Presidente do México denuncia homem que a assediou sexualmente na rua
O assédio sexual sem precedentes sofrido pela presidente do México, Claudia Sheinbaum, em plena rua expôs a realidade enfrentada diariamente pelas mexicanas e gerou preocupação com o frágil aparato de segurança que permite uma grande proximidade física entre cidadãos e autoridades.
O incidente, registrado em vídeo, ocorreu na terça-feira (4), quando a mandatária se dirigia a pé para um evento público perto do palácio presidencial.
Enquanto Sheinbaum cumprimentava simpatizantes na rua, um homem se aproximou por trás, passou um braço sobre o ombro dela, tocou sua cintura e seu peito com as mãos e tentou beijá-la no pescoço.
“Essa pessoa se aproximou totalmente alcoolizada, não sei se drogada […]. Só depois que vi os vídeos percebi o que realmente aconteceu”, reconheceu a presidenta nesta quarta-feira (5).
Depois de tocá-la, um guarda presidencial afastou o homem, enquanto ela, um tanto confusa, chegou a tirar uma foto com seu agressor.
A Presidência confirmou à AFP que Sheinbaum denunciou o indivíduo por “assédio”, um crime tipificado na capital e em cerca de 20 estados mexicanos que contempla aproximações obscenas, toques, bem como olhares e comentários desrespeitosos, que atentam contra a dignidade e causam sofrimento psicoemocional às vítimas.
Esta figura jurídica representa uma alternativa para punir os agressores e evitar que sejam absolvidos alegando que não existe uma agressão sexual, ao não haver intenção de cópula ou penetração.
“Minha reflexão é: se eu não apresento uma denúncia, em que condição ficam as outras mulheres mexicanas? Se fazem isso com a presidente, o que vai acontecer com todas as mulheres do nosso país?”, acrescentou a mandatária.
– Sem consequências –
Para Verónica Cruz, da organização feminista Las Libres, “essa é a realidade da maioria das mulheres. Todos os dias elas vivem essa situação de assédio, de hostilidade”.
“O problema é o caráter simbólico de ter acontecido até com a presidente da República”, disse à AFP.
Esse agressor “é o símbolo dos homens que assediam nas ruas, que acreditam que podem tocar o corpo das mulheres sem nenhuma repreensão, sem nenhuma sanção, sem nenhuma consequência”, acrescentou, e ressaltou que a maioria das vítimas se sente indefesa após a agressão, sem saber como ou onde denunciar, ou com medo e vergonha de ser revitimizada.
A denúncia da mandatária foi apresentada ao Ministério Público da Cidade do México, um dos distritos do país que criminaliza o assédio sexual.
Sheinbaum assegurou ainda que buscará impulsionar uma lei para que os 32 estados que compõem o México penalizem esse tipo de conduta.
– ‘Perto do povo’ –
Além de provocar condenações em círculos políticos e entre organizações feministas — que exigem pôr fim a décadas de abusos —, a agressão evidenciou o risco que corre a presidente por manter grande proximidade com os cidadãos, que em todos os seus atos públicos podem se aproximar para abraçá-la, beijá-la e tirar selfies.
“É uma estratégia de contato político que sim, prejudica sua segurança”, disse à AFP o analista de segurança David Saucedo.
O perímetro de seguranças mais próximo da mandatária “deveria verificar se as pessoas que se aproximam da presidente não estão em estado inconveniente, não estão armadas”, acrescentou.
Apesar da preocupação, a mandatária descartou reforçar sua segurança.
“Se não houver nenhum risco contra nós, vamos continuar como até agora, temos que estar perto do povo”, afirmou.
No México, há uma percepção negativa em relação a autoridades que utilizam veículos blindados e seguranças, considerados símbolos de prepotência das elites.
No entanto, para o ex-procurador antidrogas Samuel González, esse incidente envia uma mensagem a criminosos e adversários do governo de que a chefe de Estado é “vulnerável”. “É muito preocupante”, disse à AFP.
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