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Incêndios florestais: uma ameaça global evitável e controlável?

Feuersbrunst in einem kalifornischen Wald
Incêndio nas florestas da Califórnia em 17 de agosto de 2021. Keystone / Noah Berger

Sicília e Calábria, Grécia, Turquia, Sardenha, Côte d'Azur, Argélia e, antes, Portugal, Califórnia, Austrália e até mesmo o cantão do Ticino foram atingidos durante o verão. Incêndios florestaisLink externo desequilibram e destroem ecossistemas e economias, causando deslocamentos e vítimas entre as populações locais. Um especialista explica como controlar o problema.

Enquanto na área de Siracusa, na Sicília, os termômetros marcaram um recorde europeu de 48,8 graus Celsius, a Turquia enfrentrou fortes inundações. Estes fenômenos extremos são abordados no último relatório alarmante do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCCLink externo) das Nações Unidas, publicado há pouco mais de quinze dias.

Fenômenos mais intensos e frequentes

A mensagem do principal organismo internacional das Nações Unidas para avaliar a mudança climática é inequívoca. De acordo com as conclusões do relatório, a mudança climática, que é responsável pelo aumento da frequência e intensidade de fenômenos meteorológicos catastróficos, como inundações ou ondas de calor, é “sem precedentes” e “sem dúvida” causada pelo homem. O estudo é baseado em uma análise de mais de 14 mil artigos científicos de mais de 200 cientistas de todo o mundo.

É o mais abrangente estudo até hoje e conclui que houve ondas de calor mais intensas em 90% das regiões do mundo em comparação com a metade do século passado. Estas contribuíram para a deflagração de grandes incêndios, sendo que o aquecimento global também influenciou outros eventos climáticos extremos, tais como inundações.

Ação humana na origem do fogo

Todos os anos, os incêndios florestais devastam grandes áreas de terra ao redor do mundo. Não se pode deixar de notar que muitas vezes a causa desses incêndios é devida à ação humana, seja ela involuntária ou intencional (por exemplo, para expandir os pastos).

Como começam os incêndios florestais? O que significam e como, se possível for, eles podem ser controlados? Conversamos sobre isso com Marco Conedera, engenheiro florestal e chefe da Unidade de Pesquisa de Ecologia de Comunidades Bióticas do Instituto Federal Suíço de Pesquisa Florestal, Neve e PaisagemLink externo (WSL).

swissinfo.ch: Como prevenir grandes incêndios ou como controlar melhor tais fenômenos?

Marco Conedera
Marco Conedera. RTS

Marco Conedera: A prevenção de incêndios florestais deve ocorrer em vários níveis. Em nível regional, por exemplo, em nosso cantão, existem três eixos importantes. À médio e longo prazo, a possibilidade de ocorrência de grandes incêndios depende do tipo e da gestão das florestas.

O tipo básico de vegetação depende naturalmente do clima. Neste país, por exemplo, o ecossistema mediterrâneo dos chamados maquis não se desenvolve mesmo depois de um incêndio. O manejo da floresta pelo homem também é decisivo para o tipo e a quantidade de combustível potencial ali produzida.

Na natureza, o papel do fogo é remover a biomassa vegetal (madeira, galhos e folhas que se acumularam através do crescimento da vegetação). Quanto mais biomassa se acumula, maior é o risco de grandes queimadas.

A gestão da terra (agricultura, pastoreio, boa separação e equilíbrio entre a terra florestal e agrícola e infraestrutura humana, etc.) pode ajudar a manter baixo o risco de incêndios em larga escala e intensos a longo prazo. O abandono da agricultura tradicional e da gestão extensiva da terra pelo homem é uma das causas do aumento da intensidade das queimadas na Europa.

Um segundo eixo de prevenção é informar a população sobre os riscos de incêndio. Além das informações gerais sobre o fenômeno, o estabelecimento de regras proibindo queimadas em caso de perigo agudo de incêndio também é de fundamental importância.

“O abandono da agricultura tradicional é uma das causas do aumento da intensidade das queimadas na Europa.”

