José Antonio Kast é eleito presidente do Chile
José Antonio Kast, o candidato mais à extrema direita desde o fim da ditadura militar do general Augusto Pinochet há 35 anos, venceu com folga o segundo turno de domingo (14) e prometeu “restabelecer a lei” como presidente do Chile.
“Vamos restabelecer a lei. Vamos estabelecer o respeito à lei em todas as regiões, sem exceções e sem privilégios”, disse Kast em um discurso conciliador para milhares de apoiadores em Santiago, alguns com bandeiras e fotos de Pinochet.
“Venceu a esperança de viver sem medo”, acrescentou.
Kast, um advogado ultraconservador de 59 anos, venceu com 58% dos votos a comunista moderada Jeannette Jara, que representava uma coalizão de esquerdas e recebeu 42%, após a apuração quase total das urnas.
Ele assumirá o poder em 11 de março para um mandato de quatro anos.
Católico devoto e pai de nove filhos, promete deportar cerca de 340 mil imigrantes em situação irregular, a maioria venezuelanos, e combater o crime.
Ele defende a ditadura de Pinochet (1973-1990), que deixou 3.200 mortos e desaparecidos e dezenas de milhares de torturados e presos políticos. Kast disse que, se Pinochet estivesse vivo, teria votado nele.
“Estávamos bem cansados a nível país do desgaste econômico […] Sentíamos falta da direita”, comentou Maribel Saavedra, eleitora de Kast de 42 anos que abriu um champanhe diante da sede de campanha. A assistente social disse esperar que Kast “fortaleça o país com trabalho” e “regularize a questão imigratória”.
– Primeiro protesto –
Jara, uma advogada de 51 anos que foi ministra do Trabalho do governo de Gabriel Boric e reduziu a semana de trabalho para 40 horas, admitiu a derrota rapidamente e prometeu uma oposição “exigente”.
Pouco após o anúncio da vitória, Kast enfrentou o primeiro protesto. Dezenas de manifestantes de esquerda foram dispersados com jatos de água pela polícia em Santiago, informou a imprensa local. O metrô precisou fechar um acesso devido aos incidentes.
O presidente argentino Javier Milei foi o primeiro da América Latina a felicitar seu “amigo” Kast. “Mais um passo da nossa região em defesa da vida, da liberdade e da propriedade privada”, afirmou na rede social X.
O secretário de Estado americano, Marco Rubio, disse que espera cooperar com Kast para “reforçar a segurança pública, acabar com a imigração ilegal e revitalizar nossa relação comercial”.
O presidente do Brasil, o esquerdista Luiz Inácio Lula da Silva, desejou “pleno êxito” e disse que seguirá trabalhando “em favor do fortalecimento das excelentes relações bilaterais”.
Na Europa, o governo da Espanha parabenizou Kast e expressou a vontade de “trabalhar de forma estreita” com a nova administração. O presidente da França, Emmanuel Macron, pediu ao eleito que os dois países continuem “trabalhando juntos”.
– “Un Pinochet sem uniforme” –
Kast afirmou durante a campanha que o Chile “está caindo aos pedaços”. Esta foi sua terceira tentativa de chegar à presidência, agora como candidato do Partido Republicano, que ele fundou há cinco anos por considerar a direita tradicional muito branda.
Em suas aparições públicas, atrás de vidros à prova de balas em um dos países mais seguros da região, este ex-deputado retratou o Chile quase como um Estado falido dominado pelo tráfico de drogas, um país que se afastou do “milagre econômico” que o tornou uma das nações mais bem-sucedidas da América Latina.
Segundo uma pesquisa do Ipsos de outubro, 63% dos chilenos afirmam que o crime e a violência são suas maiores preocupações, seguidos pelo baixo crescimento econômico.
Apesar do aumento dos crimes violentos e da chegada ao país de grupos criminosos como o ‘Trem de Aragua’, a percepção do medo no Chile é muito maior do que os números reais da criminalidade.
Muitos chilenos pedem uma mudança. Mas Cecilia Mora, uma aposentada de 71 anos, votou em Jara para preservar os benefícios sociais e porque Kast lhe parece “um Pinochet sem uniforme”.
“Quero que meu país volte a ser tranquilo, que as pessoas consigam caminhar pelas ruas livremente, sem o medo de que roubem sua bolsa, mas Kast me lembra muito a ditadura”, disse.
– Um voto por medo do comunismo –
Nesta campanha, Kast evitou falar sobre Pinochet e outros assuntos que poderiam lhe custar votos, como sua oposição ao aborto em qualquer circunstância.
Investigações jornalísticas revelaram em 2021 que o pai de Kast, nascido na Alemanha, foi membro do Partido Nazista de Adolf Hitler. No entanto, Kast afirma que seu pai foi um recruta forçado do exército alemão durante a Segunda Guerra Mundial e nega que ele tenha sido um apoiador do movimento nazista.
No primeiro turno das eleições, há um mês, tanto Jara quanto Kast receberam um quarto dos votos, com uma ligeira vantagem para a candidata de esquerda. Apesar disso, os votos para toda a direita somaram 70% e levaram Kast à presidência.
Desde 2010, a direita e a esquerda se alternam no poder no Chile a cada eleição presidencial. O voto é obrigatório neste pleito pela primeira vez em mais de uma década.
“Não devemos pensar que (Kast) tem um mandato superforte para fazer o que quiser”, porque muitas pessoas estão votando nele por medo de Jara, disse o analista Robert Funk, professor de Ciências Políticas da Universidade do Chile.
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