
A longa campanha presidencial nos Estados Unidos
Nove meses na política é muito tempo, mas para uma campanha presidencial nos Estados Unidos, parece uma eternidade. Enquanto isso, os norte-americanos já demonstram exaustão por um possível novo embate entre Donald Trump e Joe Biden.
Se alguém tinha dúvidas de que a corrida até as eleições de 5 de novembro seria diferente de qualquer outra, elas desapareceram na quinta-feira.
Primeiro, um relatório devastador de um procurador especial sobre um caso de documentos confidenciais, destacou a má memória do democrata de 81 anos.
Depois veio um discurso do presidente Biden que convocou a imprensa para dizer: “Sou um homem idoso e sei o que estou fazendo”. E também garantiu: “minha memória é boa”.
Normalmente, a disputa se intensifica no verão no Hemisfério Norte, após a indicação oficial dos candidatos do partido republicano e democrata.
– Cansaço –
Mas estas eleições não são a norma.
Primeiro, porque se sabe quem são os candidatos quase desde o início. Nem o presidente democrata nem o magnata republicano de 77 anos têm rivais que realmente os desafiem nas primárias.
Segundo, porque é um duelo entre o atual presidente e seu antecessor, e este último se recusa a reconhecer a derrota nas eleições de 2020.
E, por último, porque esse vai e vem está esgotando o eleitorado.
Uma pesquisa da Universidade de Massachusetts publicada em 5 de fevereiro revelou que 53% dos entrevistados prefeririam que Trump não fosse o candidato, e 57% dizem o mesmo sobre Biden.
E isso mesmo quando ambos estão convencidos de que são a melhor opção e é pouco provável que se retirem da disputa, exceto por causas maiores, como problemas de saúde.
– Deslizes –
E aqui entra novamente em jogo a idade dos candidatos.
Todas as pesquisas mostram que neste assunto, os eleitores estão mais preocupados com Biden do que com Trump.
As confusões do democrata são examinadas com lupa, enquanto as de seu oponente são mais facilmente ignoradas.
Biden “precisa demonstrar aos eleitores que tem a força e as capacidades cognitivas necessárias, e a única maneira seria se colocar em situações espontâneas, onde o vejam refletindo e respondendo perguntas em tempo real”, opina Robert Rowland, professor de comunicação política na Universidade de Kansas.
O problema é que ele costuma cometer gafes quando improvisa, confundido os nomes de líderes estrangeiros ou gaguejando.
Por outro lado, quando o democrata opta por se poupar, por exemplo, se recusando a conceder a tradicional entrevista no domingo anterior ao Super Bowl, a final do campeonato de futebol americano, ele alimenta suspeitas.
Seus apoiadores confiam, no entanto, que o tempo jogue a seu favor. Acreditam que até novembro, os norte-americanos entenderão melhor a boa saúde econômica e o “pesadelo” que seria um novo mandato de Trump, segundo a palavra que o presidente costuma usar.
– Calendário judicial –
O professor Rowland compara isso com a campanha de reeleição de Ronald Reagan em 1984, que começou mal. Mas o ex-ator conseguiu atribuir a si mesmo o mérito de uma boa situação econômica e ser reeleito.
Exceto que “Reagan tinha o dom de ressuscitar o sonho americano que Biden não tem”, acrescenta.
E em uma campanha que se anuncia mais árdua que o habitual, um revezamento dos esforços é essencial.
Do lado democrata, Biden pode mobilizar a próxima geração, como alguns governadores dinâmicos como Gavin Newsom ou Gretchen Whitmer, e até mesmo o ex-presidente Barack Obama, com um carisma inegável.
Trump provavelmente confiará em si mesmo e em sua mensagem.
O republicano se apresenta como um homem providencial, o único capaz de salvar os Estados Unidos da “decadência” e proteger a classe trabalhadora contra os inimigos que ele mesmo designa, ou seja, os imigrantes e as “elites”.
Mas o calendário judicial não joga a favor de Trump, já que ele é alvo de vários processos em andamento, incluindo quatro penais.
Se algum desses processos resultar em uma condenação, as coisas podem mudar.
Uma pesquisa recente divulgada pela NBC coloca o republicano à frente de Biden na intenção de voto (47% contra 42%).
Mas à pergunta de em quem votariam se Trump fosse condenado, o resultado é o inverso: 45% pelo atual presidente, 43% por seu antecessor.
aue/seb/erl/db/am