
Dois altos dignatários religiosos vão a Gaza após ataque contra igreja

Os dois mais altos dignitários cristãos de Jerusalém viajaram para Gaza nesta sexta-feira (18), um dia após o ataque israelense que atingiu a única igreja católica do território palestino, causando três mortes e vários feridos – entre eles o padre argentino Gabriel Romanelli.
Esta rara visita à Faixa de Gaza — devastada por mais de 21 meses de guerra entre Israel e o movimento islamista palestino Hamas — ocorre um dia após o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, expressar seu “profundo pesar” pelo ataque à igreja, destacando que foi “um disparo indireto”.
O ataque atingiu a Igreja da Sagrada Família, onde centenas de palestinos deslocados se refugiaram, matando três pessoas e ferindo outras 10.
É o único templo católico na Faixa de Gaza, onde a guerra eclodiu após o ataque sem precedentes do Hamas contra Israel em 7 de outubro de 2023.
Israel controla rigorosamente o acesso ao território, onde a Defesa Civil relatou 33 mortes em novos bombardeios israelenses, um deles em Khan Yunis.
Nesta cidade do sul, vários moradores retiravam escombros com as mãos em busca de sobreviventes.
“Famílias inteiras estão enterradas sob os escombros”, declarou à AFP Luai Abu Sahlul, um parente das vítimas. “As pessoas parecem mortos-vivos, exaustos pela fome, pela dor e pela destruição.”
Questionado sobre o bombardeio em Khan Yunis, o exército israelense disse à AFP que atingiu uma “infraestrutura terrorista pertencente ao Hamas”.
– “Perigo iminente de morte” –
O porta-voz da Defesa Civil, Mahmoud Basal, indicou que 10 pessoas que buscavam ajuda morreram, 9 delas por disparos israelenses perto de um centro de distribuição de ajuda americana em Rafah, no sul.
Na Cidade de Gaza, o patriarca latino católico de Jerusalém, Pierbattista Pizzaballa, e seu homólogo ortodoxo grego, Teófilo III, visitaram a igreja da Sagrada Família.
“Os patriarcas conversaram com as famílias refugiadas no local. Ofereceram suas condolências”” e “viram por si mesmos os danos sofridos pela igreja no recente ataque”, declarou o Patriarcado Latino de Jerusalém.
Também rezaram e acenderam velas na igreja greco-ortodoxa de São Porfírio.
Pizzaballa havia manifestado anteriormente “a preocupação das igrejas da Terra Santa pela comunidade de Gaza”.
Os dois líderes religiosos disseram que várias agências humanitárias tornaram possível sua visita, na qual também foram entregues alimentos e suprimentos médicos de emergência à população civil que, segundo a ONU, está à beira da fome.
“Alertamos que centenas de pessoas, cujos corpos estão completamente abatidos, encontram-se agora em perigo iminente de morte”, afirmou o médico Sohaib al Hums, diretor do hospital de campanha kuwaitiano da zona de Al Mawassi, em Khan Yunis.
O papa Leão XIV e Netanyahu conversaram por telefone nesta sexta-feira, informou o Vaticano. O pontífice “renovou seu apelo para revitalizar as negociações, com o objetivo de alcançar um cessar-fogo e pôr fim à guerra”.
No entanto, as negociações indiretas entre Hamas e Israel estão estagnadas, e o braço armado do movimento islamista acusou Israel de bloqueá-las.
– “Um refúgio seguro” –
Para o patriarca latino Pizzaballa, “atacar um local sagrado que abriga cerca de 600 deslocados, a maioria crianças, é uma flagrante violação da dignidade humana (…) e do caráter sagrado dos locais religiosos, que deveriam proporcionar um refúgio seguro em tempos de guerra”.
Desde o início da guerra entre o Hamas e Israel, em outubro de 2023, o padre argentino Gabriel Romanelli, ferido na perna, conversava regularmente à noite com o falecido papa Francisco, falecido em abril.
Há cerca de 1.000 cristãos em Gaza, a maioria ortodoxos, e, segundo o Patriarca, cerca de 135 católicos vivem no território palestino.
bur-phz/tp/bfi/msr/eg/jc/dd/ic/am