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“Cada aperto de mão com Putin está sujo de sangue”

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O moscovita Vladimir Kara-Murza condenou repetidamente a guerra da Rússia na Ucrânia, acusou Putin de presidir uma ditadura assassina e fez lobby por sanções ocidentais contra Moscou. Nata.Komarova

Vladimir Kara-Murza, que sobreviveu a duas tentativas de envenenamento e a uma pena de prisão na Rússia, fala à SWI swissinfo.ch sobre os perigos de negociar com Vladimir Putin. Em Genebra, ele pede a libertação de todos os prisioneiros de guerra e crianças ucranianas sequestradas como condição para qualquer acordo de paz.

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“Só quero que aqueles que estão novamente prontos para apertar a mão de Putin lembrem-se: toda vez que o fazem, apertam uma mão encharcada de sangue”, disse Kara-Murza à SWI swissinfo à margem da 17ª Cúpula de Genebra para Direitos Humanos e Democracia, que participou em fevereiro.

O ativista russo foi libertado em agosto de 2024 como parte de uma grande troca de prisioneiros entre a Rússia e o Ocidente. Crítico ferrenho da guerra de Putin contra a Ucrânia, ele passou mais de dois anos na prisão – sendo um ano inteiro em confinamento solitário – na cidade siberiana de Omsk, a mais de 2.700 quilômetros de Moscou.

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O presidente Joe Biden posa para uma foto com o jornalista Vladimir Kara-Murza e sua família em 15 de agosto de 2024 no Salão Oval da Casa Branca. Official White House Photo by Oliver Contreras

A experiência angustiante não parece ter afetado seu senso de humor. Quando lhe dizem, em tom de brincadeira, que sua aparência quase não mudou depois de seu tempo em uma prisão russa, ele responde: “Ganhei peso – não tinha sorvete na prisão e agora não consigo parar de compensar a falta que senti”.

Conversando com os participantes do fórum nos corredores do Palácio das Nações, em Genebra, Kara-Murza alterna sem dificuldade entre inglês, francês, russo e até espanhol – um idioma que ele diz ter começado a aprender “para manter a cabeça ocupada” na prisão.

Kara-Murza agora vive nos Estados Unidos com sua família. Ele teme que os esforços do presidente dos EUA, Donald Trump, de negociar diretamente com Putin – uma ruptura com a política passada dos EUA e atual da UE – tenham um efeito contrário.

+ Leia mais: Vladimir Kara-Murza: “Mudanças ocorrem na Rússia muitas vezes de forma repentina

Nos últimos 25 anos, “o Ocidente se envolveu com Putin, apesar de ele ter fechado toda a mídia independente e constantemente reprimir qualquer protesto”, ressalta, argumentando que seria tolice esperar um resultado diferente agora.

“Durante todo esse tempo, os líderes ocidentais estenderam o tapete vermelho, apertaram sua mão, olharam em seus olhos e afirmaram ‘ver sua alma'”, acrescenta, referindo-se ao famoso comentário do presidente dos EUA, George W. Bush, em 2001.

Desde então, Putin invadiu a Geórgia, anexou a Crimeia e iniciou uma guerra de grande escala contra a Ucrânia. As manifestações na Rússia foram enfrentadas com força brutal. Os oponentes de Putin foram envenenados ou mortos.

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“Qualquer acordo deve conter uma cláusula sobre a libertação de todos os prisioneiros políticos russos”, enfatiza, observando que a categoria que mais cresce entre os prisioneiros políticos russos são aqueles que se manifestaram contra a guerra na Ucrânia, como ele fez. “Hoje, há 1.497 prisioneiros políticos na Rússia – mais do que na União Soviética durante a década de 1980”, ressalta.

Da mesma forma, ele pede a libertação dos civis ucranianos capturados pela Rússia. Ele aponta Link externoque milhares de pessoas estão sendo mantidas em instituições penitenciárias na RússiaLink externo ou nos territórios ocupados. E defende a repatriação de milhares de crianças ucranianas que foram transferidas à força para a Rússia ou para os territórios ocupados pela Rússia, o que as Nações Unidas consideram um crime de guerra.

Não está claro se essas questões foram discutidas nas atuais negociações de cessar-fogo. Em 25 de março, a Casa Branca anunciou que Washington havia chegado a acordos com Kiev e Moscou para garantir a segurança da navegação no Mar Negro e evitar o uso da força na região.

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O governo Trump encerrou recentemente um programa que monitorava crianças ucranianas levadas à força para a Rússia durante a guerra, de acordo com a agência de notícias Reuters. A decisão significa a perda de acesso a grandes volumes de informações, incluindo imagens de satélite e dados biométricos sobre cerca de 30.000 crianças ucranianas sequestradas na Ucrânia.

“Todas essas crianças devem ser devolvidas às suas famílias”, diz Kara-Murza. “Foi exatamente por esse crime de guerra que o Tribunal Penal Internacional (TPI) emitiu um mandado de prisão contra Putin em 2023.”

Edição: Virginie Mangin/fh
(Adaptação: Clarissa Levy)

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