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Um encontro com o “mestre” dos mangás

"Goldorak", o herói indiscutível dos garotos nos anos 1980.

Uma das grandes estrelas presentes no Festival de Cinema de Locarno é Isao Takahata. Autor de clássicos da animação japonesa, como as séries televisivas "Heidi" e "Marco", o diretor é considerado por muitos um grande mestre desse gênero no Japão.

Homenageado com um “Leopardo de honra” pelo conjunto do seu trabalho, Takahata explica também porque seus filmes fazem tanto sucesso no mundo inteiro, inclusive no Brasil.

Quem nunca assistiu a um anime? Para não “iniciados”, trata-se do termo utilizado para denominar de forma geral os desenhos animados produzidos no Japão. Sua mais forte característica são os grandes olhos dos personagens, explicado por alguns especialistas como oriundo da crença japonesa de que “os olhos são a janela da alma”.

Ao contrário dos filmes de Walt Disney, os anime são muitas vezes apenas parcialmente animados. Isso significa que muitas imagens permanecem estáticas, enquanto outras – os lábios ou a íris dos olhos – se movimentam para expressar sentimentos.

Seu aparecimento ocorre nos anos 1970, quando emissoras de televisão públicas e privadas em vários países do mundo compram séries televisivas, entre elas “Speed Racer” (1968), “Heidi” (1974) ou “As aventuras de Pinóquio” (1976), para exibir ao seu público infantil. O que começou como uma solução econômica – o preço delas era praticamente irrisório – se transformou hoje em uma verdadeira febre, cujas influências vão até o cinema em Hollywood.

Os animes são uma derivação do mangá, as histórias em quadrinhos feitas no estilo japonês. Suas raízes vêm do século 8, com o aparecimento dos primeiros rolos de pinturas japonesas, os emakimono. Estes associavam pinturas e textos, que juntos contavam uma história à medida que eram desenrolados. No século XII surgem os primeiros emakimono com estilo japonês.

Depois da Segunda Guerra Mundial, a indústria cultural japonesa estava destruída. A produção de baixos custos dos mangás e anime era a solução ideal para entreter a população. O desenhista Osamu Tezuka, também conhecido como o “deus” do mangá, lançou em 1963 a série de TV “Astro Boy”, um sucesso mundial que serviria posteriormente de modelo para outras produções do estilo.

Homenagem ao mestre

Um dos grandes nomes do anime é Isao Takahata. O artista japonês nascido em 1935 estudou literatura francesa na Universidade de Tóquio e depois na França, o que explica sua grande paixão pelo cinema francês. Junto com Hayao Miyazaki, diretor de A Viagem de Chihiro, ele fundou em 1985 o famoso Estúdio Ghibli. Entre seus trabalhos mais conhecidos destacam-se Tumulo dos pirilampos (1988), Pompoko (1994) e Meus vizinhos, os Yamadas (1999). Porém é, sobretudo, através das suas séries televisivas que Takahata entrou no imaginário coletivo: Heidi (1974), Marco (1976) e Anne…a casa dos pinhões verdes (1979).

Convidado pela organização do Festival Internacional de Cinema de Locarno para participar da mostra especial intitulada “Mangá Impact – o impacto da animação japonesa”, o ponto alto da edição do evento em 2009, Isao Takahata se mostrou um artista tímido. Perguntado por jornalistas sobre o motivo do sucesso do seu trabalho e dos mangás em geral, apesar da grande diferença cultural entre o Japão e outros países e ele foi sucinto. “Talvez pelo caráter único do ser humano. Não sei dizer outra coisa, além disso”.

Ao contar como desenvolveu o personagem “Heidi”, o artista japonês revelou suas fraquezas. “Quando cheguei à Suíça, achava que tudo era bonito e maravilhoso. Fui até Maienfeld (n.r.: o chamado “Vilarejo de Heidi” na Suíça oriental) e vi a cabana do que seria o avô da Heidi. Li as histórias, mas acabei não conhecendo a vida cotidiana da menina. Não tive tempo de fazê-lo. Assim criei muita coisa da minha imaginação”, revelou.

Desenvolvimento

Ao contrário dos desenhos animados ocidentais, os anime e mangás “crescem” com o público. Desde os anos 1980 surgem estilos novos do gênero, como romance, comédia, esporte, horror, ficção científica, fantasia e até pornografia. Os filmes “Akira” (1988) e “Ghost in the Shell” (1995) tiveram impacto na mídia e conquistaram uma legião de fãs. Outras obras como “Nausicaä do Vale do Vento (1984), do escritor e ilustrador Hayao Miyazaki, retrataram temas como o fim do mundo, enquanto “Pom Poko”, de Takahata, é uma pura crítica ecológica.

Atualmente, a indústria dos anime emprega milhares de pessoas no Japão. Seus produtos são distribuídos e exportados como séries de TV, DVD, filmes e até filmes de celular. Segundo o primeiro-ministro Taro Aso – que se autodenomina “otaku”, expressão para denominar os fanáticos de mangá e anime, com uma leitura média de 20 revistas por semana – o potencial do mercado é de 200 a 300 bilhões de dólares.

Em Locarno, na mostra especial organizada em conjunto com o Museu Nacional do Cinema em Turin, 30 longas-metragens e 28 curtas-metragens de anime estarão sendo exibidos até 15 de agosto, o último dia do festival. São obras surgidas desde 1920 até hoje. Seu objetivo é mostrar uma arte hoje é levada a sério. Sua influência é tal que até grandes nomes de Hollywood, como Quentin Tarantino, já se deixaram influenciar, como pode ser visto em “Kill Bill”, filme de quatro horas rodado entre 2003 e 2004.

Alexander Thoele, swissinfo.ch

Nascido em 20 de outubro de 1935, Isao Takahata estudou literatura francesa na Universidade de Tóquio e depois na França.

Grande admirador da poesia de Jacques Prévert, ele também é um apaixonado pelo cinema francês.

Junto a Hayao Miyazaki, diretor de A Viagem de Chihiro, ele fundou em 1985 o famoso Estúdio Ghibli. Foi diretor de um dos melhores animações do estudio Ghibli (ji-bree) como Tumulo dos pirilampos (1988), Pompoko (1994) e Meus vizinhos, os Yamadas (1999). Também é conhecido mundialmente por ter criado as séries de televisivas Heidi (1974), Marco (1976) e Anne…a casa dos pinhões verdes (1979).

O termo “Mangá” vem de dois ideogramas em japonês: “man” significa image e “ga” significa rápido. Hoje em dia é a palavra utilizada para denominar em geral as animações japonesas.

Anime é o nome usado para se referir a qualquer produto de animação (ou “desenhos animados”) produzido no Japão. A palavra anime tem significados diferentes para os japoneses e para os ocidentais. Para os japoneses, anime é tudo o que seja desenho animado, seja ele estrangeiro ou nacional. Para os ocidentais, anime é todo o desenho animado oriundo do Japão.

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