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Alta do franco suíço gera apostas em taxas de juros negativas

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O franco suíço atingiu o maior valor da década em relação ao dólar. Keystone / Ti-Press / Alessandro Crinari

O franco suíço atingiu o maior valor de uma década em relação ao dólar, com os investidores correndo para se proteger da turbulência no comércio global, sugerindo que que o banco central do país terá que reduzir as taxas de juros para zero ou menos para conter o aumento da moeda.

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A moeda suíça, historicamente um refúgio do mercado financeiro devido à estabilidade política e econômica do país alpino, atingiu uma força quase recorde em relação ao dólar nesta semana, com o dólar afundando perto de CHF 0,80 pela primeira vez desde a valorização chocante do franco em 2015.

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Isso colocou os formuladores de políticas em uma situação difícil, pois eles tentam restringir a moeda para apoiar a economia com alto índice de exportação sem provocar uma reação dos Estados Unidos, que já ameaçou a Suíça com altas tarifas.

+ O franco forte é uma bênção e uma maldição para a Suíça

Essas “correntes cruzadas” colocam o banco central em uma posição “incrivelmente difícil”, disse Kit Juckes, estrategista–chefe de câmbio do Société Générale.

“O governo suíço não quer que grandes pressões desinflacionárias voltem a ocorrer e, por isso, está frustrado”, acrescentou.

+ Como o franco forte poupou a Suíça de uma inflação excessiva

Risco de deflação

Os rendimentos da dívida pública de curto prazo caíram para território negativo nos últimos dias, já que os investidores apostam que o Banco Nacional Suíço (SNB) responderá com cortes nas taxas de juros. Os rendimentos suíços de dois anos, que refletem as expectativas para as taxas de juros, foram negociados marginalmente abaixo de zero na sexta-feira.

Segundo analistas, a rápida valorização do franco pode causar um choque deflacionário na Suíça, exacerbado pelo impacto no crescimento da guerra comercial do presidente dos EUA, Donald Trump.

Com 31%, as tarifas “recíprocas” impostas aos produtos suíços no início deste mês – antes de serem suspensas por 90 dias – excedem as taxas impostas à UE. A Suíça depende dos consumidores dos EUA para mais de 10% das exportações.

A situação levou o governo a arquitetar uma resposta diplomática.

A presidente da Suíça, Karin Keller-Sutter, que também é ministra da Fazenda, fez uma ligação telefônica com Trump horas antes de ele anunciar a pausa nas tarifas. Esta semana, ela viajou para Washington com o ministro da economia para uma reunião com o secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, para discutir “oportunidades de colaboração aprimorada entre nossos dois países”.

Manipulação da moeda

A Suíça, que historicamente tem procurado restringir a força de sua moeda, sempre acaba afetada por movimentos bruscos na economia. Em janeiro de 2015, o SNB subitamente abandonou sua política de limitar o valor do franco em relação ao euro, fazendo com que a moeda disparasse.

Analistas afirmam que Berna teme ser novamente considerada um manipulador de moeda pelos EUA se forçar uma intervenção nos mercados para controlar o franco.

A Suíça foi adicionada a uma lista dos EUA de “manipuladores de moeda” nas últimas semanas da primeira presidência de Trump, em parte devido à sua intervenção para amortecer a turbulência financeira da pandemia do coronavírus. Ela foi removida da lista durante o governo Biden.

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Nos últimos meses, o franco também subiu em relação ao euro, deixando o país dependente de exportações em uma posição difícil com seu maior parceiro comercial.

O SNB agiu mais rapidamente do que seus pares ao reduzir sua taxa básica de juros para 0,25%, e novos cortes são vistos como uma opção diplomaticamente mais segura para conter a alta do franco.

Potencial de taxas negativas

O Banco Nacional Suiço manteve as taxas bem abaixo de zero por oito anos – em parte para impedir que o franco subisse demais – antes de elevá-las para território positivo em 2022 para combater a explosão da inflação que se seguiu à pandemia.

“Se o SNB estiver insatisfeito com o franco forte e limitado pelas intervenções cambiais, as taxas mais baixas são a única opção”, disse Francesco Pesole, estrategista cambial do ING.

Stefan Gerlach, economista-chefe do EFG Bank, diz que as taxas de juros negativas “podem muito bem acontecer”, acrescentando que a intervenção cambial também pode ser necessária.

Gerlach minimizou as chances de a Suíça ser novamente rotulada como manipuladora de moedas. Há uma sensação entre os “adultos na sala” do Departamento do Tesouro dos EUA de que isso não é um problema, disse ele.

“Pode ser um problema se você reduzir a taxa de câmbio para obter vantagem competitiva. Mas não é um problema se sua moeda subir e você tentar moderar o aumento.”

Inflação baixa

Os mercados estão apostando em uma chance de cerca de 80% de que a taxa caia para zero na próxima reunião, em junho, com uma pequena segunda aposta que os juros fiquem negativos somente no final do ano.

A inflação anual está em torno de 0,3%, já no limite inferior da meta do banco central, que define a meta entre zero a 2%.

O banco central suíço está “definitivamente preocupado”, disse Gregor Kapferer, diretor de títulos suíços da Vontobel, argumentando que uma intervenção maior seria um “último recurso”.

“Durante o último governo Trump, eles foram chamados de manipuladores de moeda, mas não houve nenhuma consequência. Agora Trump está seguindo a mesma linha, então acho que o SNB será muito mais cauteloso aqui.”

Mas Athanasios Vamvakidis, chefe global de estratégia cambial do G10 do Bank of America, sugeriu que o SNB “se incline contra o vento” com algumas intervenções.

“É difícil imaginar que o governo dos EUA vá reclamar de alguma intervenção”, dada a rápida valorização da moeda, disse ele, acrescentando que essa abordagem parece mais provável do que taxas de juros negativas.

Deixando de lado o choque de 2015, o dólar está se aproximando de sua maior baixa de 2011 em relação ao franco.

“Talvez [o franco] precise apenas de um mundo mais calmo do que este”, disse Juckes, do Société Générale. “O perigo é que a história diz que, com o tempo, ele fica mais forte.”

Copyright The Financial Times Limited 2025
(Adaptação: Clarissa Levy)

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