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Jean-Claude Juncker, último dinossauro da construção europeia

Jean-Claude Juncker, primeiro-ministro de Luxemburgo por quase 19 anos, faz discurso em 25 de maio de 2014 afp_tickers

Jean-Claude Juncker, primeiro-ministro de Luxemburgo por quase 19 anos, foi nomeado nesta sexta-feira como presidente da Comissão, o órgão executivo da União Europeia (UE).

Membro de um governo luxemburguês sem interrupção por quase 31 anos, Juncker é uma das autoridades políticas mais populares de seu país.

Sua candidatura, no entanto, desencadeou outro drama da UE com a Grã-Bretanha. O primeiro-ministro, David Cameron, considera que ele não é a pessoa adequada para assumir o cargo.

Arquiteto do resgate do euro, Juncker ainda mantém o recorde de longevidade à frente de um governo europeu. Foi designado primeiro-ministro em janeiro de 1995, quando François Mitterrand e Helmut Kohl ainda estavam no poder.

Aos 59 anos viveu a profunda transformação da União Europeia, a entrada em vigor do tratado de Lisboa em 2009, o nascimento da moeda única, a crise da dívida e o resgate do euro, uma tarefa à qual se dedicou com entusiasmo durante oito anos à frente do Eurogrupo (grupo de ministros das Finanças).

Quando a crise derrubava, um depois do outro, a maioria dos líderes europeus, Juncker disse um dia, com seu senso de humor característico: “Sabemos tudo o que precisa ser feito, mas não sabemos como ser reeleitos quando fizermos isso”.

Pró-europeu convencido, sempre se considerou uma encruzilhada franco-alemã: “Quando quero falar em francês, penso em alemão; quando quero falar em alemão, penso em francês, e no fim fico incompreensível em todas as línguas”, declarou.

Líder de um dos menores países da União Europeia, Juncker nunca hesitou em erguer a voz contra as capitais, sobretudo para rejeitar eventuais imposições franco-alemãs. Tem “dois defeitos catastróficos: tem uma opinião e a expressa”, declarou uma autoridade europeia sobre ele.

Sua franqueza no momento de se manifestar talvez tenha lhe custado o cargo de presidente do Conselho Europeu (que reúne os chefes de Estado e de Governo do grupo), com o qual sonhava em 2009. Atribuiu a derrota a uma oposição tanto do então presidente francês, Nicolas Sarkozy, seu desafeto, quanto da chanceler alemã, Angela Merkel.

Convicções fervorosas

Seu lema sempre foi a promoção da construção europeia, com uma visão federalista que valeu a ele em 2006 o prestigiado premio Carlos Magno da unificação europeia.

Em tudo soube combinar seu idealismo com um sólido senso de realidade, principalmente a serviço dos interesses de seu país, para o qual defendeu por um longo tempo o segredo bancário. “Para mim, a Europa é uma mistura de ações concretas a serem realizadas e convicções fortes, quase fervorosas”, afirmou recentemente à televisão alemã. “Mas as convicções fortes não fornecem nada sem pragmatismo”.

Jean-Claude Juncker, nascido no dia 9 de dezembro de 1954, filho do pós-guerra, com um pai integrado à força na Wehrmacht, sempre considerou ligados intimamente os interesses de seu país e a causa da Europa.

Seu pai “teve um papel importante” em sua vida também como sindicalista e metalúrgico. Uma herança que fez desse fumante inveterado, amante do conhaque, um homem de perfil político atípico. Pilar do Partido Cristão Social luxemburguês, de direita, ele não esconde a desconfiança em relação ao liberalismo puro e duro.

Recentemente destacava a necessidade de dar mais importância à dimensão social, a “criança pobre da união econômica e monetária”.

“Juncker é o cristão-democrata mais socialista que existe”, resume o ecologista franco-alemão Daniel Cohn-Bendit, ao se referir ao político que, à exceção de uma breve interrupção no início dos anos 2000, sempre governou em Luxemburgo com os socialistas.

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