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Nacionalizações na Venezuela preocupam a Suíça

Chávez: mexendo com "peixe graúdo". Reuters

As fábricas da suíça Holcim, segunda maior empresa de cimento do mundo, estão incluídas nos planos de estatização do governo de Hugo Chávez.

A empresa rebate a acusação de que não produz para o mercado interno. Preocupado, o governo em Berna lembra o acordo de promoção e proteção dos investimentos entre a Suíça e a Venezuela.

Chávez anunciou no dia 4 de abril a nacionalização imediata de toda a indústria de cimento, considerada “estratégica” para o país. Além da Holcim, também a mexicana Cemex e a francesa Lafarge são atingidas pela medida.

A Holcim, segundo maior grupo mundial do setor, atua desde 1978 no país sul-americano. Suas fábricas em Puerto Cumarebo e San Sebastian faturam 200 milhões de dólares por ano, que representa menos de 1% de seu faturamento total, que foi de 27 bilhões de dólares em 2007.

“Inquientante”

Chávez acusou as gigantes do cimento de concentrar sua produção na exportação em vez de atender à demanda do mercado nacional. Ele prometeu o pagamento pelos 60% do capital dessas empresas, que passarão ao controle do Estado.

A Holcim rebateu a acusação e garantiu que, por ordem do governo venezuelano, há um ano suas duas fábricas no país produzem exclusivamente para o mercado interno.

Para o governo suíço, as estatizações em curso na Venezuela são “inquietantes”. Essa política gera incertezas e preocupações para a iniciativa privada, disse a porta-voz da Secretaria Federal de Economia (Seco), Antje Baertschi.

Acordos bilaterais

A embaixada da Suíça em Caracas reagiu com uma nota diplomática, em 7 de abril, e a Seco convocou a embaixadora da Venezuela em Berna para tratar do assunto.

“A Suíça reconhece a soberania da Venezuela em matéria de política econômica, desde que ela respeite os acordos bilaterais em vigor entre os dois países, em particular o acordo promoção e proteção dos investimentos firmado em 1994”, afirmou Baertschi.

Esse acordo garante uma indenização em caso de nacionalização e garante às empresas suíças atuantes na Venezuela o direito de recorrer a um tribunal arbitral.

A Holcim é a primeira empresa suíça atingida pela política de nacionalização de Chávez. Segundo o ex-embaixador da Suíça na Venezuela, Walter Suter, os outros conglomerados helvéticos atuantes no país – Nestlé, Novartis ou Schindler – mantêm boas relações com Caracas e não devem ser tocadas por essa política.

Política suicida

Claude Auroy, especialista em América Latina do Instituto de Altos Estudos Econômicos e de Desenvolvimento da Universidade de Genebra, lembra que a fragilidade da economia venezuelana se deve à dependência dos petrodólares, à fraqueza das políticas industriais e à pobreza de grande parte da população antes da chegada de Chávez ao poder.

Mas o pesquisador mostra-se cético em relação à atual tendência a controlar a economia. “Não contesto o objetivo de lutar contra a pobreza, mas as soluções fáceis. Se essa política suicida continuar e se ampliar, ela tornará o país cada vez menos competitivo”, afirma.

swissinfo, Fréderic Burnand, Genebra

No final 2006, o montante de investimentos suíços na Venezuela era estimado em 888 milhões de francos (905 milhões em 2005).
Apenas 8 milhões de dólares eram investidos por empresas suíça no setor petrolífero venezuelano.
Mais de 260 empresas suíças estão presentes na Venezuela, representando os diversos setores da economia helvética (bancário, de seguros, farmacêutico, químico, de transportes etc)
Fonte: Seco

A Holcim, número 2 do mundo no setor de cimento, átua em mais de 70 países nos cinco continentes.

O grupo tem 89 mil funcionários, dos quais 1300 na Suíça. A empresa tem fábricas na Venezuela desde 1978.

No ano passado, o grupo faturou 27,1 milhões de francos suíços e obteve um lucro de 4,5 bilhões de francos.

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