
Chanceler da Colômbia denuncia presença militar ‘desmedida’ dos EUA no Caribe

A chanceler da Colômbia, Rosa Villavicencio, criticou nesta sexta-feira (19) a “desmedida” presença militar dos Estados Unidos em águas do Caribe e assegurou que “nada tem a ver com a luta contra o narcotráfico”, em uma entrevista à AFP em Bogotá.
A dura reação por parte de um dos aliados mais antigos de Washington na América Latina ocorre em meio ao imponente envio de forças militares ordenado por Donald Trump perto da Venezuela para enfrentar o tráfico de drogas.
“É claro que a Venezuela está preocupada, como está toda a região, pela possibilidade de uma intervenção. Nós defendemos a soberania da região (…) por isso não corresponde essa presença militar desmedida”, disse a chanceler.
Villavicencio (63 anos), economista de formação, é a quarta ministra das Relações Exteriores do governo do esquerdista Gustavo Petro.
A chefe da pasta rejeitou categoricamente as afirmações de Trump sobre os aviões de caça F-35, sete navios e um submarino de propulsão nuclear que, segundo ele, estariam na região para combater o narcotráfico.
Os Estados Unidos dizem ter eliminado desde o início de setembro três embarcações que supostamente traficavam drogas a partir da Venezuela, em ataques que deixaram 14 mortos.
“O bombardeio” às “embarcações (…) nos parece que não é a maneira do ponto de vista da legalidade”, acrescentou sobre os ataques americanos, uma ação também questionada pelas Nações Unidas.
Villavicencio considera que os suspeitos deveriam ter sido capturados e não mortos.
– “Desproporcional” –
Os Estados Unidos são o principal aliado comercial e militar da Colômbia, mas desde a chegada ao poder de Trump e Petro as relações se deterioraram por temas como a migração e as tarifas.
Diante de uma eventual intervenção militar americana, a chanceler afirmou que a Colômbia recorreria a instâncias internacionais.
“O que vemos é uma presença militar desproporcional na região que nada tem a ver com a luta contra o narcotráfico”, disse ela de uma das espaçosas salas do Palácio de San Carlos, com vista para as montanhas da capital colombiana.
Villavicencio assegurou que a Colômbia defenderá a soberania venezuelana, apesar de “não reconhecer o governo” de Nicolás Maduro após sua terceira vitória contestada em julho de 2024.
A entrevista à AFP acontece em um momento diplomático tenso, ao qual se soma a decisão dos Estados Unidos de retirar a Colômbia da lista de países aliados na luta antidrogas.
O país sul-americano é o maior produtor de cocaína do mundo, e os Estados Unidos o principal consumidor.
– “Decisão política” –
Na segunda-feira, o governo republicano considerou insuficientes os esforços do Executivo de Petro contra o narcotráfico.
“Está claro que foi uma decisão política, para condenar o presidente”, disse Villavicencio, qualificando a medida de “injusta”.
Mas Washington fez uma exceção e não suspenderá, por ora, a ajuda econômica nem militar para combater o narcotráfico. Com um financiamento anual estimado em 380 milhões de dólares, seu corte teria representado um duro golpe para Bogotá.
Como resposta à medida, a Colômbia anunciou o fim da compra de armas dos Estados Unidos e assegurou que sua política antidrogas “fracassou”.
“O custo social para nós é muito alto e não vemos que (os Estados Unidos) façam nada do lado do consumo”, afirmou a também especialista em cooperação internacional e migração.
Villavicencio propõe que os países consumidores “paguem uma dívida” e contribuam para reparar os danos ambientais nos países produtores.
A chefe da diplomacia assegurou que as relações entre os aliados históricos “não estão rompidas”, mas se queixou da constante “desvantagem” da Colômbia diante da administração Trump e pediu um diálogo “de igual para igual”.
A Colômbia tem recorde de cultivos ilícitos, com 253 mil hectares em 2023, segundo a ONU, e os diálogos de paz com os principais grupos ilegais estão estagnados.
Como a descertificação se trata de uma decisão política “não vamos mudar nossa política, vamos continuar fazendo o que estamos fazendo porque é eficaz”, insistiu Villavicencio.
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