
Combatentes curdos do PKK destroem armas em cerimônia no Iraque

Combatentes do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) destruíram suas armas em uma cerimônia nesta sexta-feira (11) no Curdistão iraquiano, dois meses após o anúncio dos rebeldes curdos sobre o fim de mais de quatro décadas de luta armada contra o Estado turco.
O PKK, considerado terrorista pela Turquia e seus aliados ocidentais, iniciou as ações armadas contra Ancara em 1984 com o objetivo de criar um Estado curdo, em um conflito que deixou mais de 40.000 mortos desde então.
A cerimônia de desarmamento aconteceu em Suleimaniya, na região do Curdistão iraquiano, fronteiriça com a Turquia e onde os combatentes curdos se refugiam nas montanhas. O primeiro grupo, com 30 guerrilheiros, queimou suas armas, segundo um correspondente da AFP.
“Esperamos que esta ação traga paz e liberdade. Mais do que nunca, nosso povo precisa de uma vida pacífica, livre, justa e democrática”, declarou um comandante diante de quase 300 pessoas.
Mas Bese Hozat, copresidente do PKK, exigiu a libertação do fundador e líder histórico do grupo, Abdullah Öcalan, de 76 anos, que está preso na ilha-prisão de Imrali, perto de Istambul, há 26 anos.
“Esta é a nossa principal reivindicação e uma condição fundamental” para a continuidade do processo de paz, disse Hozat à AFP. Ela também pediu garantias de segurança e reformas para que os combatentes curdos possam retornar à Turquia e participar da política.
“O Estado turco deve nos conceder o direito de participar da política democrática (…). Estamos prontos e dispostos a nos engajar na política democrática” na Turquia, afirmou.
– “Turquia livre do terrorismo” –
O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, classificou a cerimônia como um “passo importante” rumo a uma “Turquia livre do terrorismo” e ao “estabelecimento de uma paz duradoura” na região.
Embora inicialmente anunciada como uma cerimônia pública, o acesso acabou sendo restrito a um número limitado de convidados por motivos de segurança.
Entre eles, estavam membros do partido pró-curdo DEM turco, que atuou como mediador entre Abdullah Öcalan e o governo turco.
Foi por meio do DEM que o fundador do PKK, preso desde 1999, apelou, em fevereiro, ao fim das hostilidades e ao início das negociações para a dissolução do grupo guerrilheiro, anunciadas em maio.
Devlet Bahceli, aliado do presidente turco e líder do partido nacionalista MHP, também desempenhou um papel de destaque nesse processo. Meses antes, ele havia convidado os combatentes curdos a renunciarem à luta armada e “virem falar perante o Parlamento”.
– “O poder da política” –
Na quarta-feira, em uma mensagem de vídeo, Öcalan ou “Apo” (tio), como é chamado por seus seguidores, confirmou o desarmamento iminente e destacou que aconteceria “rapidamente”.
“Eu acredito no poder da política e na paz social, não nas armas. E peço que coloquem este princípio em prática”, disse.
Erdogan também expressou recentemente a confiança de que “este processo promissor seja concluído com sucesso o mais rápido possível, sem obstáculos, nem risco de sabotagem”.
De acordo com um comandante curdo que pediu anonimato à AFP, a cerimônia foi “um gesto de boa vontade”.
Boris James, historiador especializado em movimentos curdos, apontou um potencial problema na ausência de “um terceiro ator para garantir a integridade do processo”.
“Ainda há uma desconfiança muito forte entre o PKK e o Estado turco, e o Estado ofereceu poucas garantias” aos ex-combatentes, afirmou.
De fato, os ex-combatentes denunciaram que continuam sendo alvo de bombardeios das forças turcas contra suas posições no Iraque, apesar do processo de paz em curso.
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