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Apesar da Covid, os suíços hesitam em desistir da boa vida nos Alpes

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Uma feira de Natal em Zurique em 27 de novembro © Keystone / Christian Beutler

É uma fria aurora de dezembro em Zurique. Uma leve chuva de granizo faz com que o gelado rio Limmat apresente uma cor acinzentada e opaca.

Dentro da igreja de Fraumünster, três velas do advento tremulam no altar e, por trás do coro, uma luz fraca começa a transpassar os vitrais de Chagall. Durante o mês de dezembro, a antiga abadia tem realizado, toda quarta-feira, breves Laudes matutinas com músicas de Bach sendo tocadas no órgão.

São 7h30 da manhã. Não consegui dormir quase nada. Mas consegui tornar esta manhã de dezembro o mais festiva possível. Então, aqui estou.

A multidão é grande e variada. Os suíços acordam dolorosamente cedo. Há alguns jovens amigos se encontrando antes do trabalho. Aposentados arrumados da região de Goldküste, a ‘costa dourada’ do Lago de Zurique. Vindos da praça Paradeplatz, banqueiros com cabelos penteados e coletes com zíper buscam algum desencargo de consciência.

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FT

Atualmente, o resultado do meu teste PCR também está nas mãos dos deuses. Precisarei de boas notícias para poder voar de volta para Londres e ver a minha família para o nosso primeiro Natal (meio) normal em dois anos.

A Suíça está vivendo uma nova onda de coronavírus – ao mesmo tempo, mais severa e aparentemente menos importante do que quase qualquer outra na pandemia. E isso não é nem por causa da Ômicron. Um terço dos suíços ainda não tomou sequer uma única dose da vacina. Apenas pouco mais de um décimo da população tomou uma dose de reforço. Em relação à vacinação, nenhum país da Europa ocidental está tão mal.

Do lado de fora da antiga abadia, na praça de Münsterhof, vans entregam os suprimentos diários para as bancas do mercado de Natal – glühwein [vinho quente], rodas de raclette [queijo] e caras estátuas de madeira.

As autoridades consideram necessário que os clientes do mercado ao ar livre tenham seus certificados de vacina verificados, mesmo que as multidões ali sejam muito menos densas do que as do salão de perfumes e cosméticos da luxuosa loja de departamentos Jelmoli, na mesma rua, onde as únicas condições prévias para a entrada são a falta de senso financeiro e bom gosto.

A política suíça sobre a Covid é uma confusão. Eu oscilei entre apoiar sua abordagem – a qualidade de vida, não apenas sua longevidade, é algo que o governo genuinamente leva em consideração – e me desesperar com sua falta de firmeza onde ela era importante, especificamente no que diz respeito às vacinas.

O governo afirma que está fazendo tudo o que pode para evitar outro lockdown. Mas, como em outros lugares da Europa, ninguém tem realmente muita fé de que o governo saiba mais o que fazer do que eles.

Mais medidas anticovid

A Suíça só permitirá que acessem ambientes públicos fechados – como restaurantes, bares, estabelecimentos culturais e esportivos – aqueles que foram vacinados ou se recuperaram recentemente de uma infecção de Covid-19, segundo um pronunciamento do governo feito no dia 17.

As novas restrições começaram a valer no dia 20 de dezembro, e devem permanecer em vigor até o dia 24 de janeiro – pelo menos segundo a previsão inicial.

As regras também estabelecem que, em áreas onde máscaras não podem ser usadas, todos devem fornecer um teste negativo. Somente as pessoas que foram vacinadas ou tomaram uma dose de reforço nos últimos quatro meses, ou têm menos de 16 anos, estão isentas da exigência do teste.

Trabalhar de casa se tornou obrigatório sempre que for possível.

As restrições de entrada foram ligeiramente afrouxadas para os viajantes que entram na Suíça.

No início de dezembro, quando estava esquiando em Zermatt com um amigo, fiz uma visita ao Walliserkanne – um pub que se tornou um símbolo nacional de resistência às imposições do governo. Os proprietários se recusaram reiteradamente a verificar o passaporte de vacina ou os resultados de teste dos clientes. Por fim, as autoridades foram forçadas a empilhar enormes blocos de concreto em frente às portas do local. Agora, ele está aberto novamente. Na janela, é possível ler numa folha A4 ligeiramente surrada: “Obrigado por todo o seu apoio!” 

Em Zermatt, a mais alta estação de esqui da Europa, a temporada está começando lentamente. Uma súbita decisão do governo suíço de colocar o Reino Unido na lista de quarentena já afetou o número de visitantes.

Suspeito que apenas por isso conseguimos um lugar no bar Elsie’s, um bar de vinhos local, geralmente lotado, que um recorte de jornal na parede declara ser frequentado por ricos banqueiros e aristocratas. E agora eu.

Diferentemente de Zurique, em Zermatt, as preocupações sobre possíveis consequências de outra rodada de restrições rígidas são mais palpáveis. Christina, a gerente do Elsie’s, conta como no ano passado ela ficou desolada ao jogar fora caixas de comida fresca – lagostas e ostras –, após um súbito lockdown encerrar a temporada.

Com base em como as coisas estão se desenvolvendo com a variante Ômicron no Reino Unido, onde a soroprevalência de anticorpos contra a Covid é significativamente maior do que aqui nos Alpes, as perspectivas para a Suíça nas primeiras semanas de 2022 não são boas.

Mas uma parte de mim espera que os suíços resistam. Afinal, tem sido muito fácil, nestes últimos dois anos, ridicularizar coisas como apresentações musicais, beber, socializar e esquiar como caprichos frívolos. Mas, se tirarmos tudo isso, o que acaba sobrando?

Voltando para casa com o prelúdio de Natal de Bach soando em meus ouvidos, eu levo um copo de glühwein para o passeio.

Copyright The Financial Times Limited 2021 

Adaptação: Clarice Dominguez

Adaptação: Clarice Dominguez

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