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Documentos vazados questionam posicionamento da Suíça sobre financiamento climático

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Muitos países em desenvolvimento dependem da ajuda financeira dos países ricos para lidar com a mudança climática. Aqui, Baligubadle, Somalilândia, atingido pela seca, em 2019. Keystone / Mark Naftalin / United Nations D

Segundo posicionamentos oficiais da Suíça, uma das prioridades do país na COP26 é aumentar o investimento em medidas de proteção climática para os países em desenvolvimento. Mas, poucos dias antes do início da Conferência do Clima, documentos vazados sugerem que o país alpino estaria fazendo lobby nos bastidores pelo contrário.

Em 2009, durante a conferência climática da ONU em Copenhague, as nações industrializadas concordaram em destinar 100 bilhões de dólares (CHF 92 bilhões) Link externopor ano para ajudar os países em desenvolvimento a se adaptarem às mudanças climáticas, até 2020. Mas, em 2021, essa meta ainda não foi atingida.

Na Conferência do Clima das Nações Unidas (COP26) em Glasgow, que começou em 31 de outubro e vai até 12 de novembro, a Suíça pedirá mais investimentos em financiamento climático. Esta é, pelo menos, a sua posição oficial.

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Mas de acordo com documentos vazados que foram analisados pela UnearthedLink externo, uma equipe investigativa filiada à organização não governamental Greenpeace UK, a Suíça está tentando reduzir a responsabilidade dos países ricos em dar apoio financeiro aos mais pobres. Na última quinta-feira, 21, a BBC noticiouLink externo o caso.

Os documentos vazados consistem em mais de 32.000 apresentações de governos, empresas e outras partes interessadas em esboçar o conteúdo do próximo relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC). Os relatórios finais da ONU, elaborados por cientistas, são usados ​​pelos governos para definir suas metas climáticas e medidas de redução de emissões após a Conferência.

Segundo os dados vazados, a Suíça não é o único país que tenta influenciar o conteúdo do relatório. De acordo com o Unearthed, os países produtores de petróleo minimizam a necessidade de diminuir a utilização dos combustíveis fósseis e os principais produtores de carne e laticínios, incluindo o Brasil, argumentam contra a mensagem de que a redução do consumo de carne reduziria as emissões.

“Esses comentários mostram as táticas que alguns países estão dispostos a adotar para obstruir e atrasar ações de corte de emissões”, disse ao UnearthedLink externo, Simon Lewis, professor de ciência da mudança global na University College London. 

Nem todos os países precisam de ajuda

O Escritório Federal Suíço para o Meio Ambiente (FOEN) afirma que os países analisarem e enviarem comentários sobre o relatório é uma etapa normal da elaboração do documento do IPCC. O processo é “transparente” e “todos os comentários são tornados públicos”, disse o FOEN à SWI swissinfo.ch por e-mail.

Franz Perrez, chefe da delegação suíça para a COP26, acrescentou que: “Os comentários da Suíça sobre o esboço do resumo [do relatório] para os formuladores de políticas não pretendiam questionar a importância do financiamento climático ou a necessidade de fundos adicionais. A Suíça continua com a mesma opinião de que o apoio internacional a uma política climática ambiciosa deve ser ainda mais fortalecido”.

O financiamento climático é uma ferramenta importante para impulsionar os esforços de proteção do clima, sublinhou o FOEN. “Mas não é a única ferramenta relevante. Vários países em desenvolvimento precisam de apoio financeiro para desenvolver e implementar políticas climáticas que estejam de acordo com o Acordo de Paris. Mas alguns outros países não precisam ”, disse o FOEN.

ONG: desânimo se for verdade

Georg Klingler, especialista em clima do Greenpeace Suíça, disse que as revelações noticiadas pela BBC deram a impressão de que a Suíça estava fazendo o oposto do que precisava ser feito para enfrentar a crise climática.

“Se a Suíça estava tentando minar a proteção climática nos bastidores, enquanto oficialmente está sendo se mostrando ambiciosa [em pedir medidas de proteção], isso obviamente é um escândalo”, disse ele à SWI swissinfo.ch.

Para Klingler, o que está claro é que a contribuição da Suíça para o financiamento do clima (cerca de CHF 640 milhões por ano) não é suficiente. “Achamos que deveria ser de pelo menos CHF 1 bilhão por ano, considerando o quão forte é a economia suíça”, aponta ele.

O especialista diz não ter certeza se a Suíça está realmente fazendo pressão internacional para que os 100 bilhões de dólares por ano – acordados em 2009 – sejam realmente destinados aos países em desenvolvimento. “A suspeita é de que o país está tentando minar essa promessa e usando estratégias que no final não resultarão em mais dinheiro para a proteção climática”, disse Klingler.

Adaptação: Clarissa Levy

Adaptação: Clarissa Levy

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