O dilema da Índia: metas climáticas e necessidade de crescimento
A Índia é o país mais populoso do mundo, o terceiro maior emissor de gases do efeito estufa e continua muito dependente do poluente carvão para suprir a crescente demanda energética.
Antes da COP30, a conferência sobre o clima que começará na próxima semana na cidade de Belém (Pará), a AFP faz um resumo dos compromissos climáticos do país:
– Emissões –
Em 2024, a Índia emitiu 4,4 bilhões de toneladas de dióxido de carbono equivalente – uma medida de todos os gases do efeito estufa do planeta -, segundo dados da ONU, ficando atrás apenas da China e dos Estados Unidos.
Contudo, com uma população de 1,4 bilhão de pessoas, suas emissões per capita e sua contribuição histórica para o aquecimento global são muito menores.
A Índia se comprometeu a alcançar emissões líquidas zero até 2070 e está no caminho para cumprir e superar sua promessa de reduzir, até 2030, a intensidade das emissões em 45% (ou seja, o grau de suas emissões relativo ao PIB) na comparação com os níveis de 2005.
– Energia elétrica –
Em 2025, os combustíveis não fósseis alcançaram metade da capacidade energética instalada da Índia, uma meta atingida cinco anos antes do previsto.
Mas a capacidade não se traduziu em geração e o país continua sendo o segundo maior consumidor de carvão do mundo, fonte que gera quase 75% da energia elétrica do país.
A previsão aponta que as necessidades de eletricidade mais do que dobrarão até 2047, segundo o Centro Indiano para Ciência e Meio Ambiente.
No momento, o país continua distante da ambiciosa meta nacional de alcançar 43% de geração de energia renovável até 2030. Apenas 2,5% dos veículos vendidos na Índia no ano passado eram elétricos, segundo a S&P Global.
– Objetivos –
Como todos os signatários do Acordo de Paris, que estabeleceu o objetivo de limitar o aquecimento global de longo prazo a 1,5ºC, a Índia deve apresentar em breve um plano com seus compromissos climáticos e suas metas até 2035.
Aman Srivastava, pesquisador de políticas climáticas no think tank ‘Sustainable Futures Collaborative’, afirmou que as metas provavelmente serão cautelosas, permitindo que a Índia cumpra e possivelmente supere os objetivos.
Um anúncio importante poderia ser o ano em que as emissões alcançarão o pico, talvez por volta de 2040-2045, declarou à AFP.
“Isto permitiria reduzir as emissões durante os próximos 30 anos para alcançar a meta de emissões líquidas zero em 2070”, acrescentou.
A Índia também poderia reduzir ainda mais a intensidade de suas emissões, em mais de 50%, segundo Srivastava.
– Desafios –
A Índia lidera a iniciativa entre os países em desenvolvimento que buscam mais ajuda financeira para mitigar as mudanças climáticas e enfrentar seus efeitos.
Um relatório recente sugere que o país asiático considera que precisará de até 21 trilhões de dólares (113 trilhões de reais na cotação atual) para cumprir as metas climáticas e, ao mesmo tempo, garantir as necessidades de sua população.
“A Índia enfrenta múltiplas prioridades”, afirmaram Nakul Sharma e Madhura Joshi, do grupo de estudos sobre o clima E3G.
“Sua agenda climática está profundamente entrelaçada com suas prioridades de desenvolvimento e segurança energética”, acrescentaram.
– Diplomacia climática –
A Índia atua como porta-voz dos países em desenvolvimento e não ficou satisfeita com o objetivo de financiamento climático estabelecido na COP do ano passado, que considerou insuficiente.
O país poderia apresentar duas propostas de metas climáticas, com objetivos mais ambiciosos condicionados a um financiamento maior, declarou Srivastava.
É provável que pressione por mais apoio dos países ricos e que enfatize a responsabilidade histórica destas nações nas mudanças climáticas durante a COP30.
“Restabelecer a confiança no multilateralismo será realmente importante na reunião deste ano”, acrescentou Srivastava.
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