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Biotecnologia passa das ilusões ao realismo

O mundo da biotecnologia se eoncontrou no Palácio de Congressos de Washington. Marie-Christine Bonzom

BIO 2011, o maior salão mundial de biotecnologia ocorreu semana passada em Washington.

Depois de entusiasmo delirante nos anos 1990, a biotecnologia suíça, como seus concorrentes, passa agora a enfrentar a realidade.

Número três mundial, a biotecnologia suíça reconhece há muito tempo a importância de Bio, salão americano itinerante cuja edição 2011 acaba de fechar suas portas em Washington. A Swiss Biotech Association (Swiss Biotech) participa do salão desde 1999.

“É o maior evento da biotecnologia, uma plataforma de trocas e de contatos de alto nível”, declara Domenico Alexakis, diretor geral de Swiss Biotech.

François Schmidt, adido comercial na embaixada da Suíça em Washington, também considera a Bio um lugar único de encontros para as empresas suíças, não somente para entrar no mercado americano, mas também em outros”.

Sinergias

A China e outros países desenvolvem suas atividades em biotecnologia. No entanto, os Estados Unidos restam “o principal destino”, segundo Christoph Ebell, conselheiro científico da embaixada.

Os Estados Unidos dispõem de fato de um conjunto de empresas cujas sinergias fazem com que o mercado americano da biotecnologia seja o mais importante do mundo.

Tem empresas enormes como Pfizer, Johnson&Johnson ou Dow, universidades de ponta como Harvard, Massachusets Institute of Technology (MIT), as universidades californianas ou as da região de

Washington (sobretudo Maryland, Virginia, e Carolina do Norte), e um governo federal que, através dos Institutos Nacionais de Saúde, financia muitos programas de pesquisa.

As relações entre a Suíça e os Estados Unidos são antigas e profundas no setor da biotecnologia. “Os Estados Unidos são um parceiro sólido”, afirma Domenico Alexakis. “Iniciadas nos anos 1970, nossas relações cresceram consideravelmente nos anos 1990, a tal ponto que hoje praticamente não há um único campus americano que eu não tenha visitado e que não tenha uma relação qualquer com a Suíça em biotecnologia”, conta Christoph Ebell.

Papel das universidades suíças

As relações foram criadas por vezes por companhias suíças, em particular pelo centro de pesquisa aberto pela Novartis perto de Harvard e do MIT. As relações também existem entre universidades. “Cada universidade suíça que tem um laboratório de biotecnologia digno desse nome tem contatos com universidades americanas. É o caso da Universidade de Basileia e das Escolas Politécnicas Federais de Zurique e Lausanne”, explica o adido científico.

Seu colega do comércio, François Schmidt, acrescenta que a imagem da biotecnologia suíça é excelente”, principalmente devido aos “nichos suíços” que são a biotecnologia farmacêutica e a de aparelhos médicos.

“Os americanos têm confiança porque sabem que nossa técnica é reconhecida e isso facilita nosso trabalho de contato”, explica François Schmidt que, como membro da equipe do Swiss Business Hub-EUA, contribuiu para organizar a BIO 2011 e, durante todo o ano, ajuda empresas suíças do setor a se aproximarem de empresas americanas, dos governos estaduais e de autoridades federais, cuja concorrência dos mercados públicos é aberta às companhias estrangeiras, “sob certas condições”.

Meio ambiente é parente pobre

A biotecnologia superou relativamente bem a crise econômica mundial, como indica o relatório 2011 da Swiss Biotech. Mas, depois das esperanças delirantes suscitadas pelo setor, especialmente para a medicina, o entusiasmo diminuiu.

O diretor da Swiss Biotech pode citar apenas dois produtos oriundos da biotecnologia e que chegaram ao grande público: os compostos que permitiram dar sabor aos alimentos sem gordura e as enzimas de sabão em pó “que tiram manchas e têm menos impacto sobre o meio ambiente reduzindo a quantidade de água”.

O meio ambiente, aliás, tem sido alvo de poucos produtos de biotecnologia. Emblemáticos dessa derrapagem, Monsanto e seu herbicida geneticamente modificado Roundup são atacados em todo o mundo.

Separar a ciência dos negócios

Domenico Alexakis garante que o setor “aprendeu as lições da Monsanto”. Explica que “não se deve tentar inovar mudando as regras do jogo do livre mercado; na Suíça particularmente, a boa governança da empresa tem um efeito positivo sobre o setor da biotecnologia porque, no final das contas, é no dia a dia que devemos ganhar a confiança”, explica o diretor da Swiss Biotech.

Domenico Alexakis destaca que as “dez ou 12 maiores empresas de biotecnologia formam uma espécie de oligopólio”. Contudo, garante que o risco delas formarem um monopólio não existe. “Elas não conseguem atender a demanda e, portanto, recorrem constantemente a empresas menores para  joint ventures, explica.

Para o adido científico da embaixada, a biotecnologia teve “uma pequena bolha” provocada por “decepções”. Mas Christoph Ebell sublinha que o setor vive hoje uma época de maturidade e realismo.

“A atitude do mundo da biotecnologia é  atualmente de dizer que certas coisas não se concretizaram rapidamente como se esperava, o que não quer dizer que não se concretizarão jamais. Percebemos que é preciso separa a ciência dos negócios”, conclui  Christoph Ebell.

A Suíça é um dos três países mais avançados no setor, depois dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha.

Apesar da crise econômica, a biotecnologia suíça teve um crescimento de 7% entre 2008 e 2009.

O setor emprega mas de 19 mil pessoas na Suíça e tem 237 empresas, entre elas Roche, Novartis e  Actelion.

O faturamento do setor foi de 9,2 bilhões de francos em 2010.

O financiamento é o ponto fraco do setor : somente 255 milhões de francos levantados em 2010, contra 370 milhões no ano anterior.

Fonte: relatório 2011 da Swiss Biotech

É o salão mais importante do mundo no setor de biotecnologia.

Itinerante, a edição 2011 ocorreu em Washington, de 27 a 30 de junho.

Reuniu mais de 15 mil congressistas dos quatro cantos dos Estados Unidos e de 65 outros países.

O pavilhão suíço contou com 17 empresas e organizações do setor.

Adaptação: Claudinê Gonçalves

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