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Cinco jornalistas morrem em ataque israelense contra hospital em Gaza

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Cinco jornalistas, incluindo repórteres que colaboravam para Al Jazeera, Reuters e AP, morreram nesta segunda-feira (25) em um bombardeio de Israel contra um hospital na Faixa de Gaza que o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, classificou como um “trágico acidente”. 

A guerra em Gaza teve um balanço trágico para os jornalistas: cerca de 200 repórteres morreram em quase dois anos de conflito, segundo os dados do Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ) e Repórteres sem Fronteiras (RSF).

A emissora do Catar, Al Jazeera, e as agências internacionais Reuters e AP noticiaram as mortes de seus jornalistas e expressaram pesar e consternação. 

O porta-voz da Defesa Civil de Gaza, Mahmud Basal, relatou que 20 pessoas morreram no ataque ao Hospital Nasser em Khan Yunis, no sul do território, entre elas “cinco jornalistas e um membro da Defesa Civil”.

O Exército israelense reconheceu que lançou “um ataque na área do hospital Nasser” e ordenou uma investigação. O primeiro-ministro israelense afirmou que o bombardeio foi um “trágico acidente”.

As imagens da AFP captadas após o bombardeio mostram fumaça e destroços do lado de fora do hospital. As pessoas corriam para ajudar os feridos e carregavam corpos ensanguentados e mutilados para dentro do complexo hospitalar. 

No local ficou a câmera fotográfica ensanguentada de Mariam Dagga, uma fotojornalista de 33 anos, que colaborava com a agência americana The Associated Press (AP) desde o início da guerra.

Uma multidão em lágrimas se despediu de alguns dos repórteres falecidos, cobertos com um véu branco e com seus coletes à prova de balas. 

O Hospital Nasser, um dos últimos parcialmente operacionais na Faixa de Gaza, foi alvo de ataques israelenses em várias ocasiões desde o início da guerra em Gaza, desencadeada pelo ataque sem precedentes do Hamas contra Israel em 7 de outubro de 2023. 

– “Silenciar a verdade”-

Bassal afirmou que o primeiro ataque foi executado com um drone explosivo e, em seguida, ocorreu um bombardeio no momento em que os feridos estavam sendo retirados.

A Reuters informou que no momento do primeiro bombardeio, um repórter que trabalhava para a agência estava transmitindo imagens ao vivo do hospital e que o sinal foi abruptamente interrompido. 

“Estamos consternados com a morte do colaborador da Reuters Husam al Masri e as lesões sofridas por outro dos nossos colaboradores, Hatem Jaled”, declarou um porta-voz da Reuters.

A emissora Al Jazeera anunciou que um de seus jornalistas, o cinegrafista Mohammad Salama, morreu no ataque.

A emissora condenou, “nos termos mais enérgicos possíveis, o crime horrível cometido pelas forças de ocupação israelenses, que atacam diretamente e assassinam jornalistas como parte de uma campanha sistemática para silenciar a verdade”. 

Há duas semanas, quatro repórteres e dois colaboradores da Al Jazeera morreram em um ataque direcionado das forças israelenses, que acusaram um deles de ser integrante do movimento islamista palestino Hamas.

O sindicato de jornalistas palestinos identificou outros dois jornalistas mortos, Moaz Abu Taha e Ahmad Abu Aziz.

O jornalista Hasan Douhan também morreu nesta segunda-feira em outro ataque israelense em Al Mawasi, perto de Khan Yunis, informaram o sindicato dos repórteres e o Hospital Nasser.

A Associação da Imprensa Estrangeira em Jerusalém – que representa jornalistas em Israel e nos territórios palestinos – exigiu do Exército e do governo de Israel uma “explicação imediata” sobre os ataques e pediu “que cessem de uma vez por todas sua prática abominável de atacar jornalistas”.

Com as restrições impostas por Israel aos veículos de comunicação em Gaza e as dificuldades de acesso ao território, a AFP não consegue verificar com fontes independentes os números e as alegações da Defesa Civil ou do Exército israelense.

Ravina Shamdasani, porta-voz do Alto Comissariado para os Direitos Humanos da ONU, reiterou que jornalistas e hospitais não são alvos militares. 

O diretor da agência da ONU para refugiados palestinos (UNRWA), Philippe Lazzarini, denunciou que este ataque equivale a “calar as últimas vozes que denunciam a morte silenciosa das crianças vítimas da fome”. 

O presidente francês, Emmanuel Macron, classificou o bombardeio como “intolerável” e instou Israel a “respeitar o direito internacional”.

O ministro das Relações Exteriores britânico, David Lammy, expressou que está “horrorizado” com o ataque e a Alemanha pediu uma investigação. 

O ataque contra Israel que desencadeou a guerra em Gaza deixou 1.219 mortos, a maioria civis, segundo um balanço da AFP baseado em números oficiais.

A ofensiva israelense na Faixa de Gaza matou ao menos 62.744 palestinos, a maioria civis, segundo números do Ministério da Saúde de Gaza, considerados confiáveis pela ONU.

bur/az/crb/mj/cab/es/meb/fp/aa/jc/aa/dd/ic

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