduz os investimentos das empresas e das pessoas físicas. Os consumidores freiam as despesas.

Para completar, em meados de dezembro, estoura o escândalo Madoff. O império financeiro criado pelo ex-diretor do Nasdaq (o índice tecnológico da bolsa de Nova York) revela-se uma gigantesca fraude – 50 bilhões de dólares desaparecem no sistema de pirâmide criado por Bernard Madoff.

Todos falam em recessão. No início de dezembro, as autoridades norte-americanas confirmam que o país está em recessão há um ano. A Suíça também entrará em recessão em 2009. “Considerando a agravação dramática da conjuntura em outubro, a Suíça atravessará um período de recessão em 2009”, admitiu em meados de dezembro a ministra da Economia Doris Leuthard. Segundo as últimas previsões, a queda do PIB (produto interno bruto) deve oscilar em 0,5% e 1%.

Plano de incentivo

Para atenuar o impacto da crise, muitos governos aplicam bilionários planos de estímulo à economia. Nos Estados Unidos, o programa elaborado por Barack Obama e seus conselheiros poderá chegar a 1 trilhão de dólares nos próximos anos.

Na Suíça, as medidas anunciadas pelo governo são mais modestas. Uma primeira soma de 890 milhões de francos será liberada em 2009, à qual deverá ser acrescentada uma outra de 650 milhões posteriormente.

Isso é suficiente? “Se a esses montantes forem acrescentados os programas dos estados (cantões), o apoio financeiro per capta é comparável ao da França ou da Alemanha”, declara a ministra Doris Leuthard, em entrevista ao jornal Le Temps, de Genebra.

Segundo alguns observadores, isso não será suficiente para conter os efeitos da crise. Para serem realmente eficazes, os investimentos deveriam ser equivalentes a 5% do PIB. Se essa tese, defendida pelo prêmio Nobel de economia, Paul Krugman, for exata, a Suíça deveria investir 20 bilhões de francos.

swissinfo, Daniele Mariani

Quase 340 milhoões de francos serão liberados antes do final de janeiro. Para todo o ano de 2009, o governo pretende liberar 1,5 bilhão de francos em créditos para as empresas conterem os efeitos da crise do mercado financeiro.

Na primeira fase, o governo pedirá que o Parlamento antecipe ou aumente várias despesas já votadas, como suspender a cota de contenção de créditos (205 milhões), despesas de proteção contra as inundações (66 milhões), economia da energia nos edifícios públicos (45 milhões), construção civil (20 milhões) e promoção de investimentos (5 milhões).

Na segunda fase – que só será ativada se a situação econômica piorar no primeiro trimestre – estão previstos investimentos e reformas para economia de energia em edifícios antigos, medidas de manutenção de rodovias e ferrovias.

Em 1° de janeiro de 2009, o governo federal libera reservas de crise acumuladas nos últimos anos pelas empresas. Serão restituídos 550 milhões de francos a 650 empresas.

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