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Guatemala elege presidente em meio a crise migratória com EUA

Mulher vota na Cidade da Guatemala afp_tickers

A Guatemala escolheu neste domingo para seu novo presidente, em uma disputa cujo vencedor terá o desafio de enfrentar a pobreza, corrupção e violência.

Os centros de votação foram encerrados às 18H00 (horário local, 21H00 horário de Brasília) no segundo turno presidencial disputado entre a social-democrata Sandra Torres e o conservador Alejandro Giammattei.

Mais de 8,1 milhões de guatemaltecos foram às urnas neste domingo para eleger o sucessor do presidente Jimmy Morales, em meio à assinatura de um acordo com os Estados Unidos para dar asilo a migrantes.

A presidência será disputada entre a ex-primeira-dama social-democrata Sandra Torres e o médico de direita Alejandro Giammattei, favorito segundo uma pesquisa da Fundação Liberdade e Desenvolvimento e a empresa CID Gallup.

Torres, de 63 anos, venceu com uma grande vantagem 20 candidatos no primeiro turno de junho, sem atingir a maioria dos votos necessários para vencer nessa fase.

Agora, as últimas pesquisas nas urnas de domingo reverteram o favoritismo da candidata, conhecida por seu caráter forte a ponto de ser rotulada como autoritária e sob suspeita de corrupção.

Torres pertence ao Partido Unidade Nacional da Esperança (UNE), que levou ao poder seu ex-marido, o ex-presidente Álvaro Colom (2008-2012), de que quem se divorciou em 2011 para poder disputar a presidência.

Torres tentou contornar, assim, uma norma constitucional que proíbe os parentes do governante de buscar cargos públicos, mas a Justiça frustrou sua primeira tentativa de chegar ao poder.

Sua principal proposta de campanha é atacar a pobreza com a criação de empregos e o retorno de programas sociais que ela coordenou durante a administração do ex-marido.

Giammattei, 63 anos e do Partido Vamos, tem 61,1% das intenções de voto, contra 38,9% de Torres, segundo pesquisa da empresa Prodatos, publicada em 8 de agosto pelo jornal “Prensa Libre”.

Ele promete combater a insegurança com ações drásticas, como reviver a pena de morte e tratar as gangues violentas como terroristas.

– Pacto polêmico –

Morales conclui seu mandato de quatro anos – no país a reeleição é proibida – em janeiro, com a popularidade em baixa e com um pedido do Ministério Público para investigar acusações de corrupção.

A votação ocorre em meio a incertezas sobre as tensões em torno do acordo que faz da Guatemala um “país terceiro seguro” para abrigar imigrantes que buscam chegar aos Estados Unidos.

O acordo gerou críticas e ações judiciais contra ele, considerando-se que a Guatemala é um país em que quase 60% de seus habitantes vivem na pobreza e carecem de infraestrutura adequada não pode abrigar migrantes.

O pacto com Washington foi assinado em 26 de julho, depois que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ameaçou a Guatemala com a taxação sobre as remessas de dinheiro e o aumento das tarifas sobre suas exportações.

Um motor fundamental da economia são as remessas dos migrantes nos Estados Unidos. No ano passado, atingiu-se a marca histórica de quase 9,3 bilhões de dólares.

O número está próximo das exportações da Guatemala, que somam uma média anual de 10,5 bilhões de dólares.

Dados oficiais indicam que 1,5 milhão de guatemaltecos vivem nos Estados Unidos, dos quais apenas entre 300.000 e 400.000 residem legalmente no país.

Segundo o governo guatemalteco, parte do acordo estabelece um convênio para dar vistos de trabalho no setor agrícola a cidadãos dos países centro-americanos, um programa que poderia ser ampliado para os setores de construção e serviços.

As autoridades locais negam que o pacto migratório transformará o país em uma grande prisão americana.

– País de imigrantes –

A assinatura do pacto causou desconforto em diferentes setores, com bloqueios de estradas e da sede da Universidade Estadual de San Carlos.

Os candidatos Torres e Giammattei têm evitado se posicionar sobre o acordo.

A ex-primeira-dama acredita que o acordo deve ser ratificado pelo Congresso para entrar em vigor, enquanto seu adversário diz que desconhece o teor do pacto e vai analisá-lo minuciosamente, se eleito.

Os dois candidatos concentram seus discursos no ataque à corrupção arraigada, melhoria da educação e da saúde, bem como investimento em áreas mais vulneráveis para reduzir a pobreza e impedir que os guatemaltecos busquem o chamado “sonho americano”.

Dados oficiais indicam que 59% dos 17,7 milhões de guatemaltecos vivem na pobreza, apesar de o país ter tido um crescimento econômico de 3,1% em 2018 e que deve chegar a 3,4% este ano, segundo o Banco da Guatemala (central).

Já a Comissão Econômica para a América Latina (Cepal) revisou para baixo a previsão de 2019, para 2,9%.

Milhares de guatemaltecos se aventuram a cruzar o México para chegar aos Estados Unidos.

Eles alegam fugir da pobreza e da violência, problemas comuns no norte da América Central, onde operam as temidas gangues e traficantes de drogas.

O Triângulo Norte da América Central (El Salvador, Guatemala e Honduras) é a região mais violenta sem conflito armado no mundo, segundo a ONU, e tem sido a origem de caravanas migratórias em massa para os Estados Unidos.

– Corrupção –

A eleição também é marcada por preocupações guatemaltecas sobre o combate à corrupção, dada a perspectiva de que uma missão antimáfia da ONU vai concluir suas funções em setembro.

Em 2015, um trabalho conjunto entre o MP local e a Comissão Internacional contra a Impunidade na Guatemala (Cicig), ligada à ONU, levou à renúncia e posterior prisão do então presidente Otto Pérez. Ele é acusado de liderar uma estrutura de evasão fiscal.

O presidente Morales decidiu interromper o trabalho da missão, depois que a Cicig e a MP pediram para investigá-lo pelo financiamento ilegal de sua campanha.

Os dois candidatos à presidência excluem a retomada do trabalho do Cicig e, para combater a corrupção, propõem criar promotorias especiais com o apoio da comunidade internacional.

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