O terceiro eixo é o nível de preparação técnica e tática e a organização das forças de combate a incêndios no solo (bombeiros) e no ar (pilotos de helicóptero), bem como a infraestrutura de combate a incêndios (por exemplo, tanques de água para helicópteros, rede de hidrantes, etc.).

Em escala global e a longo prazo, também é importante combater os extremos climáticos resultantes da mudança climática, a fim de evitar que incêndios perigosos continuem a ocorrer.

swissinfo.ch: Qual o papel desempenhado pelo o fator humano?

M.C.. Além da lava proveniente de erupções vulcânicas, que pode causar incêndios na área ao redor, a mais importante causa natural de incêndios é o relâmpago. Os chamados incêndios por raios são comuns nas florestas boreais da América do Norte, Escandinávia e Sibéria.

Entretanto, eles também podem ocorrer em nossas montanhas, especialmente em coníferas em altitudes muito expostas. Atualmente, cerca de 30% dos incêndios na Suíça são causados por relâmpagos.

“Na região do Mediterrâneo, estima-se que pelo menos 95% dos incêndios são de origem humana”.

Para os 70% restantes, é sempre a atividade humana ou a infraestrutura que fornece a energia de ignição. Na região do Mediterrâneo, estima-se que pelo menos 95% dos incêndios são de origem humana, sejam eles intencionais ou não.

O fator humano é, portanto, muito importante em nossas latitudes, tanto na origem do combustível (o manejo da terra já mencionado) quanto como causa direta do início de um incêndio florestal.

swissinfo.ch: Qual é a importância dos incêndios intencionais e controlados para fins de prevenção? Poderiam eles ser uma ferramenta eficaz?

M.C.. Os incêndios controlados são uma técnica utilizada sob condições climáticas favoráveis: a umidade do solo deve ser suficientemente alta para evitar a propagação descontrolada do fogo, a umidade da camada herbácea e arbustiva suficientemente baixa para garantir a queima lenta do combustível.

Esta é uma técnica muito complexa que requer uma preparação cuidadosa e a presença de pessoal qualificado. O objetivo é reduzir o combustível (isto é, ramos secos, folhas, etc.) e colher os benefícios ecológicos do fogo. Ao mesmo tempo, porém, eles servem para evitar a possibilidade de incêndios graves e incontroláveis durante a época de perigo.

Ein brennender Baum mitten im Wald
Incêndios controlados requerem muita preparação e atenção. Copyright 2021 The Associated Press. All Rights Reserved

swissinfo.ch: Como eles são controlados e que impacto eles têm sobre a fauna?

M.C.. Tais incêndios são controlados escolhendo uma janela meteorológica favorável e direcionando o fogo para uma parte específica da área.

“Novas espécies de plantas surgem das cinzas do fogo”.

Para algumas espécies de invertebrados que vivem no solo e no feno dos campos, isto é um problema, é claro, mas a maioria dos animais tem tempo suficiente para se mover para uma área segura. E o impacto é muito menor do que no caso de um incêndio descontrolado e muito intenso.

Novas espécies de plantas emergem então das cinzas do incêndio, que precisam de luz para se desenvolver. E novos habitats também são criados para outras espécies animais.

swissinfo.ch: Existe um período que deve passar depois de um incêndio florestal antes que as árvores possam ser plantadas nas áreas queimadas?

M.C.. O reflorestamento após um incêndio não é sequer necessário em muitos casos, porque a vegetação adaptada ao fogo está acostumada a responder após um incêndio (por exemplo, matagais). E porque a vegetação adaptada normalmente produz rapidamente uma nova geração de plantas a partir de sementes ou de brotos do toco.

O plantio é necessário quando se supõe que a natureza em uma área se recupera muito lentamente, e que o reflorestamento acelerado é necessário para a proteção contra os perigos naturais. Este pode ser o caso aqui nos Alpes, quando um incêndio destrói todas as árvores, como pode ser o caso das coníferas.

Adaptação: DvSperling

(Übertragung aus dem Italienischen: Christian Raaflaub)

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