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Uma diplomata suíça entre as frentes no Cáucaso

Padre georgiano reza missa para soldados perecidos no conflito em 2008. Keystone

Um ano após a guerra na Geórgia, a sensibilidade da diplomacia helvética é mais requisitada que jamais.

A diplomata suíça Heidi Tagliavini tem até setembro para revelar a verdade por trás do conflito. Seu relatório é esperado com grande expectativa em Moscou e Washington.

“Nosso objetivo é de entregar um relatório o mais justo e objetivo que possível”, declarou Heidi Tagliavini durante uma coletiva de imprensa na última quarta-feira (29 de julho) em Moscou. Porém essa corajosa diplomata de baixa estatura acrescenta com um ar sério: “É uma grande tarefa, sobretudo pelo fato do clima ainda estar bastante carregado emocionalmente nos dois campos.”

Desde o último dezembro, essa suíça de 58 anos viaja entre Moscou, Tíflis, Bruxelas e Washington como chefe de uma missão quase impossível. Juntamente com um diplomata alemão e um polonês, assim como uma equipe de 15 especialistas, ele deve esclarecer a guerra da Geórgia para os Estados Unidos.

Quem desencadeou a guerra?

O objetivo do relatório é, de uma parte, determinar a causa e o desenrolar do conflito. Quem o desencadeou? Este ponto resta obscuro até então.

De outra parte, trata-se de investigar sobre prováveis crimes de guerra. Porém Heidi Tagliavini tentou na quarta-feira abafar essas imensas expectativas: o relatório irá conter apenas material baseado em provas sólidas. Mas, como tudo indica, a verdade absoluta só irá aparecer a partir de mais investigações ou possivelmente nunca surgirá, precisou a antiga chefe de missão da ONU na Geórgia.

O relatório final da comissão teria de estar pronto já no final de julho. Porém, devido à enorme massa de indícios e pistas, os responsáveis em Bruxelas decidiram prolongar o prazo em mais dois meses.

Enquanto isso, críticos deram a entender na imprensa que haveria outra razão pelo atraso, especulando sobre o fato de que se tenta evitar jogar mais óleo sobre o fogo ao publicar o relatório em uma data tão próxima do primeiro aniversário do desencadeamento da guerra, em oito de agosto.

O ocidente em posição delicada

Pois a situação que prevalece na Geórgia ainda é bastante tensa. A Rússia continua ocupando as províncias georgianas rebeldes da Ossétia do Sul e Abecásia, para onde estão estacionados milhares de soldados desde agosto passado.

Pouco após a guerra, a Rússia havia reconhecido a independência das duas regiões separatistas apesar da posição contrária do Ocidente. Desde então, Moscou e Tíflis se acusam mutuamente de preparar um novo ataque.

Nessa situação extremamente delicada, é difícil determinar quem foi o agressor inicial. Segundo as conclusões atuais, a Rússia ganhou a guerra de nervos em agosto do ano passado: o presidente georgiano Michail Saakaschwili perdeu a paciência e tentou, quinze anos depois, de recuperar a Ossétia do Sul através de um ataque militar.

A tentativa fracassou e colocou não apenas Saakaschwili, mas também o resto da União Européia e os Estados Unidos em uma situação difícil. Isso, pois estes haviam apoiado firmemente o seu governo e equipado a suas forças armadas em vista de uma possível intervenção da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN ou NATO)

Sucesso da diplomacia suíça

Apesar dessas dificuldades, Heidi Tagliavini espera que seu relatório contribua a tirar lições dos erros passados. Mas será provavelmente difícil de saber em setembro quem irá vencer a “queda de braço” entre Oeste e Leste.

Se já existe um vencedor, este será seguramente a diplomacia helvética. No momento em que os Estados Unidos solicitaram Heidi Tagliavini a dirigir a comissão de investigações, Rússia e Geórgia igualmente bateram na porta do país dos Alpes. Desde o início de março o governo em Berna representa os interesses russos em Tíflis e os da Geórgia em Moscou.

Concretamente, isso significa que os diplomatas dos dois países continuam de trabalhar nas suas embaixadas, mas sob a bandeira suíça. Quanto à comunicação entre as partes do conflito, ela passa indiretamente pela representação suíça.

Nessa situação pouco ordinária, pequenos problemas podem se transformar em grandes dificuldades. Assim, em nove de maio, data do aniversário da vitória soviética na 2° Guerra Mundial, a missão russa queria depositar uma coroa de flores sobre o monumento do soldado desconhecido em Tíflis. A intervenção suíça permitiu então encontrar um consenso: a inscrição que figura sobre a coroa.

Christian Weisflog, Moscou, swissinfo.ch

Heidi Tagliavini tem experiência com guerras: a diplomata nascida em 1950 na Basiléia já foi embaixadora na Bósnia, representante da OCDE na Chechênia e dirigiu, entre 2002 e 2006, a missão da ONU na Geórgia.

No final do ano passado ela foi indicada para ser chefe da comissão de investigação da União Européia, formada para descobrir as causas da guerra na Geórgia.

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