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Uma “mulher bonita” causa rebuliço em Berlim

Genuína ou não, ela continua sendo uma das mulheres mais bonitas da antiguidade. Keystone

O busto da rainha egípcia Nefertiti – um dos tesouros expostos em Berlim – seria apenas uma réplica. É o que defende um historiador suíço, que o estuda há quase vinte e cinco anos.

Henri Stierlin, de Genebra, afirma que o busto não tem 3.400 anos, como se pensava até então, mas menos de cem anos de idade.

O busto da rainha egípcia Nefertiti – um dos tesouros expostos em Berlim – seria apenas uma réplica. É o que defende um historiador suíço, que o estuda há quase vinte e cinco anos.
Henri Stierlin, de Genebra, afirma que o busto não tem 3.400 anos, como se pensava até então, mas sim menos de 100 anos de idade.

O Museu Egípcio em Berlim refutou a descoberta de Stierlin, argumentando que testes radiológicos recentes provaram que ele tem mais de três mil anos de idade.

Em seu livro “Le Buste de Nefertiti – une Imposture de l’Egyptologie? (O busto de Nefertiti – uma fraude da Egiptologia?), Stierlin sustenta que o busto na verdade é uma cópia de 1912, feita para testar pigmentos usados pelos antigos egípcios. Porém depois que um príncipe prussiano caiu de amores por ela, os descobridores não tiveram coragem de fazer o nobre parecer tolo e fingiram que fosse genuína.

Stierlin acredita que o busto foi feito por um escultor chamado Gerhard Marks sob ordens do arqueologista alemão Ludwig Borchardt, o descobridor oficial da imagem de Nefertiti durante escavações feitas na área de Amarna, ao sul do Cairo, em 1912.

“O que me atraiu nesse busto há quase vinte cinco anos foi, por exemplo, o fato de que os ombros estão cortados na vertical, uma técnica que só apareceu na Europa no século 19 e nunca foi praticado pelos antigos egípcios”, diz Stierlin à swissinfo. “Quando eles faziam um busto, o corte era feito na horizontal”.

O olho esquerdo desaparecido

O suíço também se surpreendeu pela ausência do olho esquerdo. “Não é que ele tenha desaparecido. Ele nunca existiu, como se o escultor nunca tivesse querido fazê-lo.”

Stielin argumento que fazer uma estátua no Egito antigo sem um olho seria o equivalente a cometer traição contra a rainha.

O que parece muito estranho ao estudioso é que uma descoberta dessas, se verdadeira, tenha sido mantida longe olhar público por onze anos até que Borchardt a revelou.

O diretor do Museu Egípcio, Dieter Wildung, afirma à swissinfo que todas as dúvidas sobre a autenticidade do busto eram infundadas. “Estou muito surpreso que o senhor Stierlin, com quem trabalhei estreitamente em um livro há quinze anos sobre arquitetura egípcia, não tenha me contatado ou nosso museu durante os preparativos do seu livro.”

História detalhada

Wildung afirma que existe uma história detalhada dos objetos encontrados durante as escavações. “Tudo isso está documentado passo a passo, sem lacunas.”

“Nos últimos vinte e sete anos fizemos várias tomografias computadorizadas, que nos dão uma visão muito detalhada da estrutura do busto. Ele consiste de um núcleo calcário e sucessivas camadas de misturas de gesso.”

Wildung também lembra que uma peça similar retiradas das escavações em Amarna mostra as mesmas características – uma base horizontal e cortes verticais nos ombros. “Temos ainda testes de cera para o preenchimento do olho direito”, acrescenta.

O diretor do museu descreveu o livro de Stierlin como “um bom romance de ficção científica”. “Trata-se de uma novela…e não tem nada relacionado com arqueologia séria, com o serio rigor histórico da ciência.”

Publicidade

Seja qual for o resultado da disputa em relação à autenticidade do busto da rainha egípcia, a recente publicidade em torno dela apenas irá acrescentar mais a atração exercida por Nefertiti para milhões de pessoas ao longo dos anos.

Wildung estima que entre 600 mil e 700 mil visitantes admiram sua beleza a cada ano e esse número pode crescer brevemente. Afinal, o busto será removido em outubro para um lugar proeminente dentro do recém-reformado Neues Museum (Novo Museu) na capital alemã.

“Ela é um bom negócio para nós”, diz. “Isso é realmente civilização global, cultura global e arte global.”

Robert Brookes, swissinfo.ch

O busto de Nefertiti, considerado por muitos como a Mona Lisa da antiguidade, é uma das mais importantes atrações turísticas de Berlim.

Ele irá receber em breve um lugar mais proeminente no recém-restaurado Novo Museu (Neues Museum).

O Novo Museu foi o segundo a ser construído na chamada “Ilha dos Museus” e o primeiro a ser aberto ao público em 1855.

Ele foi danificado seriamente por bombardeios dos aliados entre 1943 e 1945. Partes importantes da sua decoração interna foram destruídas.

O busto de Nefertiti sobreviveu por ter sido retirado da exposição em 1939.

Quando Berlim estava dividida durante a Guerra Fria, ele estava exposto em um museu na parte ocidental da cidade.

Nefertiti (c. 1380 – 1345 a.C.) foi uma rainha da XVIII dinastia do Antigo Egipto, esposa principal do faraó Amen-hotep IV, mais conhecido como Akhenaton.

As origens familiares de Nefertiti são pouco claras. O seu nome significa “a mais Bela chegou”, o que levou muitos investigadores a considerarem que Nefertiti teria uma origem estrangeira, tendo sido identificada por alguns autores como Tadukhipa, uma princesa do Império Mitanni (império que existiu no que é hoje a região oriental da Turquia), filha do rei Tushratta. Sabe-se que durante o reinado de Amen-hotep III chegaram ao Egito cerca de trezentas mulheres de Mitanni para integrar o harém do rei, num gesto de amizade daquele império para com o Egito; Nefertiti pode ter sido uma dessas mulheres, que adoptou um nome egípcio e os costumes do país.

Contudo, nos últimos tempos tem vingado a hipótese de Nefertiti ser egípcia, filha de Ai, alto funcionário egípcio responsável pelo corpo de carros de guerra que chegaria a ser faraó após a morte de Tutankhamon. Ai era irmão da rainha Tié, esposa principal do rei Amen-hotep III, o pai de Akhenaton; esta hipótese faria do marido de Nefertiti o seu primo. Sabe-se que a família de Ai era oriunda de Akhmin e que este tinha tido uma esposa que faleceu (provavelmente a mãe de Nefertiti durante o parto), tendo casado com a dama Tié.

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