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Palestinos de Jerusalém Oriental estão angustiados com a demolição de suas casas

Ghadir al Atrash não consegue conter suas lágrimas em frente às ruínas de sua casa, recém-demolida pelas autoridades israelenses em um povoado palestino ao sul de Jerusalém. 

Al Walaja está localizada entre colinas e oliveiras, sob jurisdição de Jerusalém Oriental, a parte de maioria árabe anexada por Israel. 

Nessa localidade, dezenas de famílias vivem sob a ameaça de demolição de suas casas por problemas com seu alvará de construção. 

Alvarás que, segundo militantes de organizações de defesa dos direitos dos palestinos, são quase impossíveis de obter por causa da restrita política de habitação aplicada por Israel em Jerusalém Oriental e nas regiões sob seu pleno controle na Cisjordânia. 

Apesar de a prática não ser nova nesse território palestino ocupado por Israel desde 1967, ela aumentou desde o início da guerra desencadeada pelo ataque do movimento islamista palestino Hamas em solo israelense em 7 de outubro. 

Em Al Walaja, um povoado de 3.000 habitantes, os trâmites são complicados, porque não há registro cadastral. 

Uma parte de seu território já se viu reduzido por duas colônias israelenses, ilegais segundo o direito internacional, enquanto algumas terras agrícolas ficaram fora do acesso construído pelo muro de separação erguido por Israel na Cisjordânia. 

Segundo o Escritório de Coordenação de Assuntos Humanitários da ONU (OCHA), o ritmo das destruições de casas na Cisjordânia, incluindo Jerusalém Oriental, acelerou em mais de 30% desde os ataques do Hamas em 7 de outubro em comparação aos primeiros meses do ano passado. Mais de 440 palestinos que vivem nesses setores se viram deslocados, diz o OCHA.

Segundo a ONG israelense Ir Amim, que defende a coexistência entre as comunidades na cidade, o número de demolições cresceu cerca de 50% desde 7 de outubro em Jerusalém Oriental. 

– Escolha impossível –

Para muitos palestinos e ONGs, trata-se de uma estratégia para que deixem Jerusalém. 

Israel considera essa cidade como sua capital eterna e indivisível e os palestinos desejam tornar Jerusalém a capital de um hipotético Estado independente. 

“Os habitantes devem escolher ir embora de Al Walaja, onde nasceram e onde suas famílias vivem, ou construir sem permissão correndo o risco de que suas casas sejam destruídas”, resume Aviv Tatarsky, militante da Ir Amim. 

Ghadir al Atrash, uma mãe divorciada de 43 anos, diz que terminou de construir sua casa em fevereiro juntando com muito sacrifício os 200.000 shekels (54.000 dólares ou 263.000 reais) necessários: “Meu filho deixou a universidade, economizamos, pedimos dinheiro emprestado”, diz. “A construí para sair da destruição e da miséria, para estabilizar minha vida”. 

O que aconteceu com ela é o que temem centenas de pessoas sob ameaça de ordens de demolição das autoridades israelenses. Embora cerca de 30 casas tenham obtido um adiamento da Suprema Corte israelense, seis podem ser demolidas a qualquer momento. 

– Medo –

Segundo a Ir Amin, este é o caso de Mahmud Abu Khiarah, de 28 anos: “Há angústia e medo”, disse esse trabalhador do setor da construção. 

“Penso sempre no que vão fazer conosco e com nossa casa” construída em 2017, onde vive desde então sua família, disse. 

Para evitar ter que suportar o custo de uma demolição decidida pelas autoridades israelenses, alguns moradores decidem destruí-las por si mesmos. 

Perguntados pela AFP sobre a situação de Al Walaja, as autoridades israelenses e a prefeitura de Jerusalém não fizeram comentários.

Devido à falta de cadastro, moradores de Al Walaja orçaram para cartografar sua aldeia e submeter seu plano no início de outubro às autoridades, que disseram que teriam uma resposta em quatro meses.  

“Como potência ocupante, Israel deve proteger os palestinos”, que “devem ter acesso a um sistema honesto e equitativo de cadastro”, disse Greg Puleym, do OCHA.

Mas, à espera de uma decisão, a ameaça de destruição das casas perdura. “Se derrubarem nossa casa, seremos obrigados a viver fora daqui”, afirma Abu Khiarah. 

Os ataques de 7 de outubro realizados a partir de Gaza por combatentes do movimento islamista Hamas, “organização terrorista” para a União Europeia e Estados Unidos, causaram a morte de 1.140 pessoas do lado isralense, em sua maioria civis, segundo um cálculo da AFP baseado nos último balanço oficial isralense disponível. 

Em represália, as operações militares israelenses mataram mais de 23.000 pessoas em Gaza, em sua maioria mulheres e menores, segundo o Hamas, que governa esse território. 

